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Mais pressão para que Obama ameace o Irã

Washington, Estados Unidos, 18/1/2013 – Quatro especialistas dos Estados Unidos em não proliferação nuclear exortaram o governo de Barack Obama a impor duras sanções ao Irã e fazer ameaças mais explícitas para que esse país ponha fim ao seu programa de desenvolvimento atômico. Em um documento de 155 páginas apresentado esta semana, os especialistas, apoiados pelo grupo pró-israelense Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), disseram que Washington deveria estabelecer um “embargo internacional de fato contra todos os investimentos e o comércio” com o Irã, com exceção de alimentos e remédios, caso Teerã não suspenda seu programa nuclear.

O estudo foi dirigido pelo presidente da FDD, Mark Dubowitz, e pelo físico David Albright, que lidera o Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional. O chamado foi feito às vésperas de uma reunião crucial entre Irã e o chamado grupo P5+1, formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (Estados Unidos, China, França, Grã-Bretanha e Rússia) mais a Alemanha. Representantes destes países se reuniram nos últimos dois meses em um aparente esforço para unificar suas posições com relação ao Irã. A data do encontro com os líderes iranianos ainda não foi fixada, mas a maioria dos analistas prevê que acontecera no final deste mês.

O documento, intitulado A estratégia de não proliferação dos Estados Unidos para o instável Oriente Médio, também diz que Washington deveria “aumentar o isolamento iraniano, inclusive por meio de uma mudança de regime na Síria”. Também propõe “realizar abertos preparativos para o uso de aviões de guerra e/ou mísseis com a finalidade de destruir a capacidade nuclear iraniana com poderosos explosivos”. O estudo afirma que se deve considerar um alívio das sanções somente se Teerã fizer “concessões significativas”, entre elas suspender todos os projetos de enriquecimento de urânio, fechar a central de Fordow, na cidade de Qom, e aceitar um regime de inspeções altamente invasivo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

As recomendações parecem refletir mais a posição de Israel do que a do governo norte-americano. A administração de Obama sugeriu que não necessariamente insistirá em uma completa suspensão do plano de enriquecimento de urânio, o que Teerã rechaça constantemente, como condição para aliviar as sanções. “O estudo não oferece uma fórmula realista para negociar um acordo satisfatório sobre a limitação do programa nuclear iraniano”, disse Greg Thielmann, membro da Associação para o Controle de Armas e ex-analista do Departamento de Estado sobre proliferação atômica. O informe “exige que o Irã ceda em praticamente todas as frentes”, acrescentou.

“Algumas das medidas sugeridas provavelmente afetem a unidade do P5+1”, apontou Thielmann. “Os requisitos maximalistas que o estudo cita para um acordo poderiam convencer Teerã de que o objetivo de Washington é a mudança de regime, mais do que o pleno respeito às obrigações junto à AIEA”, observou. Entretanto, ao menos em um aspecto o informe se afasta das posturas de Israel.

O primeiro-ministro desse país, Benjamin Netanyahu, que ameaçara repetidamente atacar as instalações nucleares do Irã, disse em dezembro que Teerã poderia alcançar “capacidade crítica” para construir rapidamente uma bomba sem que esta fosse detectada antes desta primavera boreal. Mas o estudo diz ser mais provável que o Irã consiga construir uma bomba atômica em meados de 2014.

“O objetivo do trabalho não era dizer: Preparem-se, vamos à guerra em seis meses”, disse Leonard Spector, subdiretor do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação e codiretor das cinco equipes de trabalho que colaboraram no estudo. “Trata-se mais de uma avaliação cuidadosa de quanto tempo tínhamos”, afirmou, sugerindo o tipo de pressão necessária “para conseguir maior impacto”.

Nos últimos meses, funcionários iranianos sugeriram que estavam dispostos a realizar importantes concessões, incluindo deter seu enriquecimento de urânio até 20%, transferir para outro país uma substancial porção do que já foi enriquecido e aceitar inspeções da AIEA. Tudo isto sempre e quando houver um importante alívio das sanções. No entanto, insistiram que seu direito de enriquecer urânio até 5% não é negociável.

O P5+1 parece dividido quanto a aliviar as sanções e em que ritmo. Recentes informes indicam que, dentro do grupo, Estados Unidos e França pressionam para exigir do Irã a implantação de todas essas medidas, bem como o fechamento da central de Fordow e responder a todas as perguntas da AIEA sobre as supostas dimensões militares do programa atômico. O novo informe, elaborado após uma série de “mesas redondas” das quais também participaram altos funcionários do governo norte-americano, claramente favorece uma postura ainda mais severa.

O trabalho explicitamente apoia uma carta enviada a Obama, supostamente redigida pelo Comitê de Assuntos Públicos Norte-Americanos-Israelenses, e assinada por 73 senadores em dezembro, que pede mão dura contra o Irã. “Não deve haver em absoluto diminuição da pressão sobre os iranianos até que a totalidade do problema nuclear tenha sido resolvida”, diz a carta.

Por outro lado, o estudo exige ameaças militares mais explícitas e propõe uma ação encoberta em Teerã, além de exercer maior pressão sobre China, Hong Kong, Turquia e os países do Golfo para que deixem de comerciar com o Irã. Embora o estudo também analise temas como não proliferação em todo o Oriente Médio e norte da África, pouco se detém em Israel, a única potência atômica da região, apenas assinalando que este país deveria considerar iniciativas de desarmamento somente depois que seus vizinhos árabes assinarem a paz. Envolverde/IPS