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G-20 e Rio+20: povos juntos, governos separados

Cidade do México, México, 20/6/2012 – Organizações da sociedade civil rejeitam que os resultados da reunião dos chefes de Estado e de governo do Grupo dos 20 (G-20), realizada no México, se misturem com os debates da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

As cúpulas do “G-20 e da Rio+20 estão capturadas pelos interesses corporativos, especialmente os financeiros”, denunciou à IPS a ativista Diana Aguiar, da Rede Brasileira pela Integração dos Povos. “A inserção do crescimento verde no G-20 busca capturar as discussões em um espaço mais democrático na Rio+20”, que começa hoje e termina no dia 23, no Rio de Janeiro, acrescentou.

Representantes de organizações sociais de 20 países industrializados e emergentes participaram entre os dias 16 e 19 da Cúpula dos Povos, o fórum alternativo à reunião do G-20. O fórum paralelo aconteceu na cidade de La Paz, Estado da Baixa Califórnia Sul, e a reunião dos governantes teve por cenário Los Cabos, luxuoso centro turístico no litoral do Pacífico, no México.

As organizações da sociedade civil qualificam o G-20 de ilegítimo, por ameaçar o sistema multilateral representado pelas agências e pelos programas da Organização das Nações Unidas (ONU) e criticam o fato de não apresentar soluções de fundo para temas como pobreza e a tríplice crise financeira, alimentar e ambiental.

O G-20 reúne o Grupo dos Oito países mais industrializados (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão, Itália e Rússia) e também Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México, África do Sul e Turquia, além da União Europeia. Também participaram como convidados em Los Cabos os governantes de países como Chile, Colômbia e Espanha.

Estes mandatários debateram assuntos como políticas contra a crise financeira, segurança alimentar, crescimento verde, luta contra a mudança climática, transparência e corrupção, em um encontro, de todo modo, dominado pelas urgências da Europa. Vários desses temas também integram a agenda da Rio+20, cuja etapa principal começa hoje no Rio de Janeiro.

“Nos mobilizamos globalmente para denunciar que tanto G-20 quanto Rio+20 são parte da agenda corporativa para impor uma agenda excludente e que deixa milhões na pobreza”, afirmou à IPS o costarriquenho Jorge Coronado, da Rede Latino-Americana sobre Dívida, Desenvolvimento e Direitos. “Por isso, propomos uma articulação orgânica dos dois espaços. Nos opomos à ‘financeirização’ da natureza”, destacou, ao comentar as conclusões da Cúpula dos Povos em La Paz.

De fato, as reuniões de La Paz e do Rio de Janeiro juntaram seus debates ontem, para compartilhar e multiplicar a ressonância desses argumentos. A declaração final da reunião alternativa no México propõe a criação de impostos sobre as transações financeiras internacionais, o fim dos paraísos fiscais, o controle de fluxos, a exclusão dos alimentos do esquema financeiro e o direito a educação e saúde.

Além disso, reclamam a garantia da soberania alimentar, a defesa e proteção dos territórios das comunidades e a necessidade do acesso a água, saúde e sistemas de assistência social. Também assumiram os postulados de um documento preparado pelo fórum de La Paz no qual se critica o vínculo entre G-20 e Rio+20. As duas cúpulas “reforçam um modelo de desenvolvimento baseado na privatização, no parasitismo financeiro sobre a economia real e no aprofundamento do esquema de livre comércio e de investimentos”, diz o texto intitulado G-20/Rio+20. Duas Cúpulas, uma só Luta. Proteger os Bens Comuns, não os Bancos!.

“O G-20 é uma tentativa de abordar temas de livre comércio, incluindo os bens naturais. O meio ambiente não é um bom tema para os países ricos, apoiados pelas grandes corporações”, afirmou à IPS o ativista Tony Salvador, da Aliança de Trabalhadores Progressistas das Filipinas. “O que propomos é que estes temas devem ser tratados na ONU, no fórum onde todos os países participam”, esclareceu. A declaração da Cúpula dos Povos da Rio+20 vai incorporar alguns elementos do documento divulgado na jornada final de La Paz.

Quando acontecia a reunião do G-20, o Comitê de Facilitação da Sociedade Civil da Cúpula dos Povos na Rio+20 rechaçava qualquer tentativa de as decisões tomadas em Los Cabos serem levadas para a conferência no Brasil. “Condenamos e denunciamos este fato, que não só reforça o sistema econômico que promove a monetarização da natureza, mas também sua vergonhosa captura das democracias do mundo”, afirmou o Comitê. “Há um interesse muito claro de que a agenda verde do G-20 esteja presente na Rio+20. Isto seria um retrocesso”, alertou Aguiar, de La Paz.

Vários governantes presentes em Los Cabos viajaram direto para o Rio de Janeiro, entre eles os primeiros-ministros Wen Jiabao, da China, e Manmohan Singh, da Índia, bem como o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak. Outros mandatários, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, não participarão da crucial cúpula ambiental. O presidente mexicano, Felipe Calderón, não havia confirmado sua participação.

O G-20 “não pode ser o espaço para discutir estas temáticas, é a ONU, com a participação de seus 193 Estados-membros em igualdade de condições, e não em um círculo fechado”, observou Coronado. “A agenda econômica da Rio+20 tem estreitos vínculos com o G-20. Ambas se retroalimentam em buscar salvar o sistema do colapso, sem nenhuma mudança significativa nas estruturas que são a principal causa da crise atual”, critica o documento da Cúpula dos Povos debatido em La Paz. Envolverde/IPS