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Big Mac, um cardápio pouco olímpico

Tocha olímpica chegando à Faculdade Tretherras, no povoado inglês de Newquayon. Foto: Bobchin1941/CC by 2.0

Nova York, Estados Unidos, 24/7/2012 – Faltando poucos dias para o começo dos Jogos Olímpicos de Londres, no dia 27, as críticas à já tradicional associação dos organizadores com o patrocinador McDonald’s surgiram entre as manchetes. Este ano, protestam não apenas ativistas da sociedade civil contra o gigante do fast food, como também dirigentes políticos. “Londres ganhou o direito de organizar os Jogos de 2012 com a promessa de deixar um legado para crianças mais sãs e ativas”, afirmou Jenny Jones, do Partido Verde, diante da Assembleia de Londres, de 25 membros, dominada pelo Partido Trabalhista.

“Entretanto, o próprio Comitê Olímpico Internacional (COI), que cedeu a organização a Londres, insiste em manter os acordos de patrocínio com os fornecedores de alimentos altamente calóricos que favorecem a ameaça de uma epidemia de obesidade”, detalhou Jones, que propôs excluir McDonald’s e Coca-Cola, entre outros, das empresas patrocinadoras. A estratégia de mercado do McDonald’s significa que o investimento em formação esportiva segue lado a lado com a venda de comida do tipo fast food a baixo preço e com muitas calorias. Na Grã-Bretanha, a companhia oferece US$ 117 mil aos clubes locais de futebol.

“O McDonald’s adiantou-se às críticas contra sua comida suja há 30 ou 40 anos. Todas estas décadas esteve construindo uma estrutura e boa vontade para desviar as acusações sobre o impacto de seus produtos na saúde”, observou à IPS Sara Deon, da Corporate Accountability International, destacando que o patrocínio dos Jogos Olímpicos é um exemplo dessa política. O McDonald’s é patrocinador oficial dos Jogos Olímpicos desde 1976. Há pouco, conseguiu ampliar seu contrato com o COI até 2020. A Coca-Cola também faz parte dos Jogos desde 1926. Segundo Benjamin Seeley, do COI, a companhia “patrocina mais de 250 atividades físicas e programas de educação nutricional em mais de cem países”.

Mais de 40% da renda para a organização da competição mundial depende desses acordos comerciais, e McDonald’s e Coca-Cola são dois dos principais contribuintes. A rede de fast food não respondeu aos reiterados pedidos de comentários sobre a qualidade de seus produtos em relação às necessidades nutricionais de adultos e crianças, e a respeito das críticas contra sua promoção das Olimpíadas.

Médicos e defensores de uma boa alimentação também se mostraram preocupados pelo fato de as companhias serem patrocinadores oficiais, especialmente no contexto do crescente problema de obesidade na Grã-Bretanha. Ativistas da sociedade civil planejaram boicotar o patrocínio do McDonald’s por considerar que não merece o prestígio dos Jogos Olímpicos por oferecer gordura e açúcares, e por suas manipuladoras iniciativas de mercado.

Ceci Charles-King, ativista pela justiça nutricional, disse à IPS que é preocupante “a mensagem para crianças e adultos. O McDonald’s é hidrogênio, sal e calorias vazias. A Coca-Cola é açúcar, xarope de milho rico em frutose e calorias vazias”. A Academia de Colégios Reais de Medicina declarou que o patrocínio do gigante do hambúrguer passa uma mensagem errônea na Grã-Bretanha, que concentra a maior quantidade de pessoas com sobrepeso na Europa – 22% da sua população é considerada obesa.

Ao se procurar os valores nutricionais do cardápio infantil no site do McDonald’s Estados Unidos só se encontra o conteúdo de calorias, gorduras e proteínas, e omite-se o de gorduras saturadas, sal, vitaminas e açúcares. É necessário buscar a informação em outra seção. “O alimento continua tendo muito açúcar, gordura e sal. As chamadas ‘opções saudáveis’ não servem para quem busca alternativas realmente saudáveis”, apontou Deon à IPS. “A fruta e a sobremesa com aveia e geleia contêm mais gramas de açúcar do que um barra de chocolate”, acrescentou, como exemplo. “São pouco mais que um veículo para vender produtos com gordura e pão, hambúrguer, batata frita e refrigerante”, ressaltou.

O investimento do McDonald’s em programas para promover a atividade física “não basta para a mudança significativa que precisamos para atender a epidemia de doenças derivadas da dieta, e a companhia deve centrar-se no assunto principal e acabar com o marketing voltado às crianças”, enfatizou Deon. O restaurante do McDonald’s na vila olímpica é o maior do mundo, com capacidade para 1,5 mil pessoas. A previsão é de que receba cerca de 14 mil clientes por dia durante os Jogos, e que distribua brinquedos temáticos com os cardápios infantis.

A diretora-executiva do McDonald’s para o norte da Europa, Jill McDonald, argumentou que os atletas sabem melhor do que ninguém o que devem comer. “O COI se associa com organizações que trabalham de acordo com os valores do movimento olímpico”, ressaltou Seeley à IPS. Este não é o primeiro ano que as empresas patrocinadoras dos Jogos Olímpicos são criticadas. Em 2008, defensores dos direitos humanos organizaram um boicote para acabar com a participação do McDonald’s e de outras empresas semelhantes.

Não só as companhias que vendem alimentos recebem críticas. Dirigentes e atletas indianos não participarão das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos em protesto pelo patrocínio da Dow Chemical. A empresa é proprietária da Union Carbide, cujo vazamento de gás em 1984 na cidade indiana de Bhopal causou a morte de mais de 22 mil pessoas, além da contaminação do solo e das fontes de água que levará anos para limpar. Envolverde/IPS