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Acordo com o Irã ganha apoio, apesar de Netanyahu

Ira

Washington, Estados Unidos, 28/11/2013 – Apesar das insistentes objeções do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e da maioria dos falcões em Washington, o novo acordo entre Irã e seis potências mundiais ganha cada vez mais apoio. A maioria dos líderes da política externa norte-americana, incluindo destacados “falcões” (ala mais belicista) que antes se mostravam céticos, avalizaram o acordo anunciado no dia 24 em Genebra, após quatro dias de intensas negociações entre Irã e o chamado P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia mais Alemanha).

“O acordo provisório entre Irã e as seis potências mundiais é um êxito significativo”, ressaltou Richard Haass, presidente do influente Conselho de Relações Exteriores, e que também chefiou o escritório de planejamento de políticas do Departamento de Estado durante o primeiro mandato do presidente George W. Bush (2001-2009).

“Os que se opõem ao acordo provisório pelo que não contempla estão pedindo muito”, escreveu Haass no jornal Financial Times, se referindo a Netanyahu e aos grupos de pressão judeus em Washington. Esses insistem que qualquer acordo deve, entre outras coisas, exigir que o Irã pare completamente seu programa de enriquecimento de urânio, desmantele a maioria de suas 19 mil centrífugas e comece a deter, quando não abandonar, a construção do reator nuclear de água pesada de Arak.

David Albright, presidente do Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional e que, junto com a neoconservadora Fundação para a Defesa das Democracias, pediu sanções mais duras contra Teerã, elogiou o acordo em uma coluna no jornal The Washington Post. Albright afirmou que se trata de um “grande acordo”, pois, entre outras coisas, prolonga ao menos em mais um mês o tempo que o Irã precisará para alcançar o nível tecnológico necessário a fim de começar a fabricar uma arma nuclear.

Albright também destacou que o acordo aumenta significativamente a frequência e o alcance das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. No entanto, destacou que os Estados Unidos e seus sócios do P5+1 ainda enfrentam grandes desafios para negociar um acordo final que efetivamente impeça Teerã de fabricar uma bomba atômica, se assim desejar. Esse é um pedido que fazem praticamente todos os comentaristas, inclusive os que há tempos exortam o governo de Barack Obama a apostar na diplomacia com o Irã.

Na frente internacional, a Arábia Saudita, arquirrival regional do Irã, cuja forte oposição ao programa nuclear de Teerã foi frequentemente citada por Netanyahu, recebeu com cautela o acordo. Riad afirmou que “pode ser o primeiro passo para uma completa solução para o programa atômico iraniano, havendo boas intenções”. Outros países do Golfo, particularmente Emirados Árabes Unidos, que geralmente seguiram a postura saudita, também apoiaram o acordo.

Esse apoio representa um importante revés para Netanyahu, que passou grande parte das últimas semanas denunciando a existência de um acordo provisório que não cumpria requisitos mínimos. Além disso, o primeiro-ministro de Israel alertou que, embora leve, o alívio das sanções econômicas contra o Irã incluído no acordo inevitavelmente levará ao colapso de todo o regime de sanções internacionais.

A Casa Branca cifrou esse alívio em pouco menos de US$ 100 bilhões nos próximos seis meses. Isso eliminará a principal fonte de pressão sobre Teerã para que desmantele seu programa, alertou Netanyahu. Mas o governo de Obama rejeita isso terminantemente, e insiste que continuará aplicando as sanções econômicas e petroleiras, que são justamente as que obrigaram o Irã a ceder em Genebra.

Teerã se comprometeu a eliminar no prazo de seis meses suas existências de urânio enriquecido a 20%, cessar o enriquecimento a 5%, deter a construção de novas centrífugas, suspender o reator de Arak e permitir um regime mais severo de inspeções. Contudo, apenas horas depois da assinatura do acordo em Genebra, Netanyahu advertiu que se trata de um “erro histórico”, e sugeriu que, como ocorreu no passado, seu país está preparado para lançar um ataque unilateral contra o Irã se considerar que sua segurança está ameaçada.

Inclusive ex-funcionários de segurança nacional israelenses consideraram esse tom desafiante contraproducente e capaz de prejudicar os laços estratégicos com os Estados Unidos. Mas esse estilo foi repetido por neoconservadores em Washington e outros falcões que há dez anos defenderam a invasão do Iraque.

John Bolton, ex-embaixador do governo Bush e hoje membro do American Enterprise Institute, denunciou o acordo como uma “abjeta rendição dos Estados Unidos”. Em uma coluna para o Weekly Standard, exortou Netanyahu a cumprir suas ameaças de ações militares. Além disso, afirmou que Teerã, apesar do mais rígido regime de inspeções, “tomará medidas extraordinárias” para seguir o caminho da Coreia do Norte e construir instalações secretas onde fabricar bombas. Bolton advertiu que, “quanto mais tempo passar, mais difícil será para Israel dar um golpe que atrase substancialmente o programa iraniano”.

“Esse acordo mostra a outros Estados hostis que desejam se tornar nucleares que podem confundir, enganar e mentir durante uma década e que, finalmente, os Estados Unidos abandonam demandas fundamentais”, advertiu Marco Rubio, senador pelo Estado da Flórida, do opositor Partido Republicano. Rubio repetiu os argumentos de Netanyahu e pediu ao Congresso que aprove novas e mais severas sanções contra Teerã. “O Irã, provavelmente, usará esse acordo, e qualquer outro que venha depois que não lhe exija verdadeiras concessões, para obter armas nucleares”, ressaltou.

Alguns membros do governante Partido Democrata, próximos ao lobby israelense, em particular o senador Chuck Schumer, e o presidente do Comitê de Relações do Senado, Robert Menendez, disseram apoiar novas sanções se o Irã não cumprir os requisitos do acordo no prazo de seis meses. O governo de Obama advertiu que isso significaria uma violação do acordo de Genebra enquanto Teerã cumprir as disposições.

Por sua vez, o poderoso Comitê Israelense-Norte-Americano de Assuntos Públicos também se expressou, no dia 25, a favor de novos castigos contra Teerã. “O Congresso deve legislar sanções adicionais, para que o Irã enfrente consequências imediatas se renegar seus compromissos ou se negar a negociar um acordo final aceitável”, afirmou em um comunicado. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser lido em www.lobelog.com.