Internacional

Nobel da Paz pede globalização da compaixão contra a escravidão infantil

O ganhador do prêmio Nobel da Paz 2014, o indiano Kailash Sayarthi, propôs um movimento mundial de compaixão humana para combater o problema persistente do trabalho e da escravidão infantis.
O ganhador do prêmio Nobel da Paz 2014, o indiano Kailash Sayarthi, propôs um movimento mundial de compaixão humana para combater o problema persistente do trabalho e da escravidão infantis.

Nações Unidas, 25/3/2015 – O ganhador do prêmio Nobel da Paz 2014, o indiano Kailash Satyarthi, propôs um movimento mundial de compaixão humana para combater o problema persistente do trabalho e da escravidão infantis. “Vivemos em um mundo globalizado, vamos globalizar a compaixão humana”, exortou Satyarthi em uma sessão informativa sobre a erradicação da escravidão infantil até 2030, organizada pelo Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas (ONU), em sua sede de Nova York.

Incansável ativista contra o trabalho infantil, Satyarthi recebeu o Nobel da Paz junto com a jovem paquistanesa Malala Yousafzai, “por sua luta contra a opressão das crianças e dos jovens e pelo direito à educação de todas as crianças”, segundo o Comitê Norueguês do Nobel, que concede o prêmio. O ativista disse acreditar que verá o final da servidão infantil em sua vida, mas insistiu que todo o mundo tem a responsabilidade moral de encarar o problema.

O trabalho infantil continua sendo um problema verdadeiramente mundial, que prejudica milhões de meninos e meninas. Na Ásia meridional, cerca de 250 mil crianças, algumas de apenas quatro anos, trabalham até 18 horas por dia dando nós em tapetes que são exportados para os Estados Unidos e a Europa.

No Haiti, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) calcula que 225 mil menores, em sua maioria meninas entre cinco e 17 anos, vivem como “restaveks”, ou trabalhadoras internas no serviço doméstico das famílias mais ricas. Na República Centro-Africana, a ONU informa que há aproximadamente seis mil crianças-soldado, o que inclui meninas usadas com escravas sexuais.

Em todo o mundo, mais da metade das meninas e dos meninos que trabalham o fazem na agricultura, inclusive nos Estados Unidos, onde a organização de direitos humanos Human Rights Watch denunciou que os menores que trabalham nas plantações de tabaco estão expostos à intoxicação pela nicotina.

No total, a Organização Internacional do Trabalho declarou que há 168 milhões de meninas e meninos que trabalham, e que mais da metade, 85 milhões, realizam tarefas perigosas. Por trás de cada dado estatístico há um clamor pela liberdade de uma menina ou um menino a quem não estamos escutando, destacou Sayarthi no dia 17. “Esse é o grito de uma criança, uma criança que pode brincar, uma criança que pode amar, uma criança que pode ser uma criança”, enfatizou.

Satyarthi contrapôs o número de crianças trabalhando em tempo integral com os 200 milhões de adultos que carecem de emprego em todo o mundo. Abordar esse desequilíbrio é uma questão complexa, em parte porque nas populações vulneráveis as crianças são consideradas mais fáceis de explorar do que os adultos, acrescentou.

O ativista indiano também expressou sua preocupação porque, embora se tenha avançado em relação ao trabalho infantil, a luta contra o crime de escravidão infantil está paralisada. “O número de crianças escravas, de crianças que realizam trabalhos forçados, não diminuiu em absoluto”, e nos últimos 15 anos se manteve estável em cerca de 5,5 milhões, assegurou.

A ONU teve um papel fundamental na luta contra o trabalho infantil, reconheceu Sattyarthi. Mas insistiu na necessidade de contar com uma linguagem clara nessa luta nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), cuja aprovação está prevista na Cúpula Especial sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá em setembro, em Nova York. Também defendeu maior cooperação entre as organizações que trabalham para proteger as crianças a fim de garantir uma estratégia integral.

Susan Bissell, diretora de Proteção Infantil do Unicef, também esteve na sessão do dia 17 na ONU. “A primeira linha de defesa para não se converter em vítima da escravidão é a menina ou o menino e sua família”, afirmou. “Ao empoderar as famílias social e economicamente e gerar sua resiliência para reconhecer a escravidão infantil, e ao estarem sensibilizadas quanto aos seus direitos e como exercê-los poderemos desferir o primeiro golpe na escravidão”, ressaltou.

Bissell também exortou o setor privado a erradicar a escravidão infantil, ressaltando que os direitos das crianças devem ser vistos como um mandato relevante das empresas.

Satyarthi concluiu seu discurso com um forte chamado à ação. “Se uma só criança em qualquer parte do mundo está em perigo, o mundo não é seguro. Se uma só menina é vendida como um animal e sexualmente abusada e violada, não podemos dizer que somos uma sociedade culta. Me nego a aceitar que algumas crianças nascem para viver sem dignidade humana. Cada um de vocês tem algo de responsabilidade moral. Não pode recair apenas sobre mim”, enfatizou o Nobel da Paz. Envolverde/IPS