Arquivo

Disputa eleitoral marcará agenda Cuba- Estados Unidos

Havana, Cuba, 5/10/2011 – Uma nova proposta de diálogo lançada por Cuba aos Estados Unidos, para discutir de assuntos humanitários a energéticos, tem, segundo analistas, escassas perspectivas de avanço no contexto da próxima campanha por um segundo mandato para Barack Obama. Especialistas ouvidos pela IPS concordam que esse cenário, afetado por uma situação interna complexa, é pouco propício para maiores mudanças na política norte-americana em relação a Havana.

“Seria o caso de perguntar o que Obama ganharia no caso de falar ou negociar com Cuba”, disse um pesquisador que pediu para não ser identificado. Para ele, “toda regra tem exceção”, mas quando se preparam para um segundo mandato, os governantes norte-americanos preferem deixar Cuba de fora. “Em termos reais, creio que o que Obama menos quer agora é que falem deste país, sobretudo com tantos problemas internos que devem ser suas prioridades”, ressaltou.

Dos Estados Unidos, o especialista em política Arturo López Levy, conferencista da Universidade de Denver, disse à IPS acreditar que Obama nada “ganharia em reverter as flexibilizações políticas já adotadas, mas tampouco tem incentivos financeiros ou de votos suficientes para se arriscar em passos mais ousados de abertura para Cuba antes das eleições de novembro de 2012.

“Com o olhar centrado em vencer as eleições no sul da Flórida, nada dramático deve se esperar de Washington em sua política para Havana”, disse o estudioso cubano residente nos Estados Unidos. Porém, esclareceu que, “apesar das tensões associadas à próxima campanha eleitoral, um diálogo como o proposto por Cuba também interessa” à Casa Branca.

Na semana passada, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, reiterou na Organização das Nações Unidas (ONU) disposição e interesse em avançar para a normalização das relações com só Estados Unidos. Os dois países não mantêm vínculos diplomáticos desde a década de 1960, embora canalizem seus assuntos consulares por escritórios instalados em suas respectivas capitais.

O cardápio de problemas bilaterais que poderiam ser solucionados pelo diálogo inclui assuntos humanitários, negociação de acordos de cooperação contra o narcotráfico, terrorismo, tráfico de pessoas, desastres naturais e proteção ambiental, inclusive diante de vazamentos de petróleo como o registrado na plataforma da British Petroleum no Golfo do México.

Para López-Levy, avanços nessas e em outras áreas, entre as quais assuntos de emigração, “podem espalhar boa vontade” para toda a relação bilateral, criando condições para um grande pacote de soluções inclusive para temas mais difíceis. “A recriminação e a rejeição ao diálogo não farão mais manejáveis os conflitos”, alertou.

“É necessário um diálogo paciente entre as autoridades políticas de Cuba e dos Estados Unidos, com linguagem calibrada, e expectativas discretas em temas específicos, pensando em formas de destravar os temas complicados da relação geral’, acrescentou o especialista, para quem “impõe-se preservar a comunicação entre os governos para evitar uma sequência de deterioração”.

Em sua ofensiva diplomática na ONU, no final de setembro, Rodríguez incluiu uma visita ao jornal The New York Times, onde se referiu às duas maiores dificuldades que enfrenta hoje para conduzir as conflitivas relações bilaterais para a normalidade. Por um lado, está a situação do norte-americano Alan Gross, condenado a 15 anos de prisão em Havana acusado de planejar atos subversivos contra Cuba, cuja liberdade é solicitada por Washington com insistência. Segundo Rodríguez, a solução deste caso passa pelo discurso humanitário e pela reciprocidade.

Segundo o jornal, o chanceler evitou vincular o caso Gross ao dos cinco agentes cubanos que cumprem duras penas nos Estados Unidos, embora tenha reiterado que Obama poderia perdoá-los “como um ato humanitário, que seria agradecido por suas mães, esposas e por todo povo cubano”. Lópéz-Levy disse que um tema onde as chances de avanço no curto prazo são mínimas é a negociação de gestos humanitários recíprocos para a libertação de Gross e dos cinco cubanos presos na Flórida em 1998.

“Embora os dois governos não considerem os casos como equivalentes, suas racionalidades contrapostas não geram empatia para sua contraparte”, afirmou o especialista. Para Havana, um indulto presidencial aos cinco cubanos não é uma precondição para negociar outros temas, mas um gesto humanitário ou de justiça imprescindível. “Na Casa Branca, tal indulto, e o tipo de relação com Cuba que permitiria, são impensáveis do ponto de vista do cálculo eleitoral atual”, avaliou.

Após recordar que Washington disse que nenhum gesto de conciliação substancial para Cuba ocorrerá se Gross não for libertado, o acadêmico disse que a esperança de uma mudança dessas premissas é improvável antes de novembro de 2012. O pior é que nada garante que novembro de 2012 torne essas diferenças mais manejáveis, particularmente se houver uma vitória do hoje opositor Partido Republicano.

“É uma situação cruel, porque os incentivos políticos para resolver os casos de Gross e dos cinco cubanos em separado e por seus próprios méritos são escassos”, disse López-Levy. Em todo caso, este acadêmico e outros especialistas concordam que o balanço destes três anos de governo de Obama em relação a Cuba é positivo, mas insuficiente se comparado com as numerosas áreas nas quais seria possível maior cooperação entre as duas nações.

“Inclusive, sem fazer mudanças fundamentais de políticas para Cuba, o presidente Obama criou um cenário diferente, com mais facilidades de comunicação entre as famílias, aumentaram as viagens, as remessas de dinheiro”, disse à IPS o ensaísta Esteban Morales, estudioso dos Estados Unidos e dos vínculos com seu país. Sobre o jogo eleitoral norte-americano e seu eventual impacto nas relações com Havana, Morales considera que o melhor cenário seria aquele em que Cuba supera suas dificuldades econômicas e Obama consegue reverter a situação interna a seu favor e seja reeleito. Envolverde/IPS