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Uma extravagante pedra no sapato republicano

Ron Paul preocupa vários de seus correligionários no Partido Republicano. Foto: Gage Skidmore/CC By 2.0

Washington, Estados Unidos, 9/1/2012 – Ron Paul, representante no Congresso dos Estados Unidos pelo Estado do Texas, se destaca na campanha interna do opositor Partido Republicano e gera preocupação entre seus correligionários mais conservadores e nacionalistas. Apesar de seu terceiro lugar nas assembleias populares do Estado de Iowa ter decepcionado seus seguidores, este médico de 76 anos ficou apenas três pontos percentuais abaixo de Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts, e de Rick Santorum, ex-senador pela Pennsylvania. Ambos receberam 25% dos votos (mas o primeiro venceu por apenas oito votos de diferença) e Paul teve 22%.

Atores políticos preveem que Romney – que recebeu o apoio do ex-candidato presidencial republicano em 2008, John McCain – será o vencedor das eleições internas em nível nacional e, portanto, aspirante à Presidência do país nas eleições de novembro deste ano. Contudo, o desempenho de Paul e a crescente atenção que recebe nas últimas semanas da mídia sugerem que pode emergir como uma figura com força considerável na convenção geral republicana prevista para o próximo verão no hemisfério norte.

Os neoconservadores temem que até possa representar uma ameaça às esperanças do partido de tirar da Casa Branca Barack Obama, se este decidir disputar a reeleição. Embora Paul tenha ficado em terceiro em Iowa, o mais significativo foi quem votou nele, e é isto que parece preocupar os neoconservadores. Segundo pesquisa feita pelo jornal The New York Times em Iowa, 48% dos jovens de até 29 anos disseram apoiar Paul, contra apenas 13% que disseram apoiar Romney.

Um em cada três eleitores que participaram pela primeira vez das eleições internas declarou apoiar Paul, e 44% dos que se definiram como “independentes” ou “outros” (não republicanos) afirmaram apoiar este candidato, ex-líder do Partido Libertário. Apenas 18% disseram preferir Romney. Os autodefinidos independentes, segundo a maioria das pesquisas, constituem 40% do eleitorado e são considerados cruciais para o resultado das eleições de novembro.

O fato de Paul ter seguidores entre os independentes, os jovens e os que votam pela primeira vez é tema de consideráveis especulações e pesquisa. O candidato tem posições heterodoxas e, em alguns casos, aparentemente contraditórias. Em temas econômicos é um fiel neoliberal. Em seus mais de 20 anos no Congresso, continuamente votou contra toda proposta de aumento do gasto do governo federal, algo que considera a maior ameaça às liberdades individuais. Também propôs em várias ocasiões a eliminação de departamentos de governo, como o de Segurança Social e o Federal Reserve (banco central).

É forte defensor dos “direitos dos Estados”. Acredita que aqueles temas nos quais a Constituição não confere explicitamente a última palavra ao governo federal, como aborto, casamento homossexual e legislação sobre a maconha, devem ficar nas mãos das autoridades estaduais. Coerente com suas posturas liberais, é forte defensor de todos os direitos individuais, mesmo o de portar armas, e se opõe às invasões e aos confiscos sem ordem judicial no contexto da guerra ao terrorismo.

Ao contrário de seus adversários republicanos, condena de forma veemente e repetida a Lei Patriota de 2001, que expandiu os poderes do governo para deter suspeitos de terrorismo, e critica o uso da tortura e o aumento da islamofobia, especialmente entre os membros de seu partido. Entretanto, talvez seja mais conhecido por suas posições anti-intervencionistas e antibélicas (seus críticos dizem que é isolacionista), que lhe permitiram obter apoio na esquerda do espectro político e também a forte oposição dos neoconservadores, dos simpatizantes do direitista governo de Israel e dos “falcões” (ala mais belicista de Washington).

Por exemplo, contrário às resoluções do Congresso que autorizaram a força militar contra Afeganistão, Iraque e Líbia, pediu cortes radicais no orçamento da defesa, a retirada de tropas das bases na Europa, no Japão e na Coreia do Sul, e uma retirada mais rápida do Afeganistão. “Quando vejo um candidato como Ron Paul, cuja política externa é, em todo caso, pior do que a da administração Obama, me causa grande preocupação”, reconheceu, no final do mês passado, o embaixador norte-americano na Organização das Nações Unidas (ONU), John Bolton.

A forte divergência entre Paul e os demais republicanos ficou mais claramente ilustrada nos debates sobre o Irã. Enquanto os outros candidatos acusam o Irã de fabricar armas nucleares e de ser a maior ameaça aos Estados Unidos, e prometem usar a força militar como último recurso para impedir que esse país obtenha uma bomba nuclear, Paul expressa seu ceticismo e se opõe fortemente a uma intervenção. Considera que Washington deve ser capaz de negociar com o Irã, da mesma forma que fez no passado com a União Soviética e a China.

“Pensem em quantas armas atômicas rodeiam o Irã”, disse em agosto durante uma entrevista para a rede de televisão Fox News. “Os chineses estão ali. Os indianos estão ali. Os paquistaneses estão ali. Os israelenses estão ali. Os Estados Unidos estão ali. Todos esses países. Por que não seria natural eles (os iranianos) quererem armas? Em nível internacional, deveria ser dado mais respeito a eles”, afirmou.

Mais recentemente, citou o caso de um avião não tripulado norte-americano derrubado em território iraniano, para questionar tanto seus rivais republicanos quanto os mais belicistas do governante Partido Democrata. “Antes de tudo, por que havia um avião não tripulado voando sobre o Irã?”, perguntou. “Por que temos que bombardear tantos países? Por que temos 900 bases em 130 países diferentes quando estamos em uma total bancarrota? Creio que este objetivo de ter outra guerra em nome da segurança é algo perigoso. O verdadeiro perigo é que exageramos”, afirmou. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe pode ser lido em www.lobelog.com.