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Caravana mexicana pela paz bate às portas de Washington

A caravana pelas ruas de Washington, com Javier Sicilia (de chapéu) ao centro. Foto: Cortesia Caravan4Peace

 

Washington, Estados Unidos, 13/9/2012 – Após um mês atravessando a geografia dos Estados Unidos, uma caravana de vítimas da violência no México chegou a Washington. Com mais de 50 mil mortos e incontáveis casos de torturas e deslocamentos nos últimos seis anos, a Caravana pela Paz com Justiça e Dignidade veio dizer aos Estados Unidos que suas políticas de guerra às drogas serviram apenas para intensificar a impunidade no México, sem nada fazer para evitar o fluxo de armas norte-americanas para o país vizinho.

Nos três dias na capital norte-americana, entre o dia 10 e ontem, o grupo de familiares de vítimas transformados em ativistas compartilharam suas experiências com representantes do governo, moradores e grupos da sociedade civil. A extensa jornada terminou ontem à noite com uma procissão e vigília pela paz, apoiada por um amplo arco de congregações religiosas de Washington, organizações de moradores e comunitárias.

No dia 12 de agosto, a caravana iniciou seu primeiro trecho em território norte-americano, da cidade de San Diego até Los Angeles, com mais de cem pessoas encabeçadas por Javier Sicilia, poeta cujo filho foi assassinado em março de 2011 e que desde então mobilizou parentes como ele em duas longas caravanas pelo território mexicano. Essas marchas, que cruzaram o México desde Chiapas, ao sul, até Ciudad Juárez, ao norte, expuseram o sofrimento das vítimas e suas reclamações por justiça e, talvez pela primeira vez, conseguiram quebrar o relato oficial da violência, dominante nos meios de comunicação desse país.

Nos Estados Unidos, a caravana passou por quase 20 Estados em seu trajeto até o nordeste, compartilhando seus testemunhos e abrindo espaços para o diálogo com as comunidades que visitava, muitas delas também afetadas pela violência armada e pelas excessivas leis antidrogas. Os participantes da marcha contaram as histórias de seus entes queridos e as ameaças que receberam por denunciarem a impunidade, às vezes dos cartéis de droga, às vezes das forças de segurança, e frequentemente de ambos.

Esta caravana serviu para insuflar esperança – nas vítimas, em suas famílias e nos que compartilham seu luto – de que a violência pode ser derrotada e de que a justiça é possível. Bem mais de 50 mil pessoas morreram nos últimos seis anos devido à violência da guerra contra as drogas no México. Junto com os assassinatos e sequestros cometidos pelas máfias, organizações de direitos humanos também denunciam numerosos casos de torturas, extorsões, execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados cometidos por forças do Estado.

E mais, a caravana nos recorda que a violência no México não é aleatória, mas é o resultado de políticas de segurança equivocadas que priorizam a proibição das drogas em lugar de proibir as armas de assalto. Os testemunhos que ouvimos dos valorosos sobreviventes deixam mais do que claro até que ponto essas políticas fizeram carne no país vizinho.

Em Washington, a caravana argumenta sobre a necessidade da paz, com justiça e dignidade. Seus manifestantes cruzaram fronteiras e Estados para reafirmar seu amor pelos que morreram e sua fé em que a justiça é imprescindível. Compartilharam uma realidade que devemos conhecer, configurada pela total militarização e pelo tráfico de armas. Agora nos cabe reafirmar o que acreditamos. Integrar-se à caravana é uma boa forma de começar. Envolverde/IPS

* Salvador G. Sarmiento é responsável pelo setor de promoção e defesa do Robert F. Kennedy Center for Justice and Human Rights, com sede em Washington.