Sociedade

Região árabe tem o mais rápido crescimento de HIV/aids no mundo

A epidemia de HIV/aids na região árabe se concentra em populações vulneráveis com maior risco, como os consumidores de drogas injetáveis. Foto: Fahim Siddiqi/IPS
A epidemia de HIV/aids na região árabe se concentra em populações vulneráveis com maior risco, como os consumidores de drogas injetáveis. Foto: Fahim Siddiqi/IPS

 

Beirute, Líbano, 3/9/2014 – As taxas de HIV/aids se estabilizaram ou baixaram em outros lugares, mas a epidemia continua avançando no mundo árabe, agravada por fatores como instabilidade política, conflitos armados, pobreza e falta de informação devido aos tabus sociais.

Segundo um informe do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Onusida), calcula-se que 270 mil pessoas viviam com HIV (vírus causador da aids) na região do Oriente Médio e Norte da África em 2012. “É certo que a região árabe tem uma baixa prevalência da infecção, mas tem a epidemia de crescimento mais rápido no mundo”, afirmou a médica Khadija Moalla, consultora independente sobre direitos humanos, gênero, sociedade civil e HIV/aids.

A Onusida calcula que somente em 2012 foram registrados 31 mil novos casos de HIV e 16.500 mortes derivadas da aids. “As infecções cresceram 74% entre 2001 e 2012, enquanto as mortes relacionadas com a aids quase triplicaram”, segundo Matta Matta, destacado infectologista do Hospital Bellevue, no Líbano. No entanto, ele e Moalla explicaram que os números podem levar a um engano devido ao sub-registro existente e à falta de pesquisas sistemáticas e precisas.

Com exceção da Somália e do Djibuti, a epidemia se concentra geralmente em populações vulneráveis com maior risco, como homens que fazem sexo com homens (HSH), as e os trabalhadores sexuais, e os consumidores de drogas injetáveis.

Na Líbia, por exemplo, 90% dos usuários de drogas injetáveis também vivem com HIV, detalhou Matta. Por outro lado, a maioria dos países árabes não tem programas que permitam a troca de seringas, acrescentou. O contexto jurídico que penaliza este tipo de atividade na maioria dos países árabes dificulta o acesso aos grupos específicos.

Com exceção da Tunísia, que reconhece o trabalho sexual, a lei não protege as trabalhadoras sexuais que operam clandestinamente em outros países e, portanto, não podem obrigar seus clientes a usar proteção, o que ajuda a propagar a doença.

A falta de informação, a ausência de testes voluntários e de educação sexual, os tabus sociais, bem como a pobreza, são alguns dos fatores que impulsionam o HIV na região. “Os governos e as sociedades árabes negam a epidemia, e a falta de testes voluntários significa que, para cada pessoa infectada registrada, temos outras dez que não conhecemos”, destacou Moalla.

As pessoas que vivem com HIV ou que estão em risco sofrem discriminação e são estigmatizadas. “Para mais da metade das pessoas que vivem com HIV no Egito foi negado tratamento nos centros de saúde”, apontou Matta.

Os problemas de segurança imperantes na região agravam este sombrio panorama, já que além de complicarem os programas de prevenção também limitam o acesso ao tratamento e geram deslocamentos e perda de acompanhamento de cada caso, segundo o informe da Onusida.

Por exemplo, a guerra no Iraque, que começou em 2003, destruiu a maior parte dos programas e das instalações do país referentes ao Programa Nacional da Aids. Além disso, o Centro Nacional Contra a Aids, da Líbia, também foi destruído por um incêndio, segundo Moalla.

Além disso, em alguns países os conflitos armados aumentaram significativamente a vulnerabilidade das mulheres. Em 2012, por exemplo, apenas 8% do número estimado de mulheres grávidas que viviam com HIV na região receberam tratamento adequado para prevenir a transmissão de mãe para filho, conforme a Onusida.

No entanto, uns poucos governos têm políticas eficazes de combate à epidemia, e há indícios de que organizações não governamentais começam a abordar o problema com as pessoas que vivem com HIV para lhes dar apoio.

O desempenho “dos países do norte da África e do Líbano, em geral, foi melhor do que de outros, enquanto o dos países do Golfo é o pior”, destacou Moalla. Menos de 20% das pessoas que vivem com o vírus recebem os medicamentos que necessitam na região árabe, acrescentou.

Alguns esforços com o Programa Regional de HIV, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que é pioneiro na reforma jurídica de vários países, e com a redação de uma convenção árabe sobre a proteção dos direitos das pessoas que vivem com HIV, em colaboração com a Liga dos Estados Árabes, ainda não são suficientes.

Para Matta, “a atitude de superioridade moral que toma o mundo árabe diante do assunto HIV não é uma barreira para a epidemia. Os governos da região devem encarar este problema crescente que a instabilidade geral apenas agrava”. Envolverde/IPS