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Estados Unidos cumprirão suas promessas com a “nova África?”

O presidente Barack Obama sobe ao palco de um fórum de negócios, no contexto da Cúpula de Líderes dos Estados Unidos e da África realizada em Washington. Foto: Casa Branca, por Pete Souza (foto oficial).
O presidente Barack Obama sobe ao palco de um fórum de negócios, no contexto da Cúpula de Líderes dos Estados Unidos e da África realizada em Washington. Foto: Casa Branca, por Pete Souza (foto oficial).

 

Washington, Estados Unidos, 8/8/2014 – Representantes governamentais e especialistas do setor privado e da sociedade civil analisam as oportunidades comerciais e os obstáculos que vieram à luz após a inédita Cúpula de Líderes dos Estados Unidos e da África, realizada nesta capital esta semana. Obama se referiu, no dia 5, aos US$ 17 bilhões prometidos para o desenvolvimento das oportunidades de negócios na África e declarou sua vontade de que os Estados Unidos sejam um “bom” e “equitativo” sócio de longo prazo “para o sucesso do continente”.

“Não podemos perder de vista a nova África que está surgindo”, disse Obama nesse dia, quando anunciou as novas alianças privadas, bem como a reafirmação de seu compromisso com a melhoria da infraestrutura, a expansão do comércio e as oportunidades educativas para os jovens empresários africanos.

Embora em sua maioria os anúncios beneficiem diretamente o setor privado dos Estados Unidos, as organizações sem fins lucrativos expressaram um entusiasmo semelhante com a promessa que a reunião ofereceu, de maior compromisso econômico com a África. A Cúpula “proporcionou uma oportunidade para que os Estados Unidos considerem a África como uma terra de oportunidades”, destacou Gregory Adams, diretor de eficácia da ajuda na sucursal norte-americana da organização humanitária Oxfam.

O encontro também contribuiu para levar as relações entre Estados Unidos e África do “patrocínio para a associação”, e facilitou intercâmbios “bons e diretos” entre os representantes da sociedade civil das duas partes, afirmou Adams à IPS. Mas alertou que nem todas as vozes africanas foram ouvidas nos três dias da Cúpula, e que falta fazer uma “distinção importante” entre os diversos interesses econômicos dos africanos.

“Os líderes africanos pedem o investimento dos Estados Unidos, enquanto os africanos reclamam postos de trabalho, e esta defasagem não foi totalmente abordada”, apontou Adams, acrescentando que o “enorme” crescimento econômico não se reflete necessariamente na geração de empregos.

“Se é verdade que passamos do patrocínio à associação, vamos precisar de um esforço mais intenso para ouvir a diversidade das vozes africanas e fazer mais para nos relacionarmos com a sociedade civil e as empresas locais”, disse Adams sobre a ausência tradicional dos representantes das pequenas e médias empresas da África nas conversações de negócios em grande escala entre este país e o continente.

Da cúpula de Washington participaram delegações de mais de 50 países africanos, incluídos mais de 40 chefes de Estado, para falar de segurança, comércio, infraestrutura e governança com o presidente Obama e outros altos funcionários dos Estados Unidos. Anunciada em 2013 durante a visita de Obama à África, a Cúpula foi a primeira de seu tipo na história dos Estados Unidos e representa a tentativa de Washington de ficar em dia com a União Europeia e a China, cujos governos recorreram a este tipo de reunião no passado como trampolim para ampliar as relações econômicas e fortalecer os laços diplomáticos com o continente africano.

O eixo central do encontro se deu no dia 5, com o Fórum de Negócios dos Estados Unidos e da África, no qual Washington e diretores do Banco Mundial e os presidentes de grandes empresas deste país, como General Electric, Coca-Cola, Walmart, Marriot e Mastercard, prometeram ajuda a numerosos setores africanos. A ênfase foi dada ao programa Energia para a África, de Obama, que reuniu US$ 12 bilhões dos setores público e privado para uma iniciativa que proporcionará eletricidade a 600 milhões de africanos.

Ben Leo, sócio do Centro para o Desenvolvimento Mundial (CGD), uma instituição de pesquisas com sede em Washington, afirmou que o Energia para a África é um passo prévio fundamental para o desenvolvimento empresarial na região. “Se alguns desses compromissos no contexto do programa Energia para a África forem eficazes para abordar tanto o acesso à eletricidade como a estabilidade da mesma, trará importantes benefícios para as pequenas e médias empresas africanas”, destacou à IPS.

Porém, o Conselho do Atlântico, uma instituição acadêmica de Washington, considera que a região ainda carece de uma infraestrutura adequada e sofre de profundas desvantagens geográficas. Em um informe publicado no dia 6, a instituição cita esses dois fatores, junto com a necessidade de contar com mais informação sobre os mercados e uma ampliação mais sólida das políticas de Estado, como os obstáculos que afligem o desenvolvimento dos negócios na África subsaariana.

“Embora esse tipo de obstáculo afete todo o mundo, os Estados Unidos são o país mais frustrado com a falta de informação, porque têm os investidores que mais recorrem a esses dados no mundo”, pontuou Diana Layfield, presidente de Operações na África do Standard Chartered Bank, durante a apresentação do informe. Porém, se forem aproveitadas as inovações, uma virtude que Leo descreve como um dos “pontos fortes dos Estados Unidos”, o Conselho do Atlântico é otimista quanto ao aumento das oportunidades de investimento na África subsaariana.

Desde o uso de imagens via satélite para identificar os padrões do trânsito às pesquisas por mensagens de texto via telefone celular, as empresas privadas utilizam a tecnologia para obter informação básica sobre o comportamento dos consumidores que, segundo o informe, não conseguiriam por fontes do setor público. Entretanto, para Adams, essas inovações tecnológicas passam por cima de um ponto fundamental.

“Na verdade, creio que pularemos um passo como país se não olharmos para o futuro 30 anos e nos perguntarmos se todo esse investimento não será uma estrela fugaz, ou se nos levará à criação de empresas locais que deem lugar à criação de empregos”, afirmou Adams. Os Estados Unidos “são incrivelmente pouco transparentes e que raramente informam aos países sobre os detalhes de sua própria ajuda. Washington deve fazer muito mais se quiser, de verdade, apoiar a África”, concluiu. Envolverde/IPS