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Candidata desafia a tradição nas áreas tribais do Paquistão

Badam Zari (D) candidata às eleições nas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata). Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS.

Agência Bajaur, Paquistão, 11/4/2013 – “O único motivo para me candidatar é servir ao meu povo, especialmente às mulheres que até agora não têm um papel político”, disse Badam Zari, de 40 anos. “Creio que podemos obter avanços apenas atraindo mulheres para a política”, acrescentou Zari, que apresentou sua candidatura à Comissão Eleitoral do Paquistão para as eleições de 11 de maio nas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata), na fronteira com o Afeganistão.

Zari é candidata por Bajaur, um dos sete distritos semi-autônomos das Fata, e sua pequena mas atraente casa, na aldeia de Arang, ferve de atividade porque as mulheres do bairro se aproximaram para felicitá-la por sua demonstração de valor exemplar ao se candidatar.

Em 1997, o governo federal concedeu o direito de voto aos seis milhões de residentes das áreas tribais. Antes, apenas os anciãos designados pelo governo, chamados Maliks, tinham direito de votar ou serem candidatos. Em janeiro passado, a Comissão Eleitoral do Paquistão propôs uma emenda à Lei de Representação do Povo, de 1976, que obriga cada centro de votação a ter pelo menos 10% de votos emitidos por mulheres.

“Me preocupam muito as mulheres das áreas tribais; a maioria fica em suas casas e não podem progredir”, disse Zari à IPS. “Minha única ambição é lutar para melhorar sua situação na agência de Bajaur. As mulheres daqui sofrem porque nenhum legislador trabalha por seu desenvolvimento”, acrescentou, ressaltando que sua atividade animará as mulheres a irem votar.

Mas, há indícios sugerindo que as mulheres continuarão sem votar nas Fata e na maioria do país, especialmente em zonas rurais, onde é muito difícil romper a tradição. A não governamental Rede de Eleições Livres e Justas disse que as mulheres não puderam votar em 564 dos 64.176 centros de votação nas eleições gerais de 2008. Os partidos políticos em Dir, Kohistão, Battagram e outros distritos da província de Jyber Pajtunjwa (JP), vizinha das Fata, decidiram proibir o voto feminino alegando tradições locais.

Dados oficiais mostram que há no Paquistão 37 milhões de mulheres e mais de 48 milhões de homens habilitados a votar. Mas da renovação em 2008 de 12 assentos na Assembleia Nacional participaram apenas 30,4% dos eleitores. As mulheres, como costuma ocorrer, ficaram de fora. Elas nunca votaram nas Fata, onde vivem 1,8 milhão de pessoas, das quais quase 600 mil são mulheres. Em Bajaur elas constituem 37% da população.

A decisão de Zari de ser candidata não tem precedentes na história do Paquistão e é um passo crucial para a emancipação feminina, especialmente nesta região. “Nenhuma mulher comparece aos locais de votação nas Fata”, disse à IPS a professora Zahra Shah, que trabalha no departamento de sociologia da Universidade de Peshawar, capital de JP. “A decisão de Zari de disputar as eleições provavelmente seja bem-vinda por sua audácia e seu valor”, ressaltou.

Zari não tem filhos e apenas pôde estudar. Mas está decidida a defender o direito à educação para meninos e meninas de sua região e ajudá-los a fazer parte do desenvolvimento. Também disse à IPS que não se intimida pela presença de gente rica e influente nas eleições. Está decidida a levar a voz feminina à Assembleia Nacional. Zari tem apoio total de seu marido, Sultan Jan, professor da escola pública de Bajaur. De fato, ele afirmou que lutará pelos direitos femininos junto a ela.

“Somos pobres, mas estamos decididos a fazer uma grande campanha para conseguir a vitória”, declarou Jan. “O triunfo de Zari será o de todas as mulheres das Fata. Sofremos uma imensa pressão para retirar sua candidatura, mas não há volta e estaremos totalmente preparados para as eleições”, enfatizou.

Ela também conta com o apoio de outras mulheres. “Vamos apoiá-la porque é a única que demonstrou valor contra todas as adversidades”, afirmou Jamila Bibi, originária do mesmo distrito pelo qual Zari é candidata. “Ela precisa do nosso apoio incondicional”, disse à IPS. “Também espero que os homens a apoiem. Planejamos ir de porta em porta para fazer a campanha por Zari. É nosso farol de esperança”, acrescentou Bibi.

Zari não é a única a abrir caminho com valor no mundo da política. Em JP, Nusrat Begum também apresentou sua candidatura e tem apoio das mulheres. Begum, de 28 anos e formada pela Universidade de Peshawar, também é a primeira mulher de Baixo Dir a disputar as eleições. Ambas se apresentam como candidatas independentes. Envolverde/IPS