Nova York, Estados Unidos, 17/6/2011 – Fornecer eletricidade e tecnologia moderna a milhares de milhões de pessoas que carecem de energia é uma das prioridades dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas que poderá ser alcançado nas próximas décadas, afirmam especialistas. A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi) realizará o Fórum de Energia de Viena, de 21 a 23 deste mês. Trata-se de uma grande iniciativa para combater a pobreza energética.

O coordenador de comunicações da Onudi, Mijaíl Evsatyev, conversou com a IPS sobre como as indústrias que emitem pouco dióxido de carbono e fazem um uso eficiente dos recursos podem ajudar os dois bilhões de pessoas que carecem de eletricidade.

IPS: Como é possível fornecer eletricidade a essa gente a um custo acessível?

MIJAÍL EVSATYEV: As implicações econômicas de universalizar a energia são grandes, mas não excessivamente se forem considerados os enormes benefícios. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que, nas próximas duas décadas, serão necessários 10% do que é investido no setor energético para conseguir o acesso universal a eletricidade, e que o setor privado é que pode fornecer. O acesso universal também significa uma nova oportunidade de mercado, mas das que exigem o apoio adequado para prosperar. Já há muitos tipos de tecnologias limpas disponíveis, assim, não vamos falar em investir milhões de dólares em pesquisa. Trata-se de transferi-la e adaptá-la às condições e necessidades locais. Melhorar o acesso não significa apenas fornecer fogões e lâmpadas melhores e mais eficientes. Para promover o crescimento e o desenvolvimento econômico, os fornecedores também devem pensar em criar riqueza, gerar emprego ao fornecer energia às empresas e melhorar a atenção à saúde, à educação e ao transporte.

IPS: Quais êxitos teve a Onudi nos últimos anos em matéria de redução da pobreza e sustentabilidade ambiental?

ME: Nos últimos 45 anos, a Onudi ofereceu serviços especializados para promover o desenvolvimento industrial sustentável, o que se reflete em nossas três prioridades temáticas: reduzir a pobreza mediante atividades produtivas, criar capacidades comerciais, e energia e meio ambiente. Por meio de sua função de assessoria política e analítica, a Onudi ajuda os países em desenvolvimento com a transição para uma economia mais verde. A Onudi gera e difunde conhecimento e oferece uma plataforma para o diálogo e a cooperação. Também apoia o desenvolvimento de padrões globais e projetos e implementa programas especializados e sob medida, bem como projetos para ajudar os cidadãos de países em desenvolvimento e economias em transição.

IPS: O que espera do Fórum de Energias de Viena?

ME: O Fórum reunirá chefes de Estado, dirigentes políticos, especialistas, sociedade civil e setor privado para discutir como superar a pobreza energética e como passar das declarações de intenção para ações tangíveis no terreno. O ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, e o magnata e filantropo, Carlos Slim, também participarão do encontro. O Fórum facilitará o diálogo sobre como oferecer acesso universal e os múltiplos benefícios de aumentar a eficiência energética. Será uma oportunidade para chegar a um entendimento comum e a uma estratégia que garanta o acesso universal a modernos serviços de energia. Os participantes também discutirão como aumentar a eficiência energética e priorizar importantes ações nacionais e regionais na matéria. Também servirá para propor uma arquitetura internacional sobre como assegurar o acesso universal e organizar o trabalho dos principais atores, definir seu papel e suas responsabilidades. Sobre essa base se iniciará o desenvolvimento de um mapa do caminho destinado à ação. Nosso sócio, o Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados lançará uma Avaliação de Energia Global.

IPS: Quais países tiveram sucesso promovendo a sustentabilidade ambiental nos últimos anos?

ME: Muitas nações do mundo em desenvolvimento mostram resultados em matéria de sustentabilidade ambiental. A Onudi e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) contribuíram para melhorar o uso dos recursos, mediante centros de produção limpos na China, Índia, Vietnã, Laos, Camboja, Paquistão, Sri Lanka e na República da Coreia, entre outros. Houve êxitos significativos na Ásia, com o aumento das indústrias verdes que fazem uso eficiente dos recursos. Contudo, é preciso fazer mais, pois continua aumentando a exploração de recursos na região em termos absolutos, além do contínuo crescimento econômico. A China surgiu como um grande produtor de turbinas eólicas e solares fotovoltaicas. A Índia aumenta o peso das energias renováveis para 14 gigawatts até 2012. Também adotou um Plano de Ação Nacional para a Mudança Climática que se propõe proteger os pobres e os vulneráveis por meio de uma estratégia de desenvolvimento sustentável e inclusiva.

IPS: Após a crise nuclear do Japão alguns países tentam se afastar dessa alternativa. É possível? Como?

ME: Estou certo de que será no futuro, quando as fontes de energia renováveis forem mais acessíveis e estiverem generalizadas. O Fórum de Viena atenderá toda a gama de desafios energéticos, desde a alternativa nuclear até as renováveis. Por isso, a BBC aproveitará a ocasião para produzir um debate mundial sobre “como acendemos o Século 21”.

IPS: Os países em desenvolvimento têm a responsabilidade de ajudar os de baixa renda a migrar para uma economia verde?

ME: Naturalmente, os países em desenvolvimento precisam de nossa ajuda, que pode ser de diferentes maneiras, incluídas as agências intergovernamentais como a Onudi. Nos últimos anos, isso foi complementado pela cooperação Sul-Sul, pois os países pobres têm condições semelhantes e enfrentam desafios parecidos. Envolverde/IPS