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Hora de investir no magistério

Buenos Aires, Argentina, 16/5/2011 – O esforço dos governos latino-americanos para melhorar a qualidade da educação deve estar focado no pessoal docente, a fim de elevar sua formação, atualizá-lo, para que possa lidar com as novas tecnologias da informação e da comunicação. Essa foi a mensagem principal da reunião ministerial de dois dias da Organização das Nações Unidas (ONU) “Principais Desafios Educativos para a América Latina e o Caribe: Professores, Qualidade e Igualdade”, que terminou no dia 13, em Buenos Aires.

Esse encontro regional foi preparatório para o Exame Ministerial Anual 2011 que acontecerá em julho em Genebra, convocado pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. Na abertura, o vice-presidente do Conselho, o peruano Gonzalo Gutiérrez Reinel, afirmou que os governos da região devem ter um “sistema de formação docente permanente, baseado no mérito e compensado com níveis salariais adequados”.

A ONU convocou representantes de suas agências especializadas, acadêmicos e ministros da Educação da região. “Em muitos casos, o estudante sabe mais sobre novas tecnologias do que o pobre docente, que não tem computador nem internet em casa e teme aproximar-se desse mundo”, disse à IPS o chileno Jorge Sequeira, diretor regional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

No encontro foram analisados os avanços e os desafios pendentes que a região tem para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, assinados em 2000 pelos governos, com metas até 2015, entre as quais se destaca o de conseguir ensino primário completo. Os participantes basearam a discussão em um panorama que destaca os progressos feitos pela América Latina nos últimos dez anos, e também aponta que esses avanços foram desiguais e que houve retrocessos.

“A região está prestes a conseguir a universalização do ensino primário”, com 95% de cobertura, diz o informe apresentado na reunião. Destacam-se, ainda, os progressos “impressionantes” obtidos por Belize, Guatemala e Nicarágua. No conjunto da região, ainda há 2,9 milhões de crianças fora da escola e alguns países que as incorporam em ritmo muito lento. Por isto, o estudo alerta que “em 2015 haverá ainda muitas crianças sem escolaridade na região”.

O documento também indica que aqueles que chegam à última série do curso primário somam 86% na região, isto é, ainda há uma alta deserção, e afirma que apenas 67% das crianças entram no sistema educacional na idade estabelecida. No entanto, os especialistas recordam que a escolaridade é uma condição necessária, mas insuficiente se as crianças não aprendem enquanto estão na sala da aula. Para isso, os governos da região se propuseram a melhorar a qualidade por meio de uma atualização na formação dos trabalhadores docentes.

“A boa formação docente, inicial e contínua, tem um impacto muito grande na qualidade da educação, que é um dos problemas mais sérios que temos na região”, afirmou Sequeira à IPS. “A meta da educação com qualidade para todos não será cumprida até 2015”, previu. “Nenhum país conseguirá porque não damos a devida atenção à carreira docente, e não falo apenas de valorização moral ou monetária”, ressaltou. “O professor deve ser um agente de mudança para transformar a vida de seus alunos e da comunidade onde trabalha, e para isto são necessários padrões mínimos, melhor formação inicial e contínua, aprender sobre resolução de conflitos”, afirmou Sequeira.

Para o representante regional da Unesco, a transformação do professor em um instrumento para elevar a qualidade educacional “é um tema universal” que preocupa todos os países, inclusive os avançados em educação como Finlândia e Coreia do Sul. Nesse sentido, admitiu que na América Latina há países que fazem esforços para melhorar a formação docente. Citou como exemplo Argentina, Costa Rica, Chile, México e Uruguai, mas disse que os resultados serão vistos nos próximos anos.

Quanto às novas tecnologias da informação e das comunicações, Sequeira afirmou que tais ferramentas devem ser entregues aos professores durante a própria formação, para que saibam como utilizá-las em aula. Sobre isso, o representante da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe em Montevidéu, Pascual Gerstenfeld, deu como exemplo o fato de o Plano Ceibal no Uruguai ter colocado os professores diante de um “enorme desafio”.

Este plano, implementado pelo governo de Tabaré Vázquez (2005-2010), incluiu a entrega gratuita de um computador portátil a cada um dos alunos da escola primária, garantindo conexão com a internet e agora segue o mesmo caminho no ensino secundário. Segundo especialistas, este programa chegou primeiro às escolas e não aos centros de formação de professores, e encontrou professores que não estavam preparados para lidar com esse processo de avanço dentro das aulas. Envolverde/IPS