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“Rio+20 deve dar um impulso sustentado”

Michael Renner. Crédito: Cortesia de Michael Renner

Nova York, Estados Unidos, 30/8/2011 – Enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) prepara uma grande conferência internacional sobre desenvolvimento sustentável para junho de 2012, grupos da sociedade civil criam um plano de ação para que seja adotado pelos líderes do planeta. A Conferência Rio+20 acontecerá 20 anos depois da histórica Cúpula da Terra, também realizada no Rio de Janeiro.

Consultado sobre a importância da contribuição das organizações não governamentais, Michael G. Renner, pesquisador da Worldwatch Institute, que trabalha pelo desenvolvimento sustentável, disse à IPS que “dependerá do sucesso que tiverem em garantir que a Conferência ganhe a adequada visibilidade perante o público”. Também afirmou que os grupos da sociedade civil devem garantir que a Conferência não ficará desvinculada das preocupações diárias da população.

IPS: Por que é importante realizar outra Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável?

MICHAEL RENNER: A Conferência Rio+20 apresenta uma oportunidade para estudar tanto o progresso alcançado até agora como os objetivos ainda não cumpridos. Oferece uma oportunidade única para revisar e refrescar os compromissos e para promover novos modos de cooperação internacional, bem como para atender alguns dos temas mais imperiosos do século. Em geral, as tendências ambientais desde 1992 não são animadoras, e, portanto, precisamos de novos compromissos e de uma avaliação de quais políticas funcionam e quais não funcionam. Claramente, não é apenas uma avaliação “técnica”, mas em grande parte um exercício profundamente político. Desde a primeira conferência no Rio de Janeiro, ouvimos muitos discursos sobre como depender das ferramentas do mercado e de outros mecanismos. Mas, se os governos não fornecem um contexto geral, então simplesmente estão abdicando de suas responsabilidades. E se o público não puder fazer com que os governos e as corporações sejam responsáveis, então os compromissos nunca se traduzirão efetivamente em ações. A Conferência é apenas um meio para um fim, é colocar o foco no que conseguimos e no que não foi alcançado. E não dou muita atenção aos discursos ou comunicados oficiais. O mais importante é criar um renovado senso de impulso, forjar novas sociedades e alianças, e potencializar aqueles que muito frequentemente são esquecidos.

IPS: Quais são os novos desafios do mundo em relação ao meio ambiente?

MR: Penso cada vez menos em termos de novos desafios e mais na necessidade de pensar em vias interdisciplinares. A esta altura somos muito conscientes dos vários tipos de desafios ambientais, como mudança climática, perda de biodiversidade, crescente escassez de água, etc. Precisamos conseguir melhor compreensão sobre como esses problemas se interrelacionam e sermos mais conscientes de que podemos ter cada vez mais surpresas. A mudança climática não é linear, mas está cheia de variáveis inesperadas e curvas. Um importante aspecto da conferência no Rio de Janeiro é a governança ambiental. Alguém menciona isto e muitos pensam que estamos falando em criar uma complexa estrutura burocrática. Contudo, o que realmente se necessita é desafiar nosso mundo compartimentado. Não podemos enfrentar de forma adequada os desafios ambientais se assumimos que é um trabalho exclusivo dos ministérios do Meio Ambiente. As causas e os impactos têm muitas faces, e as políticas em outros ministérios (Economia, Ciência e Tecnologia, Trabalho, Relações Exteriores, etc.) devem ser desenvolvidas tendo isso em conta. Precisamos inventar formas para superar as muralhas que separam os diferentes campos, sem mencionar as fronteiras que nos dividem como Estados competindo entre si. Claramente, uma única conferência não vai conseguir tudo isto, mas as discussões na Rio+20 podem ajudar a conectar os pontos.

IPS: A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável acontecerá em junho de 2012, 20 anos depois da original Cúpula da Terra no Rio de Janeiro. Desta vez, se focará na construção de uma economia verde e em uma governança de desenvolvimento sustentável. Quais são os principais avanços nessas áreas desde 1992?

MR: Um avanço importante é que a “economia verde” e os “empregos verdes” já são termos aceitos. Por muitos anos, a discussão se centrou em saber se trabalhar por metas ambientais poderia ir em detrimento da economia e do emprego. Entretanto, ficou claro que a proteção do meio ambiente e o bem-estar econômico não são excludentes. De fato, a prosperidade econômica dependerá cada vez mais de tecnologias que reduzam a pegada ambiental da humanidade e de uma transição para uma sustentabilidade maior. Com isto não quero dizer que a discussão acabou. Longe disso. Em alguns países, como os Estados Unidos, o discurso público sofreu mudanças. Também há a questão quanto ao significado de uma economia verde. Como ocorre com outros termos, como o de desenvolvimento sustentável, há algum perigo de passar a significar coisas bem distintas entre diferentes pessoas. O “crescimento verde” agora é, em geral, visto como a meta, e ficou meio de lado o debate quanto à expansão da economia poder continuar sem nenhum controle.

IPS: O que virá depois da Rio+20?

MR: Como sempre, existe o desafio de ir além de bons discursos e boas declarações para garantir que uma conferência com esta não seja apenas um acontecimento de uma vez, sem acompanhamento significativo. Portanto, o trabalho deve continuar. E, em certo sentido, o que ocorre nos corredores entre as sessões – fazer novos contatos, construir alianças – pode ser muito mais importante do que o que ocorre nas próprias sessões. Vejo a Conferência como uma oportunidade para gerar um impulso, mas este deve ser sustentado. Envolverde/IPS