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Horror sem precedentes

Doha, Catar, 31/1/21013 – A Síria “está sendo destruída pouco a pouco”, alertou o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Liga Árabe a esse país, Lakhdar Brahimi, após a descoberta de 70 corpos de homens executados na cidade de Aleppo. O conflito interno armado na Síria atingiu “níveis de horror sem precedentes”, disse o argelino Brahimi, uma vez conhecido o massacre de Aleppo, a segunda maior cidade do país, depois de Damasco.

Brahimi também se dirigiu ao Conselho de Segurança da ONU, no dia 29, afirmando que deve agir agora para deter a matança, encarnada por enquanto pelos 70 jovens, cada um morto com um único disparo na cabeça e depois jogados em um rio.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres, informou que 65 desses corpos foram encontrados no Rio Queiq, que atravessa Aleppo separando o distrito de Bustan al-Qasr de Ansari, no sudoeste da cidade, mas que o número total pode aumentar de forma significativa. Os rebeldes sírios responsabilizaram o governo do presidente Bashar al-Assad pela matança, mas a imprensa estatal assegura que foram facções de oposição.

“O país se desintegra diante de nossos olhos”, testemunhou Brahimi, segundo diplomatas que participaram da reunião a portas fechadas. Ele também alertou o Conselho de Segurança que sua mediação não poderá progredir se esse órgão não se unir para pressionar o governo sírio e as forças da oposição para alcançar algum tipo de compromisso.

A afirmação de Brahimi coincidiu com o dia em que doadores internacionais prometeram, em uma conferência da ONU realizada na cidade de Kuwait, entregar US$ 1 bilhão para os países vizinhos da Síria que abrigam cerca de 700 mil refugiados. Outros US$ 500 milhões serão buscados para financiar tarefas humanitárias para ajudar aproximadamente quatro milhões de pessoas dentro da Síria.

O emir do Kuwati, xeque Sabah al Ahmad al Sabah, abriu a conferência prometendo US$ 300 milhões para a população síria. “Devido ao enorme sofrimento da população da Síria e para ajudar a garantir o êxito da conferência, anunciou que o Kuwait doará US$ 300 milhões para o povo sírio”, afirmou. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos prometeram US$ 300 milhões cada um.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu ajuda econômica urgente e alertou que se não se conseguir mais dinheiro “morrerão mais sírios. A situação na Síria é catastrófica”, afirmou Ban, ao mesmo tempo em que pediu que as partes que se enfrentam “detenham a matança”.

O embaixador dos Estados Unidos na Síria, Robert Ford, falou à rede de televisão árabe Al Jazeera da necessidade de ajuda humanitária na Síria. “Cremos que a ONU tem um papel fundamental no que se refere a chegar a algumas partes da Síria. Mas não é suficiente. Tem que haver operações a partir dos países vizinhos, bem como melhor acesso para as Nações Unidas e seus sócios dentro do país”, declarou.

Não está claro que o último informe de Brahimi, que segundo diplomatas é o mais sombrio desde que foi designado há um ano, convencerá a Rússia de apoiar medidas concretas da ONU para tentar deter o derramamento de sangue.

O Conselho de Segurança está dividido a respeito deste conflito, pois Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e outras potências ocidentais apoiam a oposição armada e pressionam por soluções que aumentem a ameaça de sanções. Mas a Rússia, junto com a China, vetou três resoluções propostas pelas potências ocidentais.

Brahimi disse que os princípios de uma transição política na Síria, acordada em Genebra em conversações com as grandes potências mundiais regionais em junho de 2012, poderiam formar a base de um plano de ação do Conselho de Segurança. Também afirmou que as tentativas de terminar um conflito que dura 22 meses, e que já deixou 60 mil mortos, segundo a ONU, não apresentaram progressos nos últimos dois meses.

Numerosos diplomatas comentaram que Brahimi ficou extremamente frustrado pela incapacidade do Conselho de Segurança de se unir atrás dele. Seu antecessor, Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, expressou o mesmo sentimento quando renunciou em agosto.

Enquanto isso, os rebeldes disseram ter capturado um funcionário de inteligência do regime de Assad na cidade de Deir Az-Zor. Além disso, combatentes da oposição afirmaram que ocuparam vários pontos de controle na cidade e destruíram numerosos veículos do exército. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.