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Latrinas são cruciais para a educação

A instalação de latrinas na Escola Primária B, na localidade sul-sudanesa de Bor, permitiu que mais estudantes participassem das aulas, principalmente as meninas. Foto: Andrew Green/IPS

Yuba, Sudão do Sul, 11/4/2012 – Antes de serem construídas latrinas na Escola Primária B, na localidade sul-sudanesa de Bor, há dois anos, os estudantes iam para suas casas no primeiro intervalo de aula. A maioria só voltava na manhã seguinte. Os professores acabavam as aulas mais cedo, porque também não tinham acesso a um banheiro. Seguiam para o povoado próximo, pediam permissão para usar o banheiro de um dos hotéis e depois voltavam para juntar os estudantes que ficavam.

Segundo Madin Chier, subdiretor da escola localizada na capital do Estado de Jongei, foi afetada a qualidade da educação nesse centro de estudo. Contudo, agora que foram instaladas 16 latrinas, “não há mais problemas”, observou. Porém, criar um sistema educacional que funcione no Sudão do Sul exige mais do que apenas latrinas.

Menos da metade das meninas e dos meninos que deveriam ir à escola realmente comparece. Este país não tem suficientes escolas, professores e nem material básico para educar toda sua população infantil. Alunos menores disputam os lugares disponíveis nas salas do primário com adolescentes, aos quais foram negadas oportunidades de estudo durante a guerra que afetou o país durante décadas. A maioria dessas aulas acontece ao ar livre ou sob árvores. Isto significa que, quando chega a época de chuvas, há uma interrupção de seis meses, até as tempestades passarem.

Para os estudantes que se matriculam em uma escola, o acesso a latrinas é crucial para que continuem assistindo as aulas. Isto vale especialmente para as meninas, segundo Emily Lugano, conselheira técnica em matéria educacional para o capítulo sul-sudanês da Save the Children. Esta organização construiu ou reconstruiu instalações sanitárias em 71 escolas de sete Estados do país, incluindo pias para lavar as mãos.

Isto é parte da iniciativa da entidade para melhorar a aprendizagem, informou Lugano, e também é uma precaução para as meninas. No Sudão do Sul, as adolescentes de 15 anos têm mais probabilidades de engravidar do que de ir à escola. Quando estudam, frequentemente são vítimas de assédio e intimidação, acrescentou a especialista.

Isto é exacerbado em algumas das escolas onde a Save the Children trabalha. Em muitos países se espera que as meninas compartilhem latrinas com os meninos ou façam suas necessidades em um campo perto da escola. “Elas sofrem abusos e assédios quando compartilham latrinas com os meninos. E se sentem muito inseguras de irem para os arbustos. É um assunto de segurança muito, muito crucial para as meninas que vão à escola”, explicou Lugano.

Quando não havia latrinas, as meninas se negavam a ir à escola quando menstruavam, porque ali não haveria nenhuma oportunidade para a privacidade. Chier disse que algumas das meninas de sua escola faltavam uma semana ou mais por mês, o que as deixava atrasadas em relação ao resto da classe. “Na maioria dos países em desenvolvimento”, a falta de acesso a latrinas privativas “contribui muito com o mau desempenho escolar das meninas”, porque estas perdem parte do programa de estudos, segundo Lugano.

Como se trata de escola, também há um componente educativo que vai unindo as latrinas e os lugares para lavar as mãos, e que vai além das fronteiras de gênero. Chier disse que sua escola usa essas instalações para ensinar os estudantes sobre higiene básica, o que ajuda a reduzir as doenças.

A iniciativa é popular em Bor B, onde os estudantes formaram um Clube de Saúde e Higiene. Por trás desta campanha também está a ideia de converter os alunos em instrutores, para que levem sua mensagem de higiene básica às suas comunidades. No entanto, estes esforços só funcionam em áreas onde há um sistema educacional estruturado. O governo do Sudão do Sul destinou menos de 6% do orçamento de 2011 para a educação. Além disso, a maior parte desse dinheiro se destina ao pagamento de salários dos professores, detalhou Lugano.

Em termos gerais, o financiamento do governo para a educação parece diminuir, já que o fechamento do oleoduto do país implicou a perda de 98% de sua renda. Fica em mãos de organizações não governamentais como a Save the Children continuar financiado o desenvolvimento de infraestrutura e conseguir material básico, como livros de texto, para os estudantes. Embora os programas para melhorar saneamento e higiene dentro das escolas possam ter um impacto de longo prazo na saúde e na segurança fora das mesmas, esses esforços somente são efetivos se houver escolas para implantá-los, ressaltou Lugano. Envolverde/IPS

* Andrew Green informa desde o Sudão do Sul, no contexto de uma bolsa do International Reporting Project, um programa de jornalismo independente com sede em Washington.