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Organizações de mulheres lamentam resultado eleitoral no Japão

“O triunfo eleitoral do PLD é um retrocesso para os direitos das mulheres e o emprego feminino”, segundo Chizu Arashima. Foto: All Obachan Party

 

Tóquio, Japão, 20/12/2012 – O regresso ao governo do Japão do conservador Partido Liberal Democrático (PLD), de linha dura, indica que a sociedade adiou as urgentes e necessárias reformas sociais e ambientais para seguir atrás de uma liderança masculina tradicional, afirmam analistas locais.

As organizações feministas e de jovens que defendem melhor proteção ambiental, igualdade profissional e paz regional se sentem frustradas com o resultado das eleições do dia 16 e lamentam que o PLD não tenha apresentado propostas para atender os problemas mais graves do Japão.

Há três anos os japoneses tiraram o PLD do poder e deram uma Oportunidade do Partido Democrático do Japão (PDJ). Mas este ano a moeda caiu do lado mais conservador. “É a hora de o PLD para resolver os problemas nacionais. O governo que sai foi um desastre”, disse à IPS Keitaron Noguchi, de 30 anos, fazendo uma síntese do clima pós-eleitoral que vive o país.

O presidente do PLD, Shinzo Abe, cuja breve experiência como primeiro-ministro acabou de forma abrupta em 2007, assume novamente as rédeas do país. político conservador, Abe reuniu adeptos com a promessa de dar início a um Japão com maior poderio militar, no contexto de uma disputa territorial com os chineses por um grupo de ilhas no mar da China oriental, e de reavivar a economia mediante grandes obras públicas para criar postos de trabalho.

O PLD também deverá enfrentar o enorme desafio que representa o baixo crescimento, menos de 2% nas duas últimas décadas, segundo o Escritório do Gabinete. Além disso, precisará reduzir a crescente dívida pública e atender as reclamações por assistência social de jovens desempregados, bem com o rápido envelhecimento da população.

Estes dois assuntos quase certamente concentrarão a atenção dos dirigentes políticos, o que preocupa ativista. Eles temem que o próximo governo esqueça outros dois temas importantes: a política nuclear do país após a catástrofe de Fukushima, depois do terremoto e tsunami de março de 2011, e a estabilidade trabalhista de jovens e mulheres, dois setores com empregos muito mal remunerados e de meio período.

“O PLD, definitivamente, dará as costas às políticas do governo de centro-esquerda do PDJ, que se propôs acabar com a dependência nuclear do Japão até 2030”, disse Koichi Nakano, especialista político da Universidade de Sophia, em Tóquio. Em declarações à imprensa estrangeira, Nakano explicou que as companhias de em energia, que colocaram a alternativa nuclear na agenda de desenvolvimento, apoiaram o PLD.

“O movimento verde do Japão, que promove energias limpas em substituição à nuclear, não teve êxito”, disse Nakano. “Um regime mais conservador que controla a grande maioria da ‘dieta’ (parlamento bicameral) estigmatizará os manifestantes contra a energia nuclear rotulando-os de radicais perigosos. Vejo que há mais detenções de ativistas”, acrescentou, referindo-se à prisão de 16 pessoas no dia 16 de setembro em uma grande manifestação contra a energia atômica.

O resultado das eleições foi decepcionante para as organizações de mulheres que defendem melhor tratamento para as trabalhadoras, que atualmente representam 80% dos empregados em tempo parcial ou por contrato, cuidados infantis e bem-estar da terceira idade.

A professora Chizu Arashima, da Universidade de Kobe Gakuin, disse que a vitória do PLD é um retrocesso para os direitos das mulheres e o emprego feminino. “Como mãe de três filhos me preparo para o retorno dos velhos valores familiares do PLD que promovem a divisão de gênero, fazendo com que as mulheres fiquem em casa, tenham filhos e dependam dos homens”, afirmou.

Arashima integra o Partido Todo Japão Obachan, uma organização feminina de Osaka (segunda maior cidade do país) com três meses de vida. o grupo ficou conhecido por ajudar a difundir a opinião das mulheres sobre políticas nacionais e reduzir a brecha de gênero no campo político.

“Obachan” é um termo japonês que significa mulheres de meia idade, o que gera a imagem daquelas que estão dispostas a desafiar os homens. Kyoko Tada, especialista legal e fundadora da organização, disse à IPS que o nome foi escolhido propositalmente para chamar a atenção para um setor da população decidido a derrubar a política tradicional dominada por homens.

A organização já tem mais de mil membros em todo o país, e reúne apoio por suas posturas alternativas, como sua posição contra a guerra, a favor de uma comunidade forte, contra a energia nuclear e a favor do uso da arrecadação de impostos na assistência social e não para programas de obras públicas, afirmou Tada.

A organização deve enfrentar vários obstáculos para superar a disparidade de gênero no âmbito político. Apenas 38 mulheres, entre 225 candidatas, conseguiram uma cadeira no parlamento nestas eleições, um grande retrocesso em relação às 54 eleitas em 2009. O Japão figurou em 110º lugar no último informe sobre brecha de gênero do Fórum Econômico Mundial, que classifica os países segundo sua situação em matéria de igualdade na representação política.

Arashima explicou que o resultado destas eleições prova que as mulheres foram enganadas com a esperança de que o PLD melhoraria a situação econômica e garantiria a estabilidade dos salários. “A falta de debate público para destacar as opiniões para as mulheres é uma lição fundamental para as organizações. Estamos decididas a enfrentar estes assuntos”, ressaltou. Envolverde/IPS