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Rebeldes sírios conseguem reconhecimento internacional

Assim ficou o acesso à sede do Ministério do Interior da Síria, após a explosão de um carro-bomba. Foto: Televisão Estatal da Síria

 

Doha, Catar, 14/12/2012 – Mais de cem países reconheceram a nova coalizão opositora síria, abrindo a porta para maior ajuda às forças que tentam derrubar o presidente Bashar Al Assad, e que poderia chegar ao campo militar. O apoio à Coalizão Nacional Síria, formada no Catar em novembro, ficou expresso em uma conferência internacional de “Amigos do Povo Sírio”, realizada no dia 12, na cidade de Marrakesh, no Marrocos.

Os grupos opositores estiveram sob forte pressão internacional para criarem um âmbito mais organizado e representativo, por meio do qual pudesse ser canalizada a ajuda de terceiros países. A coalizão agradeceu a decisão, mas disse que busca apoio político e financeiro mais tangível e que pretende que os membros do governo de Assad sejam levados perante o Tribunal Penal Internacional, com jurisdição sobre crimes de lesa humanidade.

No ano passado, o reconhecimento internacional à oposição da Líbia significou um enorme impulso para sua luta contra o então líder desse país, Muammar Gadafi, que depois foi referendado por bombardeios aéreos das potências ocidentais. No momento, a intervenção militar não aparece nas cartas que se jogam sobre a Síria, cujo governo ainda goza do apoio de China e Rússia (com poder de veto no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas) e do Irã.

O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, disse que a conferência de Marrakesh representa um “avanço extraordinário”. A União Europeia está renovando seu embargo de armas para a Síria a cada três meses, em lugar de fazê-lo anualmente, para ganhar flexibilidade diante de uma situação muito mutável no terreno, disse Fabius. “Queremos contar com a capacidade de manter ou mudar nossa atitude a este respeito”, acrescentou.

No dia 12, um carro-bomba e outras duas explosões aconteceram na entrada principal do Ministério do Interior da Síria, em Damasco, informou a televisão estatal do país. Mais cedo, o mesmo canal informou que outro carro-bomba havia causado a morte de pelo menos uma pessoa, perto do Palácio da Justiça.

“O fato de a coalizão, que reclama o direito à autodefesa, ser reconhecida por uma centena de países, ontem os Estados Unidos e antes a França, é um ponto muito importante”, destacou Fabius. Os Estados Unidos anunciaram que entregariam US$ 14 milhões em nova ajuda humanitária destinada a “apoio nutricional para a infância, bem como mais suprimentos de emergência médica e de abrigo para famílias necessitadas na Síria”. Segundo comunicado do Departamento de Estado norte-americano, os novos fundos elevam a ajuda humanitária à Síria para US$ 210 milhões.

A declaração final da conferência afirma que Assad perdeu toda legitimidade, mas não chega a pedir sua renúncia, algo que foi feito de forma individual pelos ministros presentes. O texto também alerta contra o uso de armas químicas, “o que daria lugar a uma dura resposta” da comunidade internacional. “De todas as reuniões feitas até agora pelos amigos da Síria, esta será a mais significativa”, disse o secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, na coletiva de imprensa.

Os membros da conferência também anunciaram maior ajuda humanitária, incluindo US$ 100 milhões da Arábia Saudita e um fundo que será administrado por Alemanha e Emirados Árabes Unidos para a reconstrução do país, após a presumível queda de Assad. As potências ocidentais se mostraram reticentes quanto a enviar armas à Síria, em boa parte para não repetir a experiência da Líbia, quando o Ocidente prestou ativo apoio a uma das partes combatentes na guerra civil de um país que depois acabou inundado de grupos armados.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Anders Fogh Rasmussen, declarou, de Bruxelas, que o reconhecimento internacional da oposição síria “é um passo correto para uma solução política”. Em declarações à rede de televisão Al Jazeera, afirmou que, “claramente, não há solução militar para o conflito sírio; é necessária uma solução política. Não temos nenhuma intenção de intervir militarmente”.

O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, disse que o reconhecimento da oposição contradiz acordos internacionais anteriores destinados a iniciar um diálogo que incluísse todas as partes em conflito. Por outro lado, a câmara baixa do parlamento alemão debaterá o envio de mísseis Patriot e de 400 soldados para a fronteira sírio-turca. A Alemanha analisa, a pedido turco, armar essa fronteira para evitar que o conflito sírio avance para países vizinhos. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.