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A Primavera Árabe não é novidade na Palestina

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Para os palestinos, os protestos não são algo novo.
Beit Hanoun, Palestina, 8/6/2011 – É uma cena que se repete todas as semanas na Palestina. Manifestantes caminham próximo à fronteira entre Gaza e Israel cantando e dançando. Ayat el Masari, de 20 anos, está entre a multidão. Esta jovem estudante de inglês na Universidade de Aqsa é uma das muitas mulheres que participam regularmente dos protestos palestinos. “Aderi a esta manifestação e ao Dia de Nakba porque sou palestina e somos refugiados por mais de 60 anos”, afirmou.

O Dia de Nakba, 15 de maio, recorda a expulsão de mais de 750 mil palestinos de suas terras para a criação do Estado de Israel. Sorridente, mas firme, a jovem repete o que disse aos palestinos durante décadas: “Sofremos a ocupação. É hora de acabar”.

Enquanto os protestos da Primavera Árabe no Norte da África e Oriente Médio são algo novo, liderados em muitos casos por jovens e convocados pela internet, na Palestina são uma continuação das reclamações que duram décadas: o fim da ocupação israelense e o direito dos refugiados regressarem às suas terras. Este último contemplado em várias resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), incluindo as 194, 242 e 3236, que estabelecem “o inalienável direito dos palestinos regressarem às suas casas e às suas propriedades das quais foram expulsos”.

Durante a primeira Intifada (levante popular contra a ocupação), entre 1987 e 1993, os palestinos usaram técnicas como os protestos não violentos, greves gerais e boicotes aos bens israelenses. Desde meados da década passada, os palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém oriental realizam manifestações semanais não violentas contra o muro de separação que Israel ergue com o argumento de impedir a entrada de atacantes terroristas em suas cidades.

Desde 2008, palestinos desarmados protestam contra a imposição por parte de Israel de uma “zona de amortização” de 300 metros ao longo da fronteira da Faixa de Gaza. Soldados israelenses disparam contra agricultores e civis palestinos que estão inclusive a mais de dois quilômetros dos limites. Como consequência desses protestos, muitos morreram e centenas ficaram feridos por disparos israelenses com balas reais, de borracha e uso de gás lacrimogêneo. Bassam Abu Rahme, de 29 anos, da aldeia de Bil’in, perto da cidade de Ramalá, morreu quando uma lata de gás atingiu seu peito, disparada da distância de apenas 40 metros.

No Dia de Nakba milhares de palestinos protestaram perto de Erez, no Norte de Gaza, e milhares fizeram uma marcha nas fronteiras com Líbano e Síria na Cisjordânia. Pelo menos 16 manifestantes morreram atacados pelo exército israelense, incluindo um em Gaza, e centenas ficaram feridos. Na Síria, alguns conseguiram vencer o cerco fronteiriço e chegar à terra palestina.

No dia 5 deste mês, foi comemorado o Dia de Naksa, aniversário da ocupação israelense, em 1967, das Colinas de Golan, da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém oriental, bem como a subsequente expulsão de 300 mil palestinos de suas casas. Em Gaza, manifestantes marcharam pela rodovia até Erez, mas foram detidos pela própria polícia palestina.

Rachad, de 25 anos, originário da localidade de Jabaliya, no Norte de Gaza, ajudou a organizar as duas manifestações na Faixa de Gaza “Nosso comitê coordenou com Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia para realizar protestos em Nakba e Naksa”, afirmou. Manifestantes em Qalandia, perto de Jerusalém oriental, disseram que foram reprimidos por soldados israelenses com balas de verdade e de borracha. Informes sobre os protestos em Golan falam de, pelo menos, 22 mortos pelas forças israelenses, incluindo uma criança, e mais de 325 feridos, segundo a rede de notícias Al Jazeera.

Antes dos protestos do dia 5, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse que Israel tinha o direito de defender suas fronteiras e que os soldados agiriam com a “necessária decisão”. “Nossa mensagem é simples”, disse Rachad. “A vida nos acampamentos para refugiados é terrível, seja no Líbano, na Síria ou na Jordânia. Queremos justiça, queremos liberdade, queremos que Israel respeite o direito internacional e as resoluções da ONU para permitir que os refugiados palestinos regressem para seu lar”, acrescentou. Envolverde/IPS