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Irã pode ser parte da solução, diz Annan

Kofi Annan e Ali Akbar Salehi falam com a imprensa após encontro em Teerã Foto: EFE

Doha, Catar, 12/4/2012 – Kofi Annan, enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Liga Árabe à Síria, comemorou o apoio do Irã aos seus esforços de paz e disse que esse país poderia “ser parte da solução” para a crise síria. Annan falou ontem aos jornalistas em Teerã, após se reunir com o chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi. O Irã apoia o plano de paz do ex-secretário-geral da ONU, que propõe um cessar-fogo a partir de hoje, mas também exige que seja dado tempo ao regime de Bashar Al Assad para que implante reformas democráticas.

O Irã é considerado um aliado regional fundamental do presidente sírio, que é pressionado cada vez mais pela comunidade internacional para deter sua repressão contra o movimento opositor. Os enfrentamentos deixaram milhares de mortos. Annan insistiu na urgência de deter as mortes e proporcionar ajuda humanitária, mesmo antes de as partes se sentarem à mesa de negociações.

“O processo político deve ser liderado pela Síria, e devem ser respeitadas as aspirações do povo sírio”, destacou Annan. “O importante é que os governos da região e de outros lugares trabalhem com a Síria para resolver a crise. A posição geopolítica da Síria é tal que qualquer erro de cálculo pode ter consequências inimagináveis”, alertou.

Annan também disse que o governo de Assad lhe garantiu que cumprirá o acordo de cessar-fogo. “Se todos o respeitarem, creio que às 6 horas da manhã do dia 12 veremos uma situação melhor no terreno”, disse esperançoso. Consultado sobre os chamados de alguns países, como Arábia Saudita e Catar, no sentido de armar a oposição síria, Annan advertiu que uma “maior militarização seria desastrosa”.

Salehi ofereceu o apoio de Teerã aos esforços de Annan. “Acreditamos que o povo sírio merece gozar os direitos que têm outras nações do mundo, como liberdade para os partidos políticos, eleições livres e uma Constituição que reflita os desejos da nação”, afirmou o chanceler. “Ao mesmo tempo, anunciamos que nos opomos à interferência nos assuntos internos de todos os países, inclusive da Síria. O governo de Assad prometeu uma mudança para atender as demandas do povo, e é preciso lhe dar a oportunidade” de fazê-lo, acrescentou o ministro.

O plano de Annan, apresentado no mês passado, exorta o governo sírio a retirar suas tropas das aldeias e parar com o uso de armas pesadas. Segundo a iniciativa, tanto o exército quanto os combatentes da oposição devem respeitar a trégua. O chanceler sírio, Walide al-Muallem, exigiu de Annan, no dia 10, garantias de que os rebeldes cumpririam o cessar-fogo. “Não pediremos garantias aos grupos terroristas, que estão matando, sequestrando e destruindo infraestrutura. Queremos que Annan nos dê essas garantias”, enfatizou Muallem durante uma visita a Moscou.

O regime de Assad não retirou seus soldados das áreas urbanas, como indicava o prazo fixado para o dia 10, e ativistas denunciaram novos incidentes violentos ontem. Os Comitês Locais de Coordenação, grupo que organiza as mobilizações contra Assad, informou que vários bairros na cidade de Homs foram bombardeados.

Por sua vez, o Observatório Sírio pelos Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha, afirmou que “dezenas de veículos do exército” foram enviados para a cidade de Maaraba em meio a intensos tiroteios. Já o porta-voz da coalizão opositora Conselho Nacional Sírio, Basma Kodmani, afirmou que se Assad não desse sinais de respeitar a trégua, o Conselho de Segurança da ONU deveria pressioná-lo. “Gostaríamos de ver uma decisão unânime dos membros do Conselho de Segurança dando um ultimato ao regime”, ressaltou Kodmani à agência de notícias Reuters.

Por sua vez, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, prevê se reunir em Washington com o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov. “Teremos nova oportunidade para convencer os russos de que a situação está se deteriorando e que a probabilidade de um conflito regional e de uma guerra civil aumenta”, declarou no dia 10. As forças de Assad mataram mais de nove mil pessoas no ano passado, segundo estimativa das Nações Unidas. Damasco, por sua vez, afirmou que os rebeldes assassinaram mais de 2.500 solados e funcionários de segurança. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.