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A árdua passagem para as energias renováveis

Tóquio, Japão, 31/8/2012 – As fontes renováveis surgem como solução para a dolorosa crise energética que afeta o Japão, onde o governo e o empresariado enfrentam a demanda pública para erradicar todo o setor nuclear. Contudo, segundo alguns especialistas, é mais fácil dizer do que fazer. “As energias renováveis agora são vistas como a maneira de avançar em uma decisão que é fortemente política. Mas o tema continua sendo polêmico”, disse o especialista em energia Tako Kashiwage, do governamental Novo Subcomitê de Energia.

Segundo Kashiwage, embora as fontes renováveis – principalmente solar, eólica e pequenas centrais hidrelétricas e geotérmicas – sejam consideradas uma solução, ainda estão envoltas em um manto de incerteza, já que dependem muito dos caprichos da meteorologia e do apoio público. “Para uma economia líder com a do Japão, sou a favor de manter a energia nuclear como uma opção firme, mas devemos trabalhar” para reduzir sua proporção, declarou à IPS.

Algumas pesquisas mostram que os moinhos eólicos localizados nas costas japonesas produzem uma quantidade de energia que diminui durante verão, quando os ventos não são tão fortes, explicou Kashiwage. E no inverno, quando há menos luz diurna, a energia solar gerada também é menor. Até mesmo a geotermia, considerada um vital investimento energético no Japão devido à sua abundância de fontes termais, enfrenta uma batalha com os centros turísticos locais. A associação de complexos de férias das termas de Kusatsu, na Ilha de Kyushu, anunciou sua oposição ao desenvolvimento de energias limpas por medo de que esses valiosos mananciais diminuam de volume.

O Japão pretende divulgar em breve uma nova política energética destinada a reduzir drasticamente sua dependência da energia nuclear até 2030. Este tipo de energia cobre oficialmente 30% das necessidades nacionais, proporção que mudou devido ao fechamento temporário de 52 dos 54 reatores. O devastador acidente nuclear, de março de 2011 na central de Fukushima, obrigou o país a reduzir sua produção de energia atômica. A alta radiação que emanou dos reatores afetados contaminou extensas áreas de terras agrícolas, oceano e cidades e forçou dezenas de milhares de pessoas a abandonarem o nordeste do Japão.

Agora, a prova mais amarga para o país é garantir um fornecimento elétrico estável a partir de fontes alternativas, para alcançar o nível da produção de energia nuclear que proporcionava cerca de um bilhão de megawatts por hora. Os ativistas anticuleares dizem estar determinados a continuar pressionando o governo, para obrigá-lo a se comprometer a erradicar a energia atômica na política energética que em breve será divulgada.

“Os protestos civis devem destacar os benefícios econômicos reais de seu movimento. O desenvolvimento de tecnologia energeticamente eficiente no Japão apoiará o desenvolvimento econômico e também reduzirá nossa dependência da eletricidade”, disse o professor Masaru Kaneko, um dos principais opositores da energia nuclear. O gabinete vê a política energética como uma opção entre dois cenários. De um lado o zero de energia nuclear, que impulsionaria 35% das fontes renováveis, além de um aumento no uso dos combustíveis fósseis. De outro, manter a energia atômica, no entanto em um patamar bem menor, inferior a 20%.

A primeira opção é rejeitada pelos que promovem a energia nuclear, os quais alertam que o aumento nos preços da eletricidade, enquanto o Japão importa combustíveis fósseis e investe mais em novas redes elétricas, levará a menos negócios e a riscos de segurança nos próximos anos. A Associação de Executivos Corporativos do Japão divulgou este mês um comunicado alertando que abandonar o uso pacífico da energia nuclear e de tecnologias relativas a esse tipo de dejetos vai contra os interesses nacionais.

Segundo o Instituto de Pesquisas do Japão, as empresas enfrentarão custos de produção mais elevados, já que a geração de energia renovável é mais cara. De fato, este mês aumentaram os preços da eletricidade, ainda que levemente (menos de 10% por quilowatt/hora). Mas, espera-se que isto desestimule significativamente o crescimento empresarial e aumente o desemprego, ao mesmo tempo em que força as companhias a se instalarem no exterior.

No entanto, os políticos são reticentes em anunciar uma solução, temerosos de um contragolpe do eleitorado. Em uma pesquisa de opinião feita pelo governo e divulgada esta semana, quase 50% dos entrevistados se expressaram a favor da abolição da energia nuclear até 2030. Também disseram que quanto mais informadas as pessoas estiverem sobre as questões atômicas, mais a favor estarão de reduzir a dependência nuclear.

Sumio Saito, especialista em energia da Wind Connect Japan, uma nova empresa que promove as fontes alternativas, disse que não há com voltar à energia nuclear, mas que o Japão consumirá mais combustíveis fósseis no curto prazo. “Os combustíveis fósseis são necessários neste período de transição, enquanto o país se afasta da energia nuclear. Isto pode ser visto como uma espécie de carência no curto prazo, apesar do aumento nas emissões de gases-estufa que terá como resultado”, acrescentou.

Como exemplo do crescente compromisso de mudar, estão os esforços do governo de Izu Oriental, um centro turístico termal na costa da localidade de Shizuoka, 200 quilômetros a ocidente de Tóquio. Três moinhos de vento abastecem um terço das 6,3 mil famílias do lugar com uma energia que primeiro é vendida à Companhia de Energia Elétrica de Tóquio.

Takumi Umehara, do governo local, explicou à IPS que a renda gerada a partir da venda da energia eólica é usada para subsidiar painéis solares para as casas. O objetivo é criar consciência entre a comunidade quanto à necessidade de apoiar as fontes renováveis. “Descobrimos que a única maneira de combater a oposição local às energias renováveis é a compreensão comunitária. Uma parte importante deste processo é apresentar estudos e pesquisas que lhes mostrem os benefícios dessas energias”, disse Umehara.

Izu Oriental também tem planos de desenvolver energia geotérmica aproveitando as termas locais. Izu é um pitoresco centro turístico que combina mar e montanhas, e que é propenso a terremotos. “Nossa vulnerabilidade natural nos dá mais motivos para desenvolver energia segura”, destacou Umehara. Envolverde/IPS