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Minorias foram decisivas para vitória de Obama

Barack Obama consegue seu segundo mandato como presidente. Foto: ljlphotography/CC by 2.0

 

Washington, Estados Unidos, 8/11/2012 – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conquistou um segundo mandato nas eleições do dia 6, graças à maioria obtida no colégio eleitoral, embora também tenha derrotado em quantidade de votos seu adversário, Mitt Romney. As minorias negra e latina foram cruciais para a vitória. Ainda há votos a serem apurados, principalmente na costa oeste do país, onde se espera que aumente a margem a favor do mandatário. Segundo os últimos dados da apuração, Obama obteve 303 votos eleitorais e Romney 206. São necessários 270 para levar a Presidência. Obama recebeu 50,3% dos votos e Romney 48,1%, com uma diferença entre ambos até agora de 2,5 milhões de votos.

Nas eleições legislativas, os democratas aparecem ganhando três cadeiras a mais no Senado, ampliando a maioria que já tinham. Contudo, na Câmara de Representantes provavelmente não ocorra mudança alguma, com um controle firme por parte do opositor Partido Republicano. Em consequência, não se verá alterado o atual equilíbrio de poder entre as duas forças que dominam o cenário político dos Estados Unidos. Porém, a derrota de pelo menos dois candidatos republicanos ao Senado, que se identificam com o movimento ultradireitista Tea Party, pode conduzir esse partido a posições mais centristas, tal como fez Romney na campanha, depois de apelar aos setores direitistas nas eleições primárias.

Romney reconheceu sua derrota em telefonema a Obama pouco depois da uma da manhã do dia 7 (hora local), e se dirigiu aos seus correligionários em Boston com um chamado à unidade. Tal como se esperava, Romney ganhou em quase todos os Estados do sul, embora dois dos três distritos “oscilantes”, Virginia e Flórida, tenham se inclinado por Obama. Romney também venceu na região agrícola do meio-oeste, com exceção de Iowa, um dos nove Estados oscilantes do país, onde Obama venceu com clara margem. Também venceu em todos os distritos das Montanhas Rochosas, menos em Novo México, Nevada e Colorado.

Por sua vez, Obama venceu no nordeste, inclusive no tradicional reduto republicano de New Hampshire, e nos Estados industriais da costa atlântica e nos do alto meio-oeste, de Minnesota ao Maine e Maryland, e também no considerado como mais importante distrito oscilante, Ohio. Obama, primeiro afrodescendente a governar os Estados Unidos, conseguiu sólidos triunfos na Califórnia, o Estado mais populoso do país.

É notável o fato de Romney ter sido derrotado em seu próprio Estado, Massachusetts, bem como no de seu companheiro de chapa, Paul Ryan, em Wisconsin. Na verdade, embora Ryan tenha servido para aglutinar o apoio da base eleitoral direitista do partido, seus pontos de vista econômicos, radicalmente opostos aos do governo, e sua repugnância ao aborto legal podem ter jogado contra, especialmente entre as mulheres. As primeiras análises indicam que uma maioria de 55% das eleitoras preferiu Obama, tal como em 2008, confirmando o importante retrocesso de gênero que vem acossando os republicanos há mais de uma década.

Por outro lado, se o voto feminino marcou uma diferença relevante nos Estados onde a eleição era renhida, a vontade das minorias étnicas, especialmente dos afrodescendentes e dos latino-americanos, foi inclusive mais crucial. Em concordância com a estratégia de Obama, o comparecimento às urnas dos dois grupos e a proporção de suas preferências pelo presidente podem ter registrado recordes históricos, segundo os primeiros dados. Obama conseguiu entre 70% e 75% dos votos dos “latinos”, que teriam aumentado sua participação eleitoral em pelo menos 25% em relação às eleições anteriores.

As organizações desta minoria já asseguram que estes resultados deveriam colocar a reforma migratória bem acima na agenda do presidente e do Congresso. “Os democratas a querem, e os republicanos agora precisam dela”, disse sobre a reforma o analista David Green, da CNN, que foi conselheiro dos ex-presidentes Ronald Reagan (1981-1989), George Bush (1989-1993) e Bill Clinton (1993-2001). Os latino-americanos deram votos cruciais em Estados do sudoeste e da costa atlântica, e os afrodescendentes contribuíram para alinhar com firmeza os distritos industriais, especialmente os do “cinturão do óxido” do norte e nordeste, nas fileiras de Obama. As pesquisas de boca de urna indicam que o presidente ficou com 95% dos votos dos negros.

Embora a comunidade judia represente apenas 2,5% do padrão eleitoral, seu peso desproporcional em Estados oscilantes como Flórida, Virginia e Ohio era considerado fundamental para os dois partidos, que se empenharam a fundo para cortejá-la. Segundo pesquisas, 70% dos eleitores judeus escolheram Obama, 4% menos do que em 2008, apesar das reiteradas acusações de Romney de que o presidente “virou as costas para Israel”, e de uma campanha de US$ 6 milhões, financiada pelo milionário Sheldon Adelson, para convencer essa minoria a votar nos republicanos.

Para surpresa de muitos analistas que previam uma queda acentuada do apoio juvenil a Obama, os eleitores entre 18 e 29 anos tiveram uma participação maior nas urnas, que aumentou de 18% em 2008 para 19% agora. E sua preferência por Obama foi de 60%, enquanto apenas 36% preferiram o derrotado Romney. O republicano, por outro lado, conseguiu 58% dos votos dos brancos, enquanto Obama ficou com 40%, retrocedendo em relação aos 43% obtidos em 2008. Mas os avanços entre as minorias parecem ter sido mais determinantes. Os brancos constituem 72% do padrão eleitoral, 2% menos do que nas eleições anteriores.

Nestas eleições havia uma quantidade de assuntos para consideração dos eleitores em muitos Estados. Houve maiorias em vários deles para legalizar o casamento homossexual, fato em que, pela primeira vez, as urnas contradizem decisões judiciais. Em Washington e no Colorado foi aprovada a legalização do consumo da maconha com fins recreativos, e em Massachusetts o mesmo aconteceu com a maconha para uso medicinal. Envolverde/IP