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Aldeias de Gana erradicam a mortalidade infantil

A voluntária Zainab Abubakar administra a primeira dose de amodiaquina em Inusa, de um ano, sentado no colo de sua mãe, Ayishetu Hamdellah. Foto: Albert Oppong-Ansah/IPS
A voluntária Zainab Abubakar administra a primeira dose de amodiaquina em Inusa, de um ano, sentado no colo de sua mãe, Ayishetu Hamdellah. Foto: Albert Oppong-Ansah/IPS

 

Zandua, Gana, 5/5/2014 – Zainab Abubakar se dedica a salvar vidas de meninos e meninas. Há poucos anos era uma mulher comum, sem formação médica, que vivia na rural localidade de Kpilo, na Região Norte de Gana. Aqui, a clínica médica mais próxima, à qual se vai caminhando, fica a 12 quilômetros e atende entre 20 e 40 comunidades deste distrito. Em toda a Região Norte, menos de 10% das comunidades possuem uma clínica local. Porém, em Tamale, a capital regional, 19,4% das comunidades contam com uma.

Mas agora, em lugar de caminhar até o centro de saúde, as mães levam os filhos doentes até Abubakar. Quando ela examina crianças com sintomas como suor, debilidade e febre, pode diferenciar entre um caso de pneumonia e um de malária. Também é capaz de tratar e dar medicação para essas doenças. “Em uma situação como essa, banho a criança e em seguida dissolvo uma pastilha de amodiaquina em um copinho limpo e lhe dou de beber”, explicou à IPS. Depois dá os remédios à mãe. “Para que a medicação seja administrada no momento correto, faço um acompanhamento”, acrescentou.

Abubakar é uma das 16.500 voluntárias comunitárias que se capacitaram no Serviço de Saúde de Gana para lidar com doenças infantis comuns, quando os lugares onde vivem não têm centros de saúde próximos. O Serviço de Saúde também lhes dá medicação para tratar essas enfermidades. Embora os remédios sejam gratuitos, a maioria das pessoas paga cerca de 20 centavos simbólicos para cada um.

Essa iniciativa de saúde rural, conhecida como Manejo Integrado de Casos Comunitários, tem apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância, (Unicef), e fundos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Desde 2007, voluntários das quatro províncias que têm poucos centros de saúde – as regiões Norte, Leste Superior, Oeste Superior e Central – recebem treinamento para reduzir a mortalidade infantil. Pneumonia, diarreia e malária são as infecções responsáveis por duas em cada cinco mortes de crianças.

Alhassan Abukari, coordenador adjunto do Manejo Integrado de Casos Comunitários na Região Norte, explica que o Estado não pode dar atenção médica à maioria das comunidades por falta de recursos e de pessoal. Na Região Norte é mais difícil proporcionar serviços, porque o acesso às comunidades é difícil e elas costumam estar isoladas pelas inundações durante a temporada chuvosa, detalhou.

“Uma considerável quantidade de pessoas em comunidades periurbanas da região não tem acesso a instalações de saúde, por isso esses voluntários realmente estão ajudando a superar a muito ampla brecha que existia”, destacou Abukari à IPS. “Carecemos de pessoal. Por exemplo, no caso do distrito de Saboba, na Região Norte, há uma única enfermeira comunitária para 20 comunidades, e ela deve visitar todas”, acrescentou.

Os voluntários que vivem em cada lugar promovem a educação sobre saúde e as condutas saudáveis durante as visitas casa por casa. Nessas ocasiões, Abubakar explica a importância de amamentar, de dormir protegido por mosquiteiro e lavar as mãos com água e sabão. E envia todos os casos graves ou complicados ao centro de saúde mais próximo. Ela e os demais voluntários não cobram por seu trabalho, mas diz se sentir feliz salvando vidas, o que motiva sua paixão por servir a comunidade.

Segundo o Unicef, o manejo comunitário da pneumonia infantil pode reduzir em até 70% a mortalidade de menores de cinco anos. A iniciativa de Manejo Integrado de Casos Comunitários também pretende reduzir a malária. Estima-se que a mortalidade de menores de cinco anos especificamente por essa doença pode cair entre 40% e 60%, e a morbidade severa em 53%. Abukari pontuou que a oportuna intervenção desses voluntários, que funcionam como “médicos” em suas comunidades, ajudam a prevenir mortes infantis.

Ayishetu Hamdellah, viúva e mãe de quatro filhos que vive em Kpilo, afirmou que contar com Abubakar é uma ajuda enorme. Ela já não precisa caminhar longas distâncias para conseguir atendimento médico para seu filho de um ano, Inusa, que contrai malária com frequência. Agora, Inusa pode ser atendido imediatamente. O chefe comunitário de Kpilo, Mahama Abdulah, opinou à IPS que a iniciativa tem tanto sucesso que gostaria de estendê-la também aos adultos. “Desde que esses voluntários começaram a trabalhar nessa comunidade, a saúde das crianças melhorou. Já não temos mais mortes”, ressaltou. Envolverde/IPS