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Irã desaparece do radar israelense

Netanyahu aparece como favorito para as eleições de amanhã. Foto: Pierre Klochendler/IPS

 

Jerusalém, Israel, 21/1/2013 – Espera-se para o final deste mês uma reunião entre líderes do ocidente e o Irã, encontro crucial que poderá determinar o futuro do programa nuclear desse país asiático. Estranhamente, o tema não é de interesse público em Israel. As últimas conversações entre representantes de Teerã e do grupo P5+1, formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia –, mais a Alemanha, aconteceram em junho do ano passado, em Moscou.

Os temas mais importantes para resolver são o autoproclamado direito de Teerã a enriquecer urânio, a exigência ocidental de acesso a instalações atômicas iranianas como a de Fordow, e o fim gradual do regime de sanções.

No dia 14, o Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional, dos Estados Unidos, publicou um estudo indicando que o Irã estaria em condições tecnológicas de fabricar pelo menos uma bomba nuclear em meados do próximo ano. No dia 16, representantes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) mantiveram reuniões com funcionários iranianos sobre o acesso a Parchin, base militar onde se suspeita acontecerão testes de armas nucleares.

No entanto, em Israel o assunto quase não aparece na campanha para as eleições gerais de amanhã. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ostenta a inflexível postura de sua administração perante o Irã como um de seus maiores êxitos. Pelo menos desse ponto de vista, suas ameaças evitaram uma guerra e suas pressões sobre a comunidade internacional serviram para que esta, por sua vez, pressionasse Teerã.

Os opositores de Netanyahu o consideram um charlatão, que, na realidade, nunca teve intenções de atacar instalações nucleares iranianas. Porém, a charlatanice também é uma estratégia eleitoral. Sua apresentação na reunião anual da Assembleia Geral da ONU, em setembro, foi o fecho de ouro de sua administração. Neste palanque internacional, mostrou um cartaz com o esquema de uma bomba prestes a explodir, no melhor estilo dos desenhos animados, indicando o suposto nível de enriquecimento de urânio alcançado pelo Irã.

Netanyahu afirmou naquela oportunidade que, “para a próxima primavera, ou no máximo no próximo verão” boreal, Teerã terá a capacidade de fabricar uma arma atômica. Na semana retrasada, no começo da campanha na mídia para as eleições, foi transmitido um programa de uma hora no Canal 2 israelense sobre o perfil do primeiro-ministro. No entanto, ali Netanyahu só mencionou o Irã uma vez, e apenas de passagem.

Laconicamente, rechaçou as acusações do ex-chefe de segurança interna Yuval Diskin, que disse ao jornal Yedioth Aharonoth que as consultas de alto nível no governo de Netanyahu sobre a questão iraniana eram “decadentes”, e que nas reuniões os funcionários consumiam charutos, álcool e cozinha gourmet. “Aconteceram as reuniões mais sérias sobre o Irã”, assegurou o primeiro-ministro.

Os anúncios publicitários agora mostram Netanyahu repetindo tópicos de seu discurso na ONU, desta vez com um mapa do Oriente Médio, e destacando que, no momento, seu governo teve êxito em evitar que o Irã desenvolvesse armas nucleares. Então, como ficou o que ele mesmo qualificou como “a maior ameaça existencial”, não apenas para Israel mas para o resto do mundo, e que agora parece desaparecer como se nunca tivesse existido?

Seu discurso eleitoral se foca mais nos perigos do islamismo no Egito e na Síria. É que o fator do medo, fácil de gerar, tradicionalmente jogou a favor da direita. Basta apenas citar o “terrorismo palestino” ou a Primavera Árabe para desatar a angústia no público e o medo de que Israel acabe sendo uma “residência em meio à selva”. Por isto, para que advertir com o ocaso nuclear e arriscar uma campanha desapaixonada quando a sensação que prevalece é a de que a reeleição de Netanyahu é um fato consumado?

O primeiro-ministro é conhecido por se abaixar quando alguém lança uma bola no campo diplomático. É de se esperar que em seu segundo mandato também dilate e acabe por minar qualquer perigosa iniciativa de paz ou complexa aventura militar. Isto é tranquilizador para muitos israelenses. Sua campanha se concentra em proteger Israel com novos antimísseis, uma muralha fronteiriça com o Egito que está perto de ser completada e o reforço da linha de defesa nas ocupadas colinas de Golã.

Portanto, os debates e slogans sobre temas centrais para a paz e a segurança, especialmente os relacionados com o Irã, não servem aos seus propósitos. É certo que nas campanhas eleitorais nunca faltam incendiárias declarações de intenções. Entretanto, neste aspecto, para Netanyahu já é suficiente seu anúncio de “medidas punitivas” contra a Palestina, depois que a ONU elevou seu status para “Estado observador não membro”, em novembro de 2012. O primeiro-ministro prevê reiniciar os planos de expansão de colônias judias na Cisjordânia.

Brincar com fogo e ameaçar com uma ação militar unilateral contra o Irã simplesmente não faz parte agora das cartas de Netanyahu. Para começar, não está disposto a gerar neste momento novas tensões com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que inicia hoje seu segundo mandato.

A decisão de Obama de designar Chuck Hagel como seu secretário da Defesa parece não ajudar para que os dois governos passem para uma nova página nas relações bilaterais. Contudo, Netanyahu não se atreverá agora a desafiar abertamente a prerrogativa do mandatário norte-americano. O primeiro-ministro confia que Hagel, ao reestruturar o orçamento da defesa, não reduzirá a ajuda militar a Israel. Enquanto isso, deixará que as conversações do P5+1 e da AIEA com o Irã sigam seu curso, esperando que estas terminem com o resultado mais tolerável para seu governo. Envolverde/IPS