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Jovens protagonizam pesquisa sobre novas metas mundiais

Jovem ruandês responde à pesquisa MY World. Foto: Mark Darrough/Girl Hub Rwanda

Nações Unidas, 31/5/2013 – Kanny Daylop, uma profissional da área jurídica e consultoria da Nigéria, recorda seu encontro com uma mulher chamada Joy. “Era muito jovem, provavelmente adolescente”, contou. Contrariamente ao significado de seu nome em inglês (alegria), a vida de Joy esteve cheia de dificuldades. Quando engravidou, teve que abandonar a escola e seus pais a expulsaram de casa. Desde então trabalha como costureira. Mas ela quer uma vida melhor. “Ter educação e atendimento médico são suas prioridades”, disse Daylop.

Como ativista juvenil da Campanha do Milênio das Nações Unidas, Daylop entrevistou centenas de nigerianos para a pesquisa mundial MY World (Meu Mundo), na qual cidades de todo o planeta escolhem os temas que consideram mais importantes para suas vidas. Os resultados serão utilizados como subsídios para a nova agenda de metas internacionais a ser adotada quando vencerem, em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aprovados em 2000 pelos governantes de todo o mundo na Organização das Nações Unidas (ONU).

A pesquisa apresenta aos cidadãos uma lisa de 16 assuntos dos quais devem escolher seis que considerem prioritários para suas vidas. A consulta anônima, que começou a ser feita no início deste ano, pede aos participantes que indiquem apenas seu gênero, idade e país, somente para fins estatísticos. Os entrevistados podem responder pela internet, por telefone celular ou preenchendo formulários de papel.

Corinne Woods, diretora mundial da Campanha do Milênio, disse que a pesquisa representa uma “verdadeira associação” entre organizações não governamentais, grupos de base, empresas jovens e atores de diferentes disciplinas, com a missão de alcançar pessoas nas partes mais isoladas do planeta.

Mais de 590 mil habitantes de 194 países já participaram da consulta. Cerca de 60% dessas nações ocupam postos baixos no Índice de Desenvolvimento Humano, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Em termos demográficos, os jovens foram os que tiveram participação “esmagadora” na pesquisa, acrescentou Woods. “Quase três quartos dos consultados têm menos de 30 anos”, destacou. A pesquisa continuará até 2015. “Este é um momento no qual o mundo vai poder decidir quais serão as novas metas de desenvolvimento sustentável”, afirmou.

Enquanto milhares de pessoas continuam participando da consulta, a iniciativa da ONU gera ceticismo entre alguns membros da sociedade civil. Amitabh Behar, diretora executiva da Fundação Nacional para a Índia, disse que sua experiência com a MY World tem sido “interessante e também frustrante”. Em um país em desenvolvimento como a Índia, “as pessoas não veem a vida de uma forma estruturada”, explicou.

“As pessoas não querem essas opções (apresentadas na pesquisa) e, na verdade, pensamos que essas não são as perguntas que devem ser feitas”, observou Behar. “Creio ser responsabilidade dos Estados, tanto em nível nacional quanto mundial, garantir água potável, alimentos, educação, saúde, inclusão, etc. E a pesquisa é como colocar um revólver na cabeça de alguém e mandar escolher ‘um destes’ temas”, acrescentou.

Em certas regiões do Sul em desenvolvimento, os recursos são limitados e os desafios múltiplos. Além disso, a maioria dos entrevistados não sabe dos Objetivos do Milênio, nem do processo para escolher novas metas, admitiram pesquisadores da ONU. Também percebe-se uma crescente desconfiança em relação às promessas do fórum mundial. “Isto ocorre porque não é a primeira vez que perguntam estas coisas às pessoas, e elas nunca viram ações destinadas a mudar a realidade”, ressaltou Behar.

No México, onde até agora foram consultadas pouco menos de sete mil pessoas, a maioria disse não estar certa de que a ONU seja efetiva na luta contra a pobreza, apontou Juan Varela, conselheiro internacional da organização Axios Missão Mulher, que trabalha com adolescentes. Varela explicou que muitos mexicanos pensavam se tratar de mais uma pesquisa, e que o governo não faria nada com os resultados. Alguns nem mesmo quiseram responder.

Segundo Behar, como as diferentes regiões do mundo têm diferentes problemas, talvez a pesquisa não consiga refletir a realidade no terreno. Outro problema do estudo é que não aborda a interligação entre todos estes problemas. “Só quando se tem água potável é que se tem saúde, e assim sucessivamente”, explicou. No entanto, Woods reconheceu o fato de que cada país tem diferentes problemas, e que há certo grau de coincidência. A informação reunida até agora mostra que existe maior necessidade de educação e saúde, bem como de governos “honestos e receptivos”. Há alguns problemas que a maioria dos países têm em comum, destacou Woods.

A maior parte dos entrevistados é de nigerianos (157.843) e indianos (79.450). O grau de participação no estudo é muito variado. No Turcomenistão, apenas 45 pessoas responderam, na Guiné Bissau, somente nove, e no Irã cerca de 400. Mais da metade respondeu em papel. Agora os pesquisadores se focam particularmente na África, mas “a meta é alcançar tantos países quantos forem possíveis”, enfatizou Woods. Envolverde/IPS