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A pequena Barbuda teme um clima cada vez mais hostil

Uma barcaça para transportar areia de Barbuda. Foto: Desmond Brown/IPS

Codrington, Antiga e Barbuda, 4/12/2012 – A pequena ilha de Barbuda, no Caribe, está se convertendo em um dos lugares mais vulneráveis à mudança climática, alertam cientistas locais. É uma ilha “pequena e plana, e se as previsões sobre a mudança climática são corretas, especialmente no tocante ao aumento do nível do mar, um terço da ilha poderá ficar indisponível para o tipo de coisas para as quais a usamos hoje”, disse à IPS o biólogo marinho John Mussington. A velha prática de remover areia da ilha só agrava o problema, acrescentou.

“Quando se retira areia do sistema, esta se moverá de outro lugar para substituir a retirada. Portanto, a quantidade de areia trasladada em Barbuda ao longo dos anos teve um impacto em nossas costas”, explicou o biólogo. “Já acelerou a erosão costeira pelo aumento do nível do mar, e a isso se acrescenta que estamos tirando areia do sistema. Então, as belas praias que havia de norte a sul, a maioria delas há dez anos com árvores e coqueiros, já não existem mais, e vemos o colapso da vegetação na água”, descreveu.

Em julho de 2011, Barbuda rebatizou uma de suas praias como “Princesa Diana de Gales”, em homenagem à falecida princesa britânica que a visitava assiduamente. Mussington alertou que a ilha pode perder essa praia, bem como outras que são importantes atrações do turismo, o setor que mais contribui para a economia.

Brian Cooper, diretor do Grupo de Consciência Ambiental de Antiga e Barbuda, disse que as duas ilhas sofrem eventos climáticos extremos, uma das consequências do aquecimento global. À IPS, afirmou que os eventos climáticos extremos causam danos econômicos, desestabilizam a agricultura e geram trauma na população. “Antes de tudo, temos que ver nossa agricultura e nosso fornecimento de alimentos, porque, pela forma como vai o mundo e a forma como cresce a população, se essas previsões sobre mudança climática se concretizarem, muitas áreas produtoras do planeta serão afetadas”, alertou.

“Creio que precisamos levar muito a sério nossa produção de alimentos, e para mim isso significa que temos de reconsiderar toda a terra agrícola que estamos destinando à construção de moradias”, acrescentou Cooper. Para ele, também é preciso cuidar do fornecimento de água para a agricultura, pois, se as secas se prolongarem, isto afetará a produção de alimentos. “Temos a dessalinização, mas o custo da água purificada não se adequa ao seu uso em ampla escala para a agricultura, e pouco fazemos para aumentar nossas outras fontes de água, subterrâneas ou superficiais”, afirmou.

“A água subterrânea será afetada pela elevação do nível do mar, porque todas as nossas áreas com poços estão muito perto da costa”, prevê Cooper. E citou como exemplo as últimas inundações no Paquistão e na Rússia, bem como os eventos climáticos extremos no Canadá e nos Estados Unidos, como clara evidência de que a mudança climática está ocorrendo neste exato momento. “Realmente vai em linha com o que se previu. Existem ciclos climáticos (naturais) que trazem condições extremas, mas tudo isso se exacerba com as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Pelo menos nisso coincidem os cientistas, mais ou menos unanimemente”, ressaltou.

Dale Destin, especialista em clima no Serviço Meteorológico de Antiga e Barbuda, disse à IPS que nos dois últimos anos este país experimentou condições de umidade e que agora se avizinharia uma seca leve. “Estas coisas geralmente acontecem em ciclos, mas, com a mudança climática, alguns desses eventos se tornam mais extremos”, acrescentou.

Mussington disse que, apesar das previsões negativas, a mudança climática não tem de ser uma sentença de morte, acrescentando que Antiga e Barbuda, como o resto dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, tem o desafio de se adaptar. Mas lamenta que os temas de adaptação não sejam considerados seriamente e estejam ausentes das políticas sobre certas áreas sensíveis. “Temos uma política sobre agricultura?”, questionou. “Temos uma política sobre turismo que leve em conta o que está previsto?”. “O turismo é o setor que mais beneficia nossa economia. Então, se alguém sabe que a mudança climática está ocorrendo, o senso comum diz que deve ter uma política” a respeito, opinou Mussington.

“Sabemos que nossa costa será a área mais severamente afetada, e sabemos que nada podemos fazer com os hotéis existentes, mas, então, o desenvolvimento futuro deve ser feito fora da costa”, propôs Mussington. Porém, “ainda não ouvimos nada sobre isso da parte do governo. Ocorre o mesmo na agricultura”, acrescentou. “Precisamos apelar para cultivos que possam resistir às maiores temperaturas e à maior salinidade. Essas são as coisas que temos de incluir em nossas políticas e começar a implantar agora. Se não o fizermos, estaremos basicamente subindo a montanha e pulando de olhos fechados”, alertou. Envolverde/IPS