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ONU se volta para a situação dos jovens

A sudanesa Yusra Suleiman al toum Ahmed, de 16 anos, quer ser jornalista. Foto: Albert Gonzalez Farran

Nova York, Estados Unidos, 27/4/2012 – A Organização das Nações Unidas (ONU), sempre concentrada nos diferentes conflitos bélicos do planeta, agora volta sua atenção também para temas socioeconômicos importantes, como a situação dos jovens, a pobreza, os abusos sexuais, a mutilação genital feminina e a saúde reprodutiva. “Esta geração de jovens é a maior da história”, destacou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao participar da reunião da Comissão de População e Desenvolvimento (CPD), que termina hoje em Nova York.

“E ainda mais importante é que esta geração de jovens está fazendo história”, destacou o secretário-geral referindo-se ao papel da juventude nos levantes populares da Primavera Árabe. O tema do encontro da CPD é “A experiência nacional em assuntos de população: adolescentes e jovens”.

Dos mais de sete bilhões de habitantes do planeta, cerca de 1,2 bilhão são adolescentes e jovens menores de 20 anos, segundo a ONU. E, destes, aproximadamente 300 milhões vivem na “pobreza absoluta”, lamentou o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Babatunde Osotimehin. O funcionário expressou sua preocupação particular pela situação das adolescentes, e afirmou que a maior causa de morte entre elas são as complicações durante a gravidez e no parto. “Precisam de nossa proteção e nossa ajuda”, pontuou aos delegados.

Osotimehin explicou que sua agência aproveita o poder da tecnologia, usando telefone celular para ajudar as parteiras, por exemplo. Também emprega o programa Skype, de comunicação de voz e imagem pela internet. Os jovens “do doutro lado da brecha digital” são alcançados por meio das redes sociais, Facebook e Twitter, ressaltou. Segundo Osotimehin, “esses esforços são essenciais para a saúde sexual reprodutiva dos jovens, pois a conscientização pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, destacou.

O secretário-geral da ONU informou que até 60% dos ataques sexuais no mundo são cometidos contra meninas menores de 16 anos, e que a cada ano mais de três milhões de meninas em todo o mundo correm o risco de sofrer mutilação genital. “Anualmente, 16 milhões de adolescentes se convertem em mães, e a cada dia mais de duas mil jovens contraem o HIV, vírus causador da aids”, afirmou Ban.

Mais de cem milhões de adolescentes não vão à escola e mais de 75 milhões de jovens estão desempregados. “Temos a responsabilidade coletiva de reduzir esses números”, ressaltou o secretário-geral das Nações Unidas. Dirigindo-se às delegações de jovens que participam do encontro, Ban afirmou: “Bem-vindos. Vocês são as Nações Unidas”.

Por outro lado, representantes dos 13 membros da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) destacaram que estão comprometidos com a implantação da campanha Década para o Poder dos Jovens e o Desenvolvimento Sustentável 2009-2019. A SADC é integrada por Lesoto, Malawi, Mauricio, Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Seychelles, África do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue.

Por sua vez, o presidente da Junta Nacional de População e Planejamento Familiar da Indonésia, Sugiri Syarief, afirmou que é crucial os Estados-membros da ONU discutirem vias efetivas para enfrentar os problemas dos jovens, e destacou que desde 2005 seu país destinou 20% do orçamento anual ao ensino, e anunciou que o governo indonésio prepara um plano para garantir que cada cidadão tenha 12 anos de educação obrigatória.

A ilha de Bali, na Indonésia será sede do próximo Fórum Internacional da Juventude. Ao falar no mês passado em um encontro na Universidade de Colúmbia, em Nova York, Ban destacou o crescente poder que representam os jovens do mundo, em uma era de veloz avanço tecnológico e na qual a informação circula cada vez mais rápido. “Para liberar o poder dos jovens devemos nos associar a eles. Isto é o que a ONU tenta fazer”, enfatizou ao informar sua decisão de criar o cargo de assessor especial sobre juventude dentro das Nações Unidas.

Ban também afirmou que a ONU desenvolve um plano de ação para os próximos anos. “Queremos trabalhar com os jovens nos grandes temas que os afetam, como desemprego, inclusão política, direitos humanos e saúde sexual”, indicou. “Digo isto porque, quando falamos sobre jovens, temos que ver além da demografia para entender o motivo de serem tão poderosos. Os jovens, em geral, são os primeiros a se colocar contra a injustiça. A juventude é um tempo de idealismo. Os jovens são uma força de transformação”, acrescentou. O secretário-geral também destacou que os jovens utilizam as redes sociais na internet para mudar drasticamente a dinâmica do poder, organizando protestos, denunciando abusos dos direitos humanos e lutando contra a opressão. Envolverde/IPS