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Que as bombas atômicas morram em Hiroshima

Conferência de Avaliação do Tratado de Não Proliferação Nuclear, realizada em 2010 na Organização das Nações Unidas. Foto: UN Photo/Mark Garten

Nações Unidas, 15/2/2012 – Uma coalizão de ativistas antinucleares e organizações não governamentais lançou uma campanha para que uma cúpula de líderes mundiais exija a total eliminação de uma das armas de destruição em massa mais devastadoras: a bomba atômica. A Soka Gakkai International (SGI), com sede em Tóquio, é uma das principais entidades promotoras desta campanha, e quer que a cúpula aconteça em 2015, em Hiroshima e Nagasaki, por ocasião do 70º aniversário do lançamento das bombas nucleares que praticamente aniquilaram estas cidades japonesas. Nesse ano também acontecerá a próxima conferência de Avaliação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TPN).

Em um plano de paz de 23 páginas intitulado Human Security and Sustainability: Sharing Reverence for the Dignity of Life (Segurança humana e sustentabilidade: compartilhando a reverência pela dignidade da vida), o presidente da SGI, Daisaku Ikeda afirmou: “Em minha proposta para a abolição das armas nucleares, emitida em setembro de 2009, convoquei um movimento que expressará a vontade da população mundial de torná-las ilegais”. Este movimento “estabeleceria e deixaria claro para 2015 as pautas internacionais que servirão como base de uma Convenção sobre Armas Nucleares, que proíba formalmente” este tipo de armamento, acrescenta Ikeda.

O acordo alcançado na Conferência de Avaliação do TNP, realizada em 2010, constitui um começo ideal para este esforço, afirmou, destacando que “devemos começar rapidamente o trabalho de tornar isto legalmente vinculante, sob a forma de um tratado”. A campanha tem forte apoio de várias organizações não governamentais e antinucleares. Entre elas Prefeitos pela Paz, União Interparlamentar e Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares, organizada pela Associação Internacional de Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear.

Jackie Cabasso, diretora-executiva da Western States Legal Foundation, que também apoia a iniciativa, disse à IPS que o chamado de Daisaku Ikeda sobre uma cúpula para a abolição nuclear em 2015 está em linha com um plano da organização Prefeitos pela Paz de realizar uma reunião de alto nível de embaixadores para o desarmamento, funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), parlamentares e representantes de organizações não governamentais.

O plano propõe traçar um mapa do caminho claro que leve a um mundo livre de armas atômicas até 2020. Isto acontecerá em conjunto com a Conferência Geral de Prefeitos pela Paz, em agosto de 2013 na cidade de Hiroshima, contou Cabasso, que também coordena esta organização para a América do Norte. A Campanha Visão 2020 da Prefeitos pela Paz fixou 2015 como ano para a conclusão de uma Convenção sobre Armas Nucleares que leve à sua abolição mundial até 2020, acrescentou. A ideia é que também seja assinada em Hiroshima e Nagasaki.

Uma terceira iniciativa, o Plano de Hiroshima para a Paz Mundial, foi lançada pelo governador dessa cidade, Hidehiko Yuzaki, em outubro do ano passado. O plano, formulado pelo governador e por um grupo de ex-funcionários governamentais e acadêmicos da ONU, dos Estados Unidos, da Austrália e do Japão, propõe que Hiroshima tenha um papel fundamental como centro para a paz mundial. Entre outras coisas, busca apoiar um mapa do caminho para a abolição das armas atômicas e contribuir com a promoção de um processo concreto e sustentável para sua erradicação mediante negociações governamentais.

Desde 1996, a Assembleia Geral da ONU adota resoluções anuais que pedem o começo de negociações de uma Convenção sobre Armas Nucleares. Segundo Ikeda, o apoio a esta resolução continua crescendo: no ano passado a apoiaram 130 Estados-membros, entre eles, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Irã. Em 2008, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, propôs negociações sobre uma convenção ou um marco de instrumentos independentes, que se reforcem mutuamente. E a Conferência de Avaliação do TNP, em 2010, menciona esta proposta no documento final adotado por unanimidade.

Em setembro de 2009, o Conselho de Segurança da ONU realizou uma sessão especial que adotou a Resolução 1887, na qual se compromete a criar as condições necessárias para um mundo sem armas atômicas. A União Interparlamentar, que tem entre seus integrantes Rússia, Grã-Bretanha, França e China, também expressou seu apoio unânime a esta proposta.

Cabasso declarou à IPS que não está claro se estas iniciativas serão unificadas e como, mas disse que, sem dúvida, há impulso para que 2015 seja um ano fundamental para os que promovem a abolição das armas nucleares, com Hiroshima e Nagasaki como pontos focais. Os sobreviventes dos ataques atômicos contra essas duas cidades renovam a urgência em abolir este tipo de armamento após o acidente ocorrido na central nuclear de Fukushima em consequência do terremoto e posterior tsunami de março de 2011. Envolverde/IPS