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Países do Caribe buscam financiamento para energias limpas

Meninos e meninas aprendem sobre energia solar durante uma exibição em Georgetown, Guiana. Foto: Cortesia de CREDP
Meninos e meninas aprendem sobre energia solar durante uma exibição em Georgetown, Guiana. Foto: Cortesia de CREDP

 

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 10/7/2013 – Quando James Husbands, um empresário de 24 anos de Barbados, começou a lidar com a possibilidade de fabricar aquecedores de água solares, na ilha já existia um protótipo projetado e instalado por um sacerdote anglicano que viveu ali no começo da década de 1970. Uma organização não governamental local fez um estudo de mercado para determinar a viabilidade de produzir aquecedores de água solares.

A pesquisa, junto com o fato de o governo de Barbados gravar as importações destes produtos procedentes de uma empresa australiana, convenceu Husbands de que era o momento adequado para entrar nesse setor. O agora diretor-gerente da Solar Dynamics contou à IPS que o apoio governamental no final dos anos 1970 foi crucial para o êxito de seu empreendimento. Atualmente, Barbados tem a quinta maior penetração mundial de aquecedores de água solares para cada mil unidades habitacionais.

Arnaldo Vieira de Carvalho, especialista da Divisão de Energia do Setor de Infraestrutura e Meio Ambiente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), disse à IPS que a América Latina e o Caribe usam energias renováveis em maior proporção do que qualquer outra região, embora boa parte delas seja hidrelétrica e biocombustível. O uso de energia eólica e solar é ínfimo.

O BID e seus sócios patrocinam, desde 2009, uma competição de projetos de energias renováveis e eficiência energética no Caribe, cujos ganhadores recebem até US$ 100 mil em financiamento e apoio técnico. No ano passado selecionaram oito ganhadores. Entre os critérios do concurso Ideias consta que os projetos ganhadores devem favorecer os pobres, a igualdade de gênero e as comunidades indígenas. Um incentivo adicional para acelerar o lento ritmo do desenvolvimento de energias renováveis, embora a região não seja uma fonte importante de emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis, é a onda de devastadores desastres naturais da última década.

Ulric Trotz, subdiretor e assessor científico do Centro de Mudança Climática da Comunidade do Caribe (CCCCC) recordou à IPS, por email, que “eventos meteorológicos extremos (frequentemente associados com a mudança climática) causaram danos significativos na região, como, por exemplo, o furacão Ivan em 2004, que arrasou cerca de 200% do produto interno bruto de Granada”. “De modo semelhante, uma inundação única em cem anos arrasou, em 2005, mais de 60% do produto interno bruto desse país, fazendo com que passasse de uma posição de crescimento positivo para uma de crescimento negativo real”, explicou.

Em razão disso, os governos caribenhos começam a adotar um enfoque mais proativo para promover o desenvolvimento das energias renováveis, estabelecendo uma Unidade de Energia na sede regional da Comunidade do Caribe (Caricom), que trabalha junto com o CCCCC. Trotz afirmou que promover as energias renováveis é importante porque, “ao desviar custos da importação de combustíveis fósseis, os países caribenhos terão recursos adicionais derivados desta economia para destinar à criação de resiliência diante dos impactos da mudança climática e da vulnerabilidade climática”.

A região não está apenas se centrando em passar para energias renováveis, mas na eficiência energética, ressaltou Trotz. “Reunir projetos de energias renováveis de toda a região pode ter um efeito catalisador para incentivar os investimentos, já que isto pode baixar significativamente os custos de transação e tornar mais atraentes os investimentos”, acrescentou. Com exceção de Trinidad e Tobago, que é produtor de petróleo, atualmente o Caribe gasta a cada ano milhares de milhões de dólares na importação de combustíveis fósseis.

Em maio, enquanto visitava este país, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, destacou que é preciso reduzir os custos da energia na região e aumentar o uso de fontes renováveis. “Provavelmente, não haja nenhum grupo de nações melhor situadas para aproveitar as possibilidades das energias renováveis do que aqui, o Caribe”, afirmou Biden. “E nós sabemos que muitas nações caribenhas pagam três vezes mais pela energia do que nós nos Estados Unidos. Estamos trabalhando nisto, com o olhar voltado para o investimento em redes elétricas regionais conectadas para criar economias de escala, e economias de escala em matéria de energias renováveis”, ressaltou.

A região também buscou ajuda de sócios da União Europeia e lançou o Programa Caribenho de Desenvolvimento de Energias Renováveis (CREDP), com o objetivo primordial de fortalecer a capacidade dos países do Caribe para mobilizar os investidores a fim de concretizar a passagem dos investimentos em energia convencional para as renováveis. Segundo Thomas Scheutzlich, assessor principal do CREDP desde 2003, a falta de um contexto político legal habitante e a falta de propostas bem definidas de projetos financiáveis são barreiras importantes para o desenvolvimento de iniciativas de energias renováveis na região.

Scheutzlich tem uma responsabilidade geral na implantação do programa do CREDP em nome da consultoria alemã Projekt-Consult GmbH, encarregada desta tarefa pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). A Alemanha entra com 80% do financiamento do CREDP. Um problema é que muitos bancos da região duvidam da solidez econômica dos empreendimentos em matéria de energias renováveis, e não são capazes de avaliar os riscos inerentes a essas novas tecnologias, pontuou o assessor.

A falta de garantias governamentais também faz com que bancos tradicionais sejam reticentes em apoiar esses projetos. Porém, bancos regionais e internacionais, com BID, Banco Europeu de Investimentos e Banco de Desenvolvimento do Caribe, “buscam projetos energéticos financiáveis e oferecem financiamento”, apontou Scheutzlich. “Ainda há uma falta generalizada de compreensão do potencial das fontes autóctones de energia e da eficiência energética em toda a sociedade. Assim, os governos não podem promover o que não entendem, e as empresas de serviço público não promovem o que elas mesmas não estão produzindo”, ressaltou.

As empresas de serviço público na região geralmente têm o monopólio universal sobre geração, transmissão, distribuição e venda de eletricidade. Segundo Scheutzlich, “este é seu modelo empresarial tradicional e só se desviará desse modelo se para elas for economicamente atraente”. No entanto, apesar do ritmo lento com que ocorrem as mudanças no Caribe, nos últimos anos a paisagem energética foi alvo de uma virada positiva, em que “os processos de mudança foram acelerados e ganharam certo dinamismo, e isto é exatamente o que o CREDP quer disparar”, concluiu. Envolverde/IPS