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Ataques do Talibã enfraquecem ainda mais a Otan

Washington, Estados Unidos, 19/4/2012 – Os últimos ataques do movimento islâmico Talibã no Afeganistão aumentaram a desconfiança no público norte-americano e inclusive no plano internacional sobre a estratégia militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). As ofensivas do dia 15, em Cabul e outras partes do país, também despertaram novas dúvidas sobre o prazo e o ritmo da prevista retirada das forças norte-americanas, bem como quanto ao destino do acordo estratégico de longo prazo que os Estados Unidos negociam com o Afeganistão.

Na semana anterior aos ataques, uma pesquisa da rede de televisão ABC News e do jornal The Washington Post mostrava que o apoio público nos Estados Unidos à guerra no Afeganistão caiu a um nível sem precedentes. Apenas 30% dos entrevistados disseram acreditar que o conflito nesse país vale a pena. Esta também foi a primeira pesquisa em que a maioria dos que se identificaram como simpatizantes do opositor Partido Republicano coincidiram com essa opinião. Destes, 62% disseram acreditar que a maioria dos afegãos se opõe às intenções dos Estados Unidos em seu país.

O anúncio feito no dia 17 pela primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, de que aceleraria a retirada de seus soldados representou um novo golpe para as esperanças de Washington de manter unidos seus aliados até o final de 2014. Este é o prazo acordado pela Otan para a retirada de todas as tropas. Argumentando melhorias na segurança, apesar dos ataques do dia 15, Gillard prometeu retirar a maioria de seus 1.550 soldados até o final do ano que vem.

Este prazo é igual ao anunciado em janeiro pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, para a retirada de quase quatro mil soldados. O mandatário tomou esta decisão depois que quatro soldados franceses foram assassinados por um recruta afegão. Até então, Paris, assim como os demais governos da Otan, havia prometido permanecer no Afeganistão até o final de 2014.

A possibilidade de outros países também acelerarem sua retirada será assunto nos corredores da próxima reunião de ministros de defesa da Otan, que acontecerá no final desta semana em Bruxelas, e depois em Chicago, na cúpula da aliança. Espera-se que nesta segunda instância Obama pressione seus colegas para que se comprometam a manter as tropas no Afeganistão até 2014 e a apoiar com dinheiro depois dessa data.

O próprio Obama prometeu retirar até o final de setembro deste ano cerca de 22 mil soldados dos 99 mil que ainda permanecem em solo afegão. Contudo, continua sendo motivo de intenso debate no Congresso o ritmo da retirada das tropas remanescentes até o final de 2014. Apoiado pela maioria de congressistas do governante Partido Democrata, o vice-presidente, Joe Biden, e o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Tom Donilon, estariam a favor de uma retirada relativamente rápida, reduzindo o contingente total para 40 mil soldados até meados do próximo ano.

No entanto, os altos chefes militares insistem em frear a retirada até que passe a “temporada de combates” do outono boreal de 2013. “Será necessária uma significativa força de combate até o final do ano que vem”, afirmou o general John Allen, comandante dos Estados Unidos e da Otan no Afeganistão. Os atentados do dia 15 seguramente alimentarão este debate, como o fizeram outros incidentes nos últimos meses. Entre eles, a queima de cópias do Alcorão na base aérea de Bagram por soldados norte-americanos e o massacre de 16 civis, entre eles uma criança, cometido por um soldado dos Estados Unidos perto da cidade de Kandahar.

Entre os últimos ataques dos islâmicos, que a maioria dos especialistas concorda que levam a marca da facção talibã paquistanesa Haqqani, estão três ataques em Cabul, dois em Jalalabad, um em Gardez e outro em Pul-e-Alam, todos no leste do país, onde nos últimos meses os Estados Unidos procuram fortalecer sua presença. No total, participaram apenas 39 combatentes talibãs, a maioria dos quais morreu. No entanto, cada uma das ofensivas exigiu a ajuda de dezenas de outros que forneceram informação de inteligência, armas e munições, logística e diversas formas de apoio. Cabul, considerada a cidade mais segura do país, ficou paralisada por 18 horas em consequência dos ataques.

Estas ofensivas causaram maiores baixas dentro do exército e da polícia do Afeganistão: morreram 11 efetivos. O ataque em Cabul só acabou depois que vários helicópteros norte-americanos dispararam repetidamente contra os locais ocupados pelos talibãs. Foi o combate mais forte na capital desde a invasão dos Estados Unidos para tirar do poder o Talibã, em 2001. A embaixada dos Estados Unidos e a base da Otan haviam sido atacadas em setembro, mas naquela ocasião os combates foram bem menos intensos.

Não há dúvidas de que os ataques do dia 15 pegaram completamente de surpresa o governo do Afeganistão, os Estados Unidos e a Otan. Foi “um erro de inteligência nosso, especialmente da Otan”, afirmou o escritório do presidente afegão, Hamid Karzai. E os analistas estão divididos sobre as consequências que esses atos poderão ter no debate dentro dos Estados Unidos.

Allen e os que se opõem a uma rápida retirada expressaram satisfação pela resposta e pelo desempenho das forças do governo afegão. “Ninguém está subestimando a seriedade dos ataques de hoje. Cada um teve o objetivo de enviar uma mensagem: que o governo legítimo e a soberania afegã estão em perigo. Porém, a própria resposta (das forças afegãs) foram uma prova de que isso é uma bobagem”, destacou.

Max Boot, destacado analista militar neoconservador, afirmou em seu blog que os ataques foram, de fato, um sinal de fraqueza da parte do Talibã. “Os insurgentes tiveram que realizar seus ataques a partir de edifícios abandonados, o que sugere que não contam com apoio na capital”, escreveu. Outros, pelo contrário, consideram que os atentados revelaram força por parte da insurgência e disseram que, na realidade, as forças afegãs demonstraram que ainda são dependentes das tropas ocidentais. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser lido em www.lobelog.com.

Jim Lobe*

 

Washington, Estados Unidos, 19/4/2012 – Os últimos ataques do movimento islâmico Talibã no Afeganistão aumentaram a desconfiança no público norte-americano e inclusive no plano internacional sobre a estratégia militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). As ofensivas do dia 15, em Cabul e outras partes do país, também despertaram novas dúvidas sobre o prazo e o ritmo da prevista retirada das forças norte-americanas, bem como quanto ao destino do acordo estratégico de longo prazo que os Estados Unidos negociam com o Afeganistão.

Na semana anterior aos ataques, uma pesquisa da rede de televisão ABC News e do jornal The Washington Post mostrava que o apoio público nos Estados Unidos à guerra no Afeganistão caiu a um nível sem precedentes. Apenas 30% dos entrevistados disseram acreditar que o conflito nesse país vale a pena. Esta também foi a primeira pesquisa em que a maioria dos que se identificaram como simpatizantes do opositor Partido Republicano coincidiram com essa opinião. Destes, 62% disseram acreditar que a maioria dos afegãos se opõe às intenções dos Estados Unidos em seu país.

O anúncio feito no dia 17 pela primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, de que aceleraria a retirada de seus soldados representou um novo golpe para as esperanças de Washington de manter unidos seus aliados até o final de 2014. Este é o prazo acordado pela Otan para a retirada de todas as tropas. Argumentando melhorias na segurança, apesar dos ataques do dia 15, Gillard prometeu retirar a maioria de seus 1.550 soldados até o final do ano que vem.

Este prazo é igual ao anunciado em janeiro pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, para a retirada de quase quatro mil soldados. O mandatário tomou esta decisão depois que quatro soldados franceses foram assassinados por um recruta afegão. Até então, Paris, assim como os demais governos da Otan, havia prometido permanecer no Afeganistão até o final de 2014.

A possibilidade de outros países também acelerarem sua retirada será assunto nos corredores da próxima reunião de ministros de defesa da Otan, que acontecerá no final desta semana em Bruxelas, e depois em Chicago, na cúpula da aliança. Espera-se que nesta segunda instância Obama pressione seus colegas para que se comprometam a manter as tropas no Afeganistão até 2014 e a apoiar com dinheiro depois dessa data.

O próprio Obama prometeu retirar até o final de setembro deste ano cerca de 22 mil soldados dos 99 mil que ainda permanecem em solo afegão. Contudo, continua sendo motivo de intenso debate no Congresso o ritmo da retirada das tropas remanescentes até o final de 2014. Apoiado pela maioria de congressistas do governante Partido Democrata, o vice-presidente, Joe Biden, e o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Tom Donilon, estariam a favor de uma retirada relativamente rápida, reduzindo o contingente total para 40 mil soldados até meados do próximo ano.

No entanto, os altos chefes militares insistem em frear a retirada até que passe a “temporada de combates” do outono boreal de 2013. “Será necessária uma significativa força de combate até o final do ano que vem”, afirmou o general John Allen, comandante dos Estados Unidos e da Otan no Afeganistão. Os atentados do dia 15 seguramente alimentarão este debate, como o fizeram outros incidentes nos últimos meses. Entre eles, a queima de cópias do Alcorão na base aérea de Bagram por soldados norte-americanos e o massacre de 16 civis, entre eles uma criança, cometido por um soldado dos Estados Unidos perto da cidade de Kandahar.

Entre os últimos ataques dos islâmicos, que a maioria dos especialistas concorda que levam a marca da facção talibã paquistanesa Haqqani, estão três ataques em Cabul, dois em Jalalabad, um em Gardez e outro em Pul-e-Alam, todos no leste do país, onde nos últimos meses os Estados Unidos procuram fortalecer sua presença. No total, participaram apenas 39 combatentes talibãs, a maioria dos quais morreu. No entanto, cada uma das ofensivas exigiu a ajuda de dezenas de outros que forneceram informação de inteligência, armas e munições, logística e diversas formas de apoio. Cabul, considerada a cidade mais segura do país, ficou paralisada por 18 horas em consequência dos ataques.

Estas ofensivas causaram maiores baixas dentro do exército e da polícia do Afeganistão: morreram 11 efetivos. O ataque em Cabul só acabou depois que vários helicópteros norte-americanos dispararam repetidamente contra os locais ocupados pelos talibãs. Foi o combate mais forte na capital desde a invasão dos Estados Unidos para tirar do poder o Talibã, em 2001. A embaixada dos Estados Unidos e a base da Otan haviam sido atacadas em setembro, mas naquela ocasião os combates foram bem menos intensos.

Não há dúvidas de que os ataques do dia 15 pegaram completamente de surpresa o governo do Afeganistão, os Estados Unidos e a Otan. Foi “um erro de inteligência nosso, especialmente da Otan”, afirmou o escritório do presidente afegão, Hamid Karzai. E os analistas estão divididos sobre as consequências que esses atos poderão ter no debate dentro dos Estados Unidos.

Allen e os que se opõem a uma rápida retirada expressaram satisfação pela resposta e pelo desempenho das forças do governo afegão. “Ninguém está subestimando a seriedade dos ataques de hoje. Cada um teve o objetivo de enviar uma mensagem: que o governo legítimo e a soberania afegã estão em perigo. Porém, a própria resposta (das forças afegãs) foram uma prova de que isso é uma bobagem”, destacou.

Max Boot, destacado analista militar neoconservador, afirmou em seu blog que os ataques foram, de fato, um sinal de fraqueza da parte do Talibã. “Os insurgentes tiveram que realizar seus ataques a partir de edifícios abandonados, o que sugere que não contam com apoio na capital”, escreveu. Outros, pelo contrário, consideram que os atentados revelaram força por parte da insurgência e disseram que, na realidade, as forças afegãs demonstraram que ainda são dependentes das tropas ocidentais. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser lido em www.lobelog.com.