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Israelenses duvidam de ataque ao Irã

Jerusalém, Israel, 12/9/2012 – Parviz Barkhordar diz amar tanto Israel quanto o Irã. Para muitos, esta dupla afinidade é contraditória, mas para ele tem muito sentido. “Somos judeus persas que vivemos nesse país”, explica. “Nascemos no Irã, mas sempre fomos judeus. Vivemos e fomos criados ali. Amamos esse país porque foi bom para nós”, contou à IPS. A maioria dos judeus que viveram no Irã se sentiram muito bem e seguros lá”, acrescentou. Nascido em Teerã, Barkhordar se mudou para Israel aos 16 anos, e se formou em engenharia elétrica na Universidade de Technion, em Haifa. Depois de voltar ao Irã por um ano, emigrou para os Estados Unidos. Em 1995 se instalou definitivamente em Israel.

Hoje, possui um programa semanal sobre assuntos políticos na Rádio Radisin, emissora em idioma parsi, criada há quatro anos perto de Tel Aviv. A rádio transmite via satélite e pela internet, e recebe frequentemente telefonemas de ouvintes do Irã. “Eles se queixam da atual situação no Irã, do quanto é ruim, como as coisas são caras, como tudo é instável. Dizem que quando acordam não sabem qual será o preço do pão, porque pode mudar de um dia para outro”, afirmou Barkhordar. “Esta emissora tenta construir uma ponte entre as duas nações. Não estamos falando do regime, porque sabemos que o regime não é a nação do Irã. Amamos nossos irmãos e nossas irmãs no Irã. Estamos com eles”, acrescentou.

Há meses as notícias em Israel estão dominadas pelo discurso do governo contra a “ameaça iraniana” e sobre a possibilidade de lançar um ataque preventivo, e vários analistas previram que Israel atacaria o Irã antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro, quando uma ação assim poderia implicar um custo político para a administração de Barack Obama. Na semana passada Israel enviou uma nota ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) alertando que a “complacência diante do discurso de ódio iraniano e da incitação (contra Israel) é perigosa”, e pedindo que sejam tomadas ações.

Por sua vez, o vice-embaixador do Irã junto à ONU afirmou que as ameaças de Israel violam a Carta das Nações Unidas. Em Israel as opiniões sobre uma possível guerra com o Irã são diversas. Segundo pesquisa feita em julho pelo Instituto Israelense pela Democracia, da Universidade de Tel Aviv, conhecido como Índice de Paz, 61% dos judeus israelenses não acreditam que seu país atacará o Irã de forma unilateral. Ao mesmo tempo, 60% dos entrevistados disseram acreditar que Israel deveria aceitar que não pode evitar o programa de desenvolvimento nuclear do Irã e que logo deixará de ser a única nação com poderio atômico no Oriente Médio.

Atualmente, Israel é a única potência nuclear da região, embora oficialmente seu governo nunca tenha reconhecido isso. Este país também se nega a assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear. “O governo israelense procura aterrorizar seu próprio povo e fazê-lo acreditar que não há opções. Porém, sabemos que elas existem, e que a guerra é o pior cenário”, disse à IPS o ativista israelense Guy Butavia, durante uma manifestação diante da casa do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém. No começo deste mês o exército israelense começou a distribuir máscaras antigás gratuitamente à população, algo que já fizera em 1990, às vésperas da primeira Guerra do Golfo.

“Creio que nada acontecerá. É apenas pânico causado pela mídia. Israel e Irã simplesmente estão falando”, opinou Yitzik, israelense de 69 anos, enquanto esperava para receber uma das máscaras em um centro de distribuição de Jerusalém. “As pessoas em Israel não querem a guerra, apenas a paz, e se vê que o povo do Irã também quer a paz”, afirmou à IPS. “Creio que se trata mais de fazer política do que de buscar o bem-estar dos demais. Creio que Netanyahu faz isto apenas para salvar sua cadeira”, ressaltou Yitzik.

Por sua vez, Rachel Tzionit, mãe de dois filhos, que também esperava por sua máscara antigás, afirmou que Israel não atacaria o Irã sem antes receber o aval de Washington. “Recordo a primeira vez que me deram essas máscaras. Estava no exército, e foi realmente um tempo difícil. Não era fácil ver todos caminhando pela rua e de repente soar o alarme e todos entrarem em pânico. Mas, o que podemos fazer? Assim é a vida em Israel”, acrescentou.

Parviz Barkhordar disse ter fé de que os líderes políticos e militares de Israel tomarão a decisão correta, mas expressou seu desejo de que a população iraniana não seja afetada por uma ofensiva israelense. “Tão logo o Irã tenha a bomba, ameaçará não apenas Israel, mas qualquer outro país no mundo, e tentará ditar suas próprias regras”, observou. “Se atacamos, com sorte não atingiremos as pessoas. Não temos que atacar os inocentes, naturalmente. Não agiremos assim”, acrescentou. Envolverde/IPS