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Os mangues poderiam salvar a Guiana da invasão do mar

Os tubos geotêxteis ajudam na regeneração natural dos mangues. O tubo biodegradável cheio de areia e água é usado para formar uma barreira, e depois é plantada erva spartina na área. Foto: Desmond Brown/IPS
Os tubos geotêxteis ajudam na regeneração natural dos mangues. O tubo biodegradável cheio de areia e água é usado para formar uma barreira, e depois é plantada erva spartina na área. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Georgetown, Guiana, 15/5/2014 – A agricultura sempre teve um papel primordial no desenvolvimento socioeconômico da Guiana, um dos dois Estados membros da Comunidade do Caribe (Caricom) situados na América do Sul, junto com o Suriname. Mais de 20% do produto interno bruto (PIB) do país, que se caracteriza por sua segurança alimentar, tem origem na agricultura. Os produtos agrícolas representam mais de 40% de sua carteira de exportações. Para o bloco regional de 15 membros, a Guiana, com estimados 3,3 milhões de hectares de terras férteis, sempre teve um papel vital na segurança alimentar do Caribe.

No entanto, o diretor-executivo do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola e Extensão (Narei), Oudho Homenauth, alerta que a mudança climática está roubando desse país suas melhores terras para plantio.“Vemos aumento das chuvas, marés mais altas e em maior quantidade”, disse à IPS, acrescentando que isso tem consequências para as terras agrícolas, particularmente ao longo dos 459 quilômetros de costa oceânica. “A água do mar, como se sabe, é uma solução salina, e uma vez que chega à terra é muito difícil que essa terra se recupere para a produção de cultivos porque não há nada que possamos fazer para corrigir a salinidade do solo”, apontou.
“Houve um claro interesse das duas partes para chegar a uma rápida compreensão comum sobre as bases dessa negociação”, disse à imprensa o negociador da UE, Christian Leffler. Um comunicado cubano afirmou que os intercâmbios se desenvolveram de maneira “construtiva e positiva” e continuarão em Bruxelas. O interesse da UE apoia as transformações que Cuba iniciou em 2008 e que, para os europeus, são mais amplas do que as determinadas na reforma econômica.

“Vai ser preciso abandonar essa terra por um período até que a salinidade tenha baixado”, opinou Homenauth. Na medida em que as autoridades atuam para proteger as terras férteis e também sua população, a maioria da qual vive ao longo do litoral, a Guiana reconhece a importância dos mangues, especialmente para as zonas costeiras, pontuou. O país desenvolve intensa campanha de proteção e recuperação de seus mangues costeiros, acrescentou.

Aproximadamente 90% dos 685 mil habitantes vivem em uma estreita faixa do litoral que se encontra entre 50 centímetros e um metro abaixo do nível do mar. Esse cinturão costeiro está protegido por barreiras quebra-ondas que existem desde a ocupação holandesa, no século 17. Porém, nos últimos tempos fortes tempestades derrubaram essas defesas, o que provocou graves inundações, um perigo que os cientistas preveem que poderá ser mais frequente no futuro.

“Todo mundo sabe do famoso malecón da Guiana, que é uma estrutura cara de se manter e de se continuar construindo, sobretudo na medida em que sobe o nível do mar”, afirmou à IPS o ministro da Agricultura, Leslie Ramsammy. A manutenção da muralha tem um custo enorme para a Guiana, que gasta em média US$ 3 bilhões por ano para manter e reforçar as defesas.

A Guiana gasta, em média, US$ 3 bilhões ao ano para manter e reforçar a proteção de seu litoral. Foto: Desmond Brown/IPS
A Guiana gasta, em média, US$ 3 bilhões ao ano para manter e reforçar a proteção de seu litoral. Foto: Desmond Brown/IPS

 

“Para garantir que o malecón e os diques nos deixem menos vulneráveis diante dos embates do oceano, temos protegido e promovido o cultivo dos mangues e de outras estruturas, tais como os tubos geotêxteis para reduzir o impacto das ondas”, explicou Ramsammy. “Cultivamos bambu ao longo dos muros de contenção para reduzir o impacto das ondas. Dessa forma estão sendo testadas várias estruturas diferentes, mas os mangues representam uma resposta importante do governo da Guiana em apoio ao malecón”, ressaltou o ministro.

Atualmente o país conta com 80 mil hectares de mangues. Nos últimos três ou quatro anos se “acelerou o cultivo” desses arbustos, muitos dos quais estavam perdidos há 20 ou 30 anos, disse Ramsammy. “Perdemos alguns de nossos mangues e agora os estamos recuperando. Mas também os estamos cultivando em lugares que nunca estiveram, porque com a água e o movimento para a margem, o cultivo é muito difícil”, destacou.

Como resultado, a Guiana realiza pesquisas para determinar a melhor tecnologia que permita ter sucesso. “O mangue deve crescer até certo ponto antes que possa resistir à água, por isso testamos com diferentes ervas para conseguir que o solo fique firme, e estamos tendo êxito”, pontuou o ministro.

Aos técnicos ocorreu a ideia de construir tubos geotêxteis para ajudar na regeneração natural. Utiliza-se um tubo biodegradável cheio de areia e água para formar uma barreira, de tal forma que, quando a maré está alta, a água turva pode entrar na área e o sedimento que ficar ajuda a acumular solo até o nível necessário. Depois se planta erva spartina na área. Os técnicos descobriram que as sementes do mangue ficam presas na erva, e posteriormente germinam.

Ramsammy acredita que a população deveria se orgulhar de ser, talvez, o país mais consciente do mundo no tocante à mudança climática e ao aquecimento global. “Não posso dizer que nosso povo conheça todos os detalhes, toda a ciência, mas esse não é o ponto”, argumentou. Segundo o ministro, “se conseguirmos que se conscientizem da ciência, muito bem, mas são muito conscientes da mudança climática como um fenômeno, do que pode nos fazer e, portanto, estão se transformando em parte da revolução da mudança climática”, acrescentou à IPS.

Nenhum país é pequeno demais para fazer algo com relação à mudança climática. De fato, há coisas que todos os cidadãos do mundo podem fazer, ressaltou Ramsammy, “Alguns dizem ‘sou pobre e não sou um cientista e nada posso fazer’. Na verdade, podemos fazer muito como países pequenos, inclusive na redução das emissões”, afirmou.

“Em Antiga, e inclusive na Guiana, temos hotéis. Se esses passassem do uso de combustíveis fósseis para os de biodigestores, e utilizassem os dejetos para gerar energia, poderíamos fazer uma grande diferença nas emissões e talvez no ambiente mundial”, afirmou o ministro. “É um grão de areia, mas ao menos se cria um caminho para que todos os cidadãos desempenhem um papel, e creio que devemos adotar esse tipo de enfoque. Que todos nós como cidadãos podemos fazer algo”, salientou Ramsammy. Envolverde/IPS