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Etiópia se destaca no fórum da Onudi

Tecido de algodão branco feito em um tear tradicional da Etiópia. A indústria têxtil é uma das mais promissoras do país. Foto: Salima Punjani/IPS
Tecido de algodão branco feito em um tear tradicional da Etiópia. A indústria têxtil é uma das mais promissoras do país. Foto: Salima Punjani/IPS

 

Viena, Áustria, 7/11/2014 – Com crescimento econômico anual superior a 10% e atraentes condições de investimento, devido aos baixos custos de infraestrutura e mão de obra, a Etiópia busca ansiosa deixar de ser um país de baixa renda para passar ao status de renda média na próxima década. O país tem 94 milhões de habitantes e é o segundo mais povoado da África depois da Nigéria, mas é predominantemente rural. Apenas 17,5% da população vive em áreas urbanas, principalmente em Adis Abeba.

Também é uma das economias de mais rápido crescimento do continente. A previsão é que, entre 2015 e 2018, a Etiópia cresça, em média, 7,3%, segundo estudo da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi). De 2006-2007 a 2012-2013, o crescimento econômico duplicou a renda por pessoa para US$ 550 dólares, e a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza caiu de 38,9% em 2004, para 29,6% em 2011. Mas o governo tem como imperativo a erradicação da pobreza.

O objetivo oficial de elevar seu status a país de renda média é considerado realista, mas um diplomata asiático acreditado junto à União Africana em Adis Abeba apontou que há motivos para ceticismo. A razão, a seu ver, é que os investidores continuam enfrentando restrições comerciais, embora os investimentos estrangeiros diretos tenham subido de 0,5% em 2008, para 2% em 2013. Segundo a Onudi, isso se relaciona especialmente com a logística fronteiriça. Jibuti, principal porto comercial utilizado pela Etiópia, fica a 781 quilômetros de Adis Abeba, o que converte o custo de transporte terrestre em um fator crítico.

Foi nesse contexto que a Onudi elegeu a Etiópia, junto com o Senegal, para país-piloto de seu ambicioso programa de “desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável” (Isid), que pretende industrializar países em desenvolvimento para neles erradicar a pobreza e criar prosperidade. “Não há um só país no mundo que tenha alcançado um alto estado de desenvolvimento econômico e social sem ter desenvolvido um setor industrializado avançado”, afirmou o diretor-geral da Onudi, Li Yong.

O que diferencia o programa Isid é que “os modos atuais de industrialização não são nem plenamente inclusivos nem adequadamente sustentáveis”, acrescentou Yong. Portanto, a Onudi não só promove a industrialização, mas também tenta abordar as necessidades e os desafios do mundo globalizado, que demandam conceitos voltados para o futuro. Promovendo a sustentabilidade que deveria ser inerente à industrialização, a Onudi diz que o programa do Isid leva em conta fatores ambientais junto com seus países e organizações associadas.

Também fomenta uma industrialização inclusiva quanto à divisão de benefícios da prosperidade gerada para todas as partes envolvidas, promovendo dessa forma a igualdade social dentro das populações, bem como uma distribuição equitativa entre homens e mulheres, para garantir que ninguém fique excluído do crescimento. Para mostrar como podem ser cumpridos estes objetivos e para promover o Isid, a Onudi organizou o Segundo Fórum Sobre Desenvolvimento Industrial Inclusivo e Sustentável em Alianças, que aconteceu nos dias 4 e 5 deste mês, em Viena, na Áustria.

“Temos a visão de um mundo justo onde os recursos são otimizados para o bem da população. O desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável pode ser um vetor do sucesso”, ressaltou na abertura do encontro o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon. Ban, que é um forte promotor da agenda do desenvolvimento sustentável, também afirmou que, para conseguir esse objetivo, “o desenvolvimento industrial deve abandonar os velhos modelos que contaminam. Por outro lado, precisamos de enfoques que ajudem as comunidades a preservarem seus recursos”.

Os primeiros-ministros dos países-piloto selecionados para o Isid, o etíope Lemariam Desalegn e o senegalês Mahammed Dionne, elogiaram o fato de a Onudi implementar um programa de associação. O ministro da indústria da Etiópia, Mebrahtu Meles, destacou que construir zonas industriais vai acelerar a industrialização, como ocorreu em países asiáticos, como a China.

Os participantes do fórum expressaram otimismo quanto a que a Etiópia consiga o crescimento econômico mediante um desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável, desde que os líderes se concentrem nas vantagens comparativas do país, ao mesmo tempo em que melhorem a infraestrutura. Também afirmaram que a integração regional pode ser estratégica para o desenvolvimento do país, e pediram maior exploração do papel da Onudi como catalisadora da transformação.

Em particular, são necessários esforços adicionais para potencializar a produtividade em indústrias leves existentes, como a de processamento de alimentos agrícolas, a têxtil e a do vestuário, e a do couro e seus derivados. Além disso, destacaram a necessidade de diversificar, lançando novas indústrias como a dos metais pesados e de produtos químicos, e potencializando as indústrias de alta tecnologia, por exemplo em matéria de embalagem, biotecnologia, eletrônica, informação e comunicações.

Os embaixadores da China, Japão e Itália na Etiópia (Xie Xiaoyan, Kazuhiro Suzuki e Giuseppe Mistretta, respectivamente), bem como representantes de empresas e bancos de desenvolvimento, asseguraram a continuação de sua ajuda para que a Etiópia adote o caminho para o desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável, principalmente por intermédio da Onudi. Envolverde/IPS