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Corrida para salvar a indústria bananeira do Caribe

http://www.ipsnoticias.net/2014/03/carrera-para-salvar-la-industria-bananera-del-caribe/
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Londonderry, Dominica, 20/3/2014 – Quando o furacão Dean açoitou Dominica, em 16 de agosto de 2007, deixou uma esteira de destruição e morte, e dizimou a vital indústria bananeira do país. Sete anos depois, o setor agrícola dominiquês continua vulnerável aos desastres naturais e à variabilidade climática. A cada ano, produtores desse Estado insular caribenho perdem uma significativa parte de seus cultivos e do gado na temporada de furacões, que dura seis meses.

“Nosso primeiro grande furacão foi o David, em 1979, que atingiu todo o país. Tudo veio abaixo”, contou à IPS o ex-primeiro-ministro Edison James (1995-2000), que também é agricultor. “Desde então sofremos tempestades e furacões de tempos em tempos, o que causa danos de magnitude variada. Às vezes, temos destruição de 90% das plantações, principalmente de banana e abacate, e todos os cultivos arbóreos em geral”, detalhou.

A indústria bananeira é uma fonte estratégica de divisas para muitos países caribenhos, entre eles Dominica. Essa ilha produz cerca de 30 mil toneladas de banana por ano, obtendo cerca de US$ 55 milhões. As vizinhas Santa Lucia e São Vicente e Granadinas, que vendem de forma conjunta sua produção sob a mesma marca – Windward Islands Banana – ganham, em média, US$ 68 milhões por ano.

As indústria bananeira também é o segundo setor que mais emprega em Dominica, depois do público. No país, há pelo menos seis mil produtores, que fornecem trabalho a muitas outras pessoas. Porém, pesquisas científicas demonstram que os mais leves aumentos nas temperaturas podem afetar a produção bananeira ou mesmo acabar com ela. James optou pelo multicultivo há uma década. Mas sofreu grandes perdas em suas plantações de banana, coco, quiabo e outros.

O ex-primeiro-ministro disse que isto ocorreu por causa das chuvas que açoitam de forma imprevisível o país, ironicamente conhecido por seus muitos rios e sua abundância de água.

Também as secas são tão intensas que “o país foi obrigado a adotar sistemas de irrigação. O vento e as secas são os fatores climáticos que mais nos afetam em Dominica”, ressaltou James.

Rupert Lay, especialista em recursos hídricos para o projeto Redução de Riscos para o Capital Humano e Natural frente à Mudança Climática, da Organização dos Estados do Caribe Oriental (Oeco), destacou que as perdas agrícolas são cada vez mais comuns na região. “A mudança climática e a variabilidade estão distorcendo o modus operandi dos agricultores, e como consequência seus volumes de produção são imprevisíveis e esporádicos”, explicou à IPS. “As variações na produção são amplas, desde colheitas ótimas até rendimento zero, e isso não se aplica só aos cultivos, mas também ao gado”, acrescentou.

O Banco Mundial informou que a contribuição da agricultura para o produto interno bruto de Dominica caiu sistematicamente com cada desastre natural, e o setor nunca pôde recuperar seus níveis ótimos. A maior parte da queda é atribuída à perda de cultivos, e especificamente à diminuição da produção bananeira.

Dados do Banco Mundial mostram que a produção agrícola respondeu por 12,2% do PIB, e todo o setor teria caído 10,6% em 2010, depois de ter experimentado crescimento de 1,5% em 2009. Os cultivos foram severamente afetados pela grande seca de 2010, disse o Banco, e a queda da agricultura foi particularmente acentuada a partir do furacão Hugo, em 1989

O ministro do Meio Ambiente, Kenneth Darroux, lamentou o fato de Dominica, que poderia ser autossuficiente e até abastecer nações vizinhas, hoje não tem opção que não seja importar produtos agrícolas, o que representa uma carga para sua economia e uma ameaça para sua segurança alimentar. É necessário adotar “medidas de adaptação para criar resiliência” frente ao aquecimento global e para que o “agricultor tenha maior capacidade de manter níveis previsíveis de produção”, opinou. Envolverde/IPS