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Novo contrato social e pressão da sociedade para promover mudanças

Gro Brundtland e Ignacy Sachs.

Rio de Janeiro, Brasil, 17/6/2012 (TerraViva) – O professor Ignacy Sachs, do Centro de Pesquisa sobre o Brasil contemporâneo, da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, da França, citou Jean-Jacques Rousseau para resumir suas expectativas em relação à Rio+20. Para Sachs, se poderia aproveitar a celebração dos 300 anos do nascimento de Rousseau para firmar um novo contrato social, como propôs o suíço Rousseau em sua obra mais famosa: “Por que não colocar essa questão no centro do debate, com a volta de um planejamento a longo prazo, entre os diversos atores?” Um novo contrato social em nível de cada país e, depois – por que não? – entre todos eles.

A proposta de Sachs foi acolhida por Rubens Ricupero, ex-secretário da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, e ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (entre 1993-1994) e da Fazenda (1994) do Brasil. Sachs e Ricupero, que participaram do painel sobre “Economia do desenvolvimento sustentável, incluindo padrões de produção e consumo”, que abriu o segundo dia dos Diálogos sobre Desenvolvimento Sustentável, no Riocentro, concordaram também que os pontos definidos como prioridade pela plateia e pelos painelistas durante o encontro deixaram de fora questões importantes como a promoção de uma visão holística do que é o desenvolvimento sustentável.

“Hoje a sociedade associa a sustentabilidade a uma redução do consumo e, consequentemente, do bem-estar, o que não é o caso”, disse Ricupero. “O que deve acontecer é a mudança de uma sociedade de consumo centrada em produtos e serviços para uma sociedade cujo objetivo deve ser o bem-estar”, explicou. Para que aconteça essa passagem é preciso construir uma visão de futuro desejada por todos. Para Ricupero, ficou faltando definir o que é, na prática, um modelo de consumo sustentável que saia do descartável para o durável, do global para o local, do uso individual para o uso compartilhado – em suma, o que garantiria uma “desmaterialização” da sociedade. “A inexistência desse quadro referencial torna mais difícil o caminho, porque as pessoas não se sentem estimuladas a se engajar em uma nova proposta”, afirmou. Ele exemplifica: uma das recomendações aprovadas prevê que os poderes públicos façam uma compra “verde”. Mas Ricupero lembrou que a opção sustentável ideal não seria apenas substituir papel normal por reciclado, e sim evitar o uso do papel.

A ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, por sua vez, que participou deste painel, salientou que uma comparação das propostas em discussão na Rio+20 com as de 25 anos atrás indicam muitas recomendações semelhantes. “O problema não é que sejam as mesmas mensagens daquele tempo, mas sua implementação – e essa implementação só vai acontecer se houver pressão da sociedade sobre o governo”, acredita. Brundtland sentiu falta de recomendações que atendam especificamente as necessidades das mulheres nas discussões realizadas durante os diálogos. (IPS/TerraViva)

* Publicado originalmente no site TerraViva.