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ONU alerta sobre nova crise humanitária na Somália

Mãe e filha sobrevivem à perigosa viagem do sul da Somália até um acampamento em Mogadíscio. Foto: Abdurrahman Warsameh/IPS

 

Nairóbi, Quênia, 19/7/2012 – A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu esforços sustentados na Somália para impedir que este país, açoitado pela guerra, sofra outra crise humanitária. Mais de três milhões de somalianos precisam de urgente ajuda alimentar. A ONU disse que, apesar de a situação no Chifre da África ter melhorado muito nos últimos meses, milhões continuam ameaçados pela aguda escassez de alimentos, incapazes de atender suas necessidades básicas.

Isto se agrava pela insegurança e pela escassez de chuvas, segundo as Nações Unidas, alertando que, se as agências não redobrarem seus esforços, haverá uma nova catástrofe humanitária. “Embora já não existam as condições de fome extrema, não devemos nos enganar. Sua ausência não significa que a população não esteja em crise”, disse Mark Bowden, coordenador humanitário da ONU para a Somália.

“Hoje, 2,51 milhões de pessoas ainda necessitam de ajuda urgente, e outros 1,29 milhões também podem cair na crise se não houver uma assistência sustentada”, destacou Bowden, que falou em Nairóbi na véspera de a ONU anunciar oficialmente, hoje, seu pedido de doações no valor de US$ 1,16 bilhão para a Somália. Bowden enfatizou que os esforços devem ser sustentados para consolidar o que já foi alcançado até agora.

Segundo a ONU, nos 90 dias transcorridos desde a declaração de fome nesse país, em 20 de julho do ano passado, o número de somalianos beneficiados com ajuda triplicou, chegando a 2,6 milhões, enquanto centenas de milhares de crianças desnutridas receberam complementos alimentícios. “As campanhas maciças de vacinação reduziram em quase 50% os casos de sarampo. Até novembro, 500 mil pessoas nas zonas afetadas de Bay, Bakool e Baixa Shabelle foram retiradas da condição de fome extrema”, informou Bowden.

“A situação continuou melhorando, em grande parte devido ao efetivo envio de ajuda sob circunstâncias extremamente difíceis e graças a uma excepcional colheita no começo do ano”, acrescentou Bowden. “Precisamos terminar o trabalho, que começamos quando anunciamos a situação de fome no ano passado, e agora agimos para consolidar o que foi conseguido e romper o ciclo de crises recorrentes. Para isto, devemos garantir a subsistência das pessoas”, pontuou. E acrescentou que metade da quantia necessária já foi obtida, insistindo que o restante é vital para ajudar 3,8 milhões de somalianos até o final deste ano.

Os trabalhadores “humanitários necessitam desses fundos para dar uma urgente assistência aos mais vulneráveis, além de dar à Somália a capacidade de enfrentar futuras secas e outros impactos”, afirmou Bowden. Amanhã completará um ano desde que foi decretada a situação de fome. A seca prevalece em todo o Chifre da África e é considerada uma das piores dos últimos 60 anos, e o problema foi agravado pelos altos preços dos alimentos e pela instabilidade da região.

O secretário permanente do Ministério da Agricultura do Quênia, Romano Kiome, disse que a situação alimentar no Chifre da África continua precária. “A situação na maior parte desse país é similarmente desfavorável devido às poucas chuvas. O governo foi obrigado a elaborar uma estratégia para distribuir comida. Temos um considerável número de regiões onde há grande escassez”, declarou à IPS.

Kiome destacou que o conflito na Somália agrava a situação. “A segurança na Somália ainda é uma grande preocupação, e nós apoiamos o chamado da ONU para sustentar no longo prazo as atividades humanitárias nesse país”, afirmou. O Quênia, apoiado pelas forças da União Africana, trava uma guerra contra o grupo islâmico Al Shabaab na Somália, onde o conflito dura mais de 20 anos.

A maioria dos somalianos ainda vive em acampamentos para refugiados e seguem dependentes da ajuda das agências internacionais. Muitos não podem regressar às suas aldeias e preferem permanecer nos acampamentos, onde recebem atenção médica e comida. Bowden alertou que em algumas partes da Somália a situação alimentar se deteriorará devido às escassas chuvas entre abril e junho, que além de chegarem atrasadas caíram de forma desigual no território. “Não esperamos que o sul da Somália caia em uma fome extrema nos próximos meses. Mas isso, de modo algum, deve reduzir a urgência”, ressaltou.

Bowden observou que ao fornecer sustento aos somalianos, as agências de ajuda podem tomar medidas para impedir que futuras secas derivem em crises humanitárias. “Precisamos ajudar 2,51 milhões de pessoas para que cubram suas necessidades básicas, como água potável, saneamento e atenção médica. Devemos garantir um sustento às pessoas que ficaram com poucos ou nenhum recurso depois da seca e do conflito”, concluiu. Envolverde/IPS