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O mundo está levemente mais pacífico, apesar dos Estados Unidos

Washington, Estados Unidos, 20/6/2012 – Revertendo uma tendência que durava dois anos, o mundo ficou levemente mais pacífico em 2011, segundo o último Índice de Paz Global. Entretanto, os Estados Unidos caíram sete posições, ficando em 88º lugar entre os 158 países estudados, “uma colocação bem baixa, que em grande parte reflete os níveis mais altos de militarização e de participação em conflitos externos”, afirma o documento, conhecido como GPI. Embora o gasto militar de Washington “tenha caído drasticamente” entre 1991 e 2000, “agora voltou aos níveis da Guerra Fria”, afirma o estudo.

Uma das conclusões mais preocupantes do estudo, elaborado pelo Instituto para a Economia e a Paz, com sede em Washington, em colaboração com a Unidade de Inteligência Econômica, é que o maior gasto militar (calculado como porcentagem do produto interno bruto) tem correlação com menores níveis de paz. O GPI, que estuda 23 indicadores em 158 países, encontrou “melhorias nas pontuações gerais em todas as regiões”, menos no Oriente Médio e no norte da África. Devido ao impacto da Primavera Árabe, pela primeira vez a África subsaariana não foi a região menos pacífica do mundo.

Na verdade, os cinco países que experimentaram as maiores reduções na lista foram afetados pela Primavera Árabe. A Síria foi o que sofreu maior deterioração de seu nível de paz, caindo 31 posições para ficar no 147º posto. A Somália foi novamente o país menos pacífico, enquanto a Islândia outra vez se destacou como o mais pacífico, em uma tendência que já dura dois anos.

O informe ajuda a definir exatamente o que é a paz, disse durante a apresentação do documento, em Washington, Anne-Marie Slaughter, ex-funcionária do Departamento de Estado norte-americano. “O índice vai além de calcular a ausência de conflito, além da ausência de instabilidade. Por outro lado, a definição usada aqui é a ausência de medo e de violência”, afirmou.

Pela primeira vez, este ano o GPI incluiu um novo ranking, o Índice de Paz Positiva. Com base nos primeiros seis anos de experiência do informe, o novo índice se concentra em fatores que contribuem para a capacidade dos países de manterem uma sociedade pacífica. “Isto inclui o trabalho positivo para melhorar a qualidade de vida, não apenas de evitar o ruim”, destacou Slaughter.

Os oito fatores que compõem o Índice de Paz Positiva – entre eles a educação, a baixa corrupção, o bom funcionamento do governo e a distribuição equitativa dos recursos – são considerados um verdadeiro mapa pelo diretor de políticas do Instituto para Economia e Paz, Michael Shank.

Segundo os pesquisadores do informe, “a necessidade de aprofundar o entendimento de como construímos a paz foi realçada pelas últimas experiências de desenvolvimento institucional no Iraque e no Afeganistão”. O principal ator nas duas experiências, os Estados Unidos, demonstraram incapacidade para se envolver adequadamente e criar sociedades pacíficas, afirmam.

Depois de quase uma década de esforços liderados por Washington, Afeganistão e Iraque “ainda estão paralisados no fundo do GPI”. Segundo a jornalista Emily Cadei, que cobre o Congresso norte-americano e falou na apresentação do documento, a participação dos Estados Unidos no exterior foi pobre nos últimos dois anos. Nos últimos seis anos, os pesquisadores do GPI registraram uma queda nos conflitos externos e entre Estados, e um aumento da violência interna. Além disso, o GPI indica uma crescente militarização correlacionada com menores níveis de paz.

“O fato de os conflitos internos crescerem é uma má notícia, porque os Estados Unidos não estão preparados para enfrentar essas formas de violência. O governo de Barack Obama ainda não tem um consenso sobre como fazer isso”, indicou Cadei. A jornalista acrescentou que, “além disso, o fato de a militarização estar negativamente correlacionada com a paz ainda não foi assumido nos Estados Unidos. A visão predominante no governo é que a paz vem por meio da força. No Congresso, a assistência internacional sempre está atada à segurança”, acrescentou.

Por sua vez, Lawrence Wilkerson, ex-coronel do exército norte-americano e professor de políticas públicas e governo, disse que essa mentalidade datava da Guerra Fria e que não havia conseguido se transformar desde o fim da União Soviética, em 1991. “O novo índice mostra que os Estados Unidos precisam ser mais cautelosos no que tenta fazer em outros países. Durante 50 anos demonstramos sermos muito maus na construção da paz”, ressaltou. Envolverde/IPS