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Dezenas morrem em ataque contra tribunal afegão

Doha, Catar, 5/4/2013 – Atacantes suicidas disfarçados de soldados atacaram a sede de um tribunal no ocidente do Afeganistão, matando pelo menos 54 pessoas, em uma tentativa de libertar supostos membros do movimento extremista Talibã que seriam julgados. Oito atacantes morreram e mais de cem pessoas ficaram feridas na ação realizada no dia 3, em Farah, principal cidade da província de mesmo nome. Não há notícias quanto aos acusados terem conseguido escapar do tribunal, mas um médico do hospital disse que um prisioneiro estava entre os feridos.

O múltiplo ataque, com explosivos e fuzis, apresenta dúvidas sobre a capacidade dos afegãos assumirem a segurança nacional, enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) prevê reduzir sua presença até o final do próximo ano. O número de mortos é o maior já causado por um único ataque no Afeganistão desde que, em dezembro de 2011, um atentado com explosivos contra um santuário muçulmano xiita matou 80 pessoas em Cabul.

“O ataque acabou, mas, lamentavelmente, o número de vítimas aumentou”, disse Mohammad Akram Jpalwak, governador da província de Farah, à agência AFP. “No total, 34 civis e 12 policiais das forças de segurança afegãs morreram. Também descobrimos os cadáveres de oito atacantes, e mais de cem pessoas ficaram feridas”, acrescentou. Jpalwak afirmou que um grupo de presos, supostos militantes do Talibã, estava sendo julgado no dia 3, sem dar maiores detalhes.

Abdul Rahman Zhawandon, porta-voz do governador, informou que a área foi isolada, os disparos prosseguiram por todo o dia e alguns atacantes também entraram em uma agência do Banco de Cabul localizada junto ao prédio do tribunal. Talibãs que combatem o governo do presidente Hamid Karzai assumiram o ataque. “Nossos combatentes atacaram várias sedes do governo em Farah, segundo a tática planejada, utilizando armas pequenas e granadas”, afirmou o grupo em seu site na internet. A ação aconteceu ao se saber que “o governo de Karzai queria julgar vários combatentes de um modo cruel neste tribunal”.

Os talibãs costumam escolher para alvo edifícios governamentais, e vão vestidos com jalecos explosivos, foguetes e metralhadoras. “Por volta das oito da manhã (hora local), cinco homens ocupando dois veículos de estilo militar dirigiram até a sede do tribunal, um dos carros explodiu na porta e três atacantes entraram no prédio”, disse o chefe de polícia de Farah, Agha Noor Kentos. Wakil Ahmad, médico do hospital da cidade, disse que dezenas de feridos estavam sendo atendidas ali, entre eles dois juízes e um prisioneiro.

O escritório do governador fica a cerca de 200 metros da cena do crime. No ano passado, homens vestidos como policiais e usando jalecos explosivos atacaram uma sede governamental em Farah, matando sete pessoas. Em novembro, explosivo colocado em uma estrada matou 17 civis, na maioria mulheres e crianças, que se dirigiam a um casamento na cidade.

Jennifer Glasse, informando para a rede de televisão árabe Al Jazzera, lembrou seu encontro com um ex-comandante do Talibã na semana passada, quando foi cometido um atentado contra um centro de treinamento policial, antes que Karzai viajasse para Doha para manter conversações sobre a possível abertura de um escritório do movimento extremista na capital do Catar. O ex-comandante disse a Glasse que ainda há guerra e que enquanto não for dada resposta às reclamações do Talibã, como a libertação de seus prisioneiros, este tipo de ação violenta continuará.

A insurgência Talibã começou quando este movimento foi desalojado do poder, que exercia desde 1996 em boa parte do território afegão, pela invasão norte-americana de outubro de 2001. O grupo ampliou cada vez mais o raio de seus ataques, saindo de seus principais redutos no oriente e sul, onde as forças da Otan centraram sua atenção, para outras áreas, como Farah, que faz limite com o Irã. As previsões são de que as tropas da Otan se retirem do Afeganistão no final de 2014, deixando a segurança em mãos afegãs. Há o temor de que a violência aumente com sua partida. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.