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Arrecifes em situação de emergência

Arrecife coralino situado em uma reserva marinha da Jordânia, envolto em uma rede de pesca. Foto: Malik Naumann/Marine Photobank

 

Cairns, Austrália, 12/7/2012 – Cientistas especializados em arrecifes de corais pedem urgência aos governos no sentido de tomarem medidas para salvar estes ecossistemas, e afirmam que estarão permanentemente em guarda para ajudar dirigentes políticos e funcionários. Sem uma ação mundial para reduzir as emissões de dióxido de carbono e melhorar em boa parte a proteção local, a maioria dos arrecifes do mundo será devastada, e nas próximas décadas serão perdidos os benefícios que estes proporcionam a milhares de milhões de pessoas.

Este alerta foi dado por cientistas reunidos no XII Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Corais, que acontece até amanhã em Cairns, na Austrália. A comunidade científica internacional que trabalha neste tema está 100% de acordo quanto à urgente necessidade de se adotar medidas para proteger os arrecifes. Mais de 2.500 especialistas assinaram uma declaração de consenso para tais efeitos, informou Stephen Palumbi, diretor da Estação Marinha Hopkins, da Universidade de Stanford, no Estado da Califórnia, Estados Unidos.

“Será necessária uma forte liderança por parte dos políticos para haver mudanças no sentido de proteger os arrecifes. Queremos que eles saibam que estamos aqui para ajudar, para fornecer a ciência em apoio a essas mudanças”, afirmou Palumbi à IPS. Proteger os corais pode significar reduzir a pesca, prevenir a contaminação, limitar o desenvolvimento costeiro e outras medidas que podem ser vistas como politicamente perigosas ou difíceis, reconheceu o especialista. Entretanto, os cientistas estão prontos para apoiar os esforços locais e mundiais para salvar os arrecifes. “Temos a ciência para defender essas decisões. Há dados muito bons sobre como proteger os arrecifes, e sabemos que é o que funciona”, ressaltou.

Os mariscos são a principal fonte de proteínas para mais de 2,6 bilhões de pessoas, disse Jane Lubchenco, cientista marinha que está à frente do Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), dos Estados Unidos. Os corais são o habitat de muitas espécies de peixes, além de proteger as costas das tempestades. “São extremamente valiosos para a humanidade”, destacou Lubchenco em seu discurso perante mais de 2.100 participantes de mais de 80 países. “Um estudo de Belize estima que, sem arrecifes protegendo a faixa costeira, as tempestades causariam prejuízos de US$ 250 milhões”, afirmou, lembrando que na última década as ameaças aos arrecifes passaram de “preocupantes para alarmantes”.

Antes de meados deste século, metade dos arrecifes que restam experimentará descoloração severa, devido ao aumento das temperaturas oceânicas. Os corais podem se recuperar se a descoloração não durar muito tempo. A descoloração, a sobrepesca, a contaminação e as doenças arrasaram amplamente com as fabulosas comunidades coralinas do Mar do Caribe. A região perdeu 80% de seus corais desde a década de 1970, disse Jeremy Jackson, professor emérito de oceanografia do Instituto de Oceanografia Scripps.

Umas poucas áreas pequenas e bem protegidas, como as que rodeiam a Ilha de Bonaire, estão fazendo bem as coisas, declarou Jackson à IPS. Dito de outro modo, são só “os arrecifes de corais que estão muito distantes para serem contaminados ou saqueados”, acrescentou. Porém, no futuro, a descoloração e a acidificação dos oceanos terão impacto inclusive nos arrecifes mais remotos.

O dióxido de carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural deixou os oceanos 30% mais ácidos, conforme descobriram os cientistas há menos de dez anos. Os oceanos absorvem um terço do dióxido de carbono, o que reduz o ritmo do aquecimento da Terra. A má notícia é que agora os oceanos estão mais ácidos, e isto vai piorar na medida em que se emitir mais dióxido de carbono.

Não há nenhuma discrepância científica sobre estes pontos. A Declaração de Consenso sobre Mudança Climática e Arrecifes de Corais estabelece que, no ritmo atual, as emissões de dióxido de carbono aumentarão as temperaturas da superfície marinha pelo menos entre dois e três graus, elevarão o nível do mar até 1,7 metro, reduzirão de 8,1 para menos de 7,9 o pH dos oceanos, e aumentarão a frequência e/ou intensidade das tempestades. Esta combinação de mudanças tão drásticas não ocorre desde a última crise nos arrecifes, há 55 milhões de anos, acrescenta o documento.

Se não houver reduções importantes nas emissões de dióxido de carbono, até 2070 as maiores temperaturas e acidez dos oceanos deixarão vivos, talvez, apenas 10% dos arrecifes do mundo, afirmou Robert Richmond, presidente da Sociedade Internacional para o Estudo de Arrecifes e biólogo marinho da Universidade de Havaí em Manoa.

Os arrecifes se recuperaram de testes nucleares na década de 1950, por isso são fortes, mas os impactos crônicos da contaminação, sobrepesca e sedimentação os enfraquecem e os deixam incapazes de suportar focos de doenças, bem com a pressão que implicam a descoloração e a acidificação, acrescentou Richmond. “O que deixarmos para nossos netos refletirá diretamente o que fazemos aqui e o que faremos nos próximos anos”, ressaltou. Envolverde/IPS