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O Caribe se dispõe a abandonar a costa

Hotel em Antiga e Barbuda. Os maiores hotéis dos centros turísticos do Caribe estão construídos na costa. Foto: Desmond Brown/IPS

Basseterre, São Cristovão e Neves, 22/10/2012 – Os cartões postais promovem areia, mar e sol. Contudo, os principais atores do setor turístico de São Cristovão e Neves acreditam que é hora de deixar a faixa costeira e impulsionar os atrativos que existem no interior desta ilha caribenha, como sua rica biodiversidade. “A mudança climática afeta a indústria hoteleira, e o fato de a maioria de nossos alojamentos turísticos estarem diretamente sobre as praias os deixa expostos a tempestades violentas, cuja frequência aumentará, segundo as previsões”, destacou à IPS o empresário Valmiki Kempadoo.

“Fora de Trinidad e Tobago, e talvez de um grande país como a Jamaica, o turismo é de longe o motor da economia destas pequenas ilhas caribenhas, e temos que buscar novas soluções e novos modelos empresariais que possam impulsionar tudo isto no Século 21”, afirmou o empresário. Kempadoo pede urgência às suas contrapartes regionais para mudar suas propriedades para longe das praias, pois à luz das consequências da mudança climática “ter um hotel a 150 ou 300 metros de altitude pode ajudar”. Embora o Caribe seja muito famoso por suas praias, as ilhas também têm outros atrativos para oferecer, acrescentou.

“O clima longe da praia é muito melhor. É um incrível lugar fértil, onde se pode cultivar as estupendas frutas e verduras tropicais de primeira categoria que temos”, ressaltou Kempadoo, acrescentando que “podemos oferecer belas caminhadas, admiráveis paisagens e maravilhosas experiências sem a enorme umidade e as outras coisas que um hotel à beira mar significa”. O ministro do Turismo de Dominica, Ian Douglas, conhece perfeitamente bem os efeitos devastadores da mudança climática sobre as economias dependentes desta atividade, como o são os países insulares do Caribe.

De fato, Douglas disse à IPS que talvez Dominica seja uma das ilhas mais prejudicadas pelo fenômeno. “As ilhas sofrem furacões todos os anos e isto lhes custa milhões de dólares, a ponto de os governos serem obrigados a buscar algum fundo de redução de riscos de desastres para mitigar os danos”, afirmou Douglas. “Pelo menos uma das ilhas sofre algum episódio todos os anos, e Dominica não é a exceção. Na verdade, vemos um novo fenômeno no país, as grandes inundações, algo desconhecido até agora. As do ano passado causaram danos consideráveis”, pontuou.

Douglas recordou que Dominica, por ter a maioria dos hotéis na costa oeste, às margens o Mar do Caribe, “todos os anos sofre o impacto” de algum episódio climático. Esse país agora tem que lidar com o aumento do nível do mar, mas também com as graves inundações, consequência de 365 cursos de água. “Temos uns três rios entre Canefield e Layou que transbordaram, e foi preciso evacuar as pessoas. Os rios transbordaram e as pontes e casas ficaram destruídas, o que obrigou o governo a dar dinheiro às famílias para obras de curto prazo”, detalhou Douglas.

“Conto tudo isto para explicar o quanto a mudança climática continua afetando Dominica. É um assunto com o qual continuamos lidando. De fato, contamos com um departamento criado especificamente para atender os obstáculos que a mudança climática representa”, acrescentou. Sam Raphael, proprietário do hotel Jungle Bay, sorri quando ouve a sugestão de Kempadoo. Quando construiu seu centro turístico na selva, há vários anos, “não se sabia que seria obrigatório fazer algumas mudanças radicais e melhorias em nossa indústria turística se tínhamos intenções de sobreviver”, recordou.

“Há alguns anos nossa indústria aceitou uma falsa escolha entre desenvolvimento empresarial e proteção de nosso frágil ambiente natural. Potencializar e capacitar nossa população para ser o motor da principal indústria da região, nosso pão de cada dia, não era uma prioridade”, ressaltou Raphael. Encravado na selva da costa oriental de Dominica, o hotel Jungle Bay é especializado em atividades ao ar livre.

Granada também avança para uma maior sustentabilidade, enquanto o ministro do Turismo, George Vincent, destaca a importância do setor energético. “Trabalhamos com a companhia de eletricidade para produzir energia eólica. Incentivamos os hotéis a utilizarem a alternativa solar para diminuir os custos com combustível. Caminhamos para o turismo sustentável”, afirma.

“Digo às pessoas que, há muito tempo, as tecnologias de informação e os idiomas eram importantes. Agora, são plataformas sobre as quais construir. Por isso construímos uma sustentável. Tudo deve ser sustentável, verde e respeitar o meio ambiente. Então, temos a energia, a conservação, a selva, bem como alguns parques marinhos bem conservados”, explicou Vincent. “Estamos fazendo bem as coisas em matéria de conservação. Agora vamos colocar em uso e fazê-la trabalhar para nós. Nos parece que Granada se beneficia muito com a preservação e a conservação”, disse o ministro, que assumiu o cargo em maio deste ano.

O secretário-geral da Organização Caribenha de Turismo, Hugh Riley, afirmou que esta região sofre uma das piores situações econômicas desde a crise de 1929. Riley falou aos delegados que participaram da Conferência sobre o Estado da Indústria, em São Cristovão e Neves, entre os dias 10 e 12 deste mês. “Temos que determinar o que economias pequenas e vulneráveis dependentes do turismo precisam para competir com efetividade em uma área cheia de grandes países industrializados com orçamentos muito maiores e com o poder de apoiar leis que nos discriminam, impactam sobre nossa posição competitiva e inclinam mais a balança de poder para os já poderosos”, ressaltou Riley.

“O bom é que no Caribe temos algumas cartas para jogar. Neste conjunto de pequenas populações, somos bastante ousados para nos reunir e decidir que podemos nos agrupar como Um Caribe, recrutar algumas mentes brilhantes do setor, eleger autoridades e ideias e transformá-las em ações que nos permitam ganhar neste campo”, enfatizou Riley. Envolverde/IPS