Sete propostas para acabar com a grande depressão

Genebra, Suíça, novembro/2011 – Estamos assistindo ultimamente a uma crescente onda de protestos contra o cassino capitalista que nos trouxe uma série de crises econômicas e aumentou a brecha entre ricos e pobres. Com a inspiração da “primavera árabe”, sucederam-se protestos de massa em Israel e, agora, o movimento Ocupe Wall Street se estende através dos Estados Unidos, da Europa, do Japão e da Coreia, até agora apenas como protesto, ainda sem apresentar propostas.

A esse respeito, utilizo aqui o método da organização não governamental que represento, a Transcend, que tem seu foco em diagnóstico, prognóstico e terapia.

Diagnóstico: as sociedades e o mundo inteiro sofrem uma crescente desigualdade patológica. Nos Estados Unidos, por exemplo, os 90% “de baixo” têm uma renda média anual familiar de US$ 31 mil, enquanto o 0,1% de cima tem renda milionária. Como consequência, não há suficiente poder aquisitivo disponível para fazer funcionar as rodas da economia real, mas ao mesmo tempo há suficiente liquidez no alto da pirâmide capaz de fazer a economia financeira sofrer um reaquecimento. Abaixo, as pessoas sofrem e inclusive morrem de fome. Acima, o desequilíbrio entre a economia financeira e a real destrói inteiramente a economia.

Prognóstico: nos Estados Unidos, três bolhas estão por estourar: a contradição entre uma galopante economia financeira e uma paralisada economia real; a contradição entre a excessiva quantidade de dinheiro em circulação e todo o valor real que se supõe deveria refletir; e a contradição entre o serviço da dívida – pagando juros aos ricos proprietários e bônus governamentais – e o serviço às pessoas (pagando por necessidades como as de saúde, educação, bem-estar e infraestrutura) e estamos apenas no começo.

Terapia: estabelecer um equilíbrio melhor entre resgate e estímulo e entre elites e maiorias. Os políticos norte-americanos respondem mais às corporações financeiras que financiam suas campanhas eleitorais do que aos eleitores. É “corporatocracia”, não democracia. Melhor do que “muito grande para quebrar” seria “muito grande para existir”: não uns poucos grandes, mas muitos pequenos bancos. A seguir, sete passos recomendados para pôr fim à crise.

1) A sociedade civil deveria criar um máximo de pequenos bancos de poupança que oferecessem crédito para investidores apoiados por seu capital, mas com proibição de especular. Os grandes bancos se oporão e os pequenos necessitarão formar cooperativas para mútuo apoio. O investimento está ligado a empresas específicas, enquanto a especulação busca ganhos indiscriminadamente.

2) A sociedade civil deveria boicotar os bancos irresponsáveis e nada profissionais que oferecem créditos além de suas próprias reservas de capital. Os piores merecem afundar e deixar o caminho livre para muitos pequenos. A Islândia, por exemplo, emergiu da crise financeira ao deixar que aqueles bancos afundassem. Os eleitores por duas vezes recusaram que a população islandesa fosse feita refém de créditos dados por esses bancos. Os credores devem pagar por sua própria imprudência quando concedem crédito a banqueiros igualmente temerários e não profissionais.

3) Os banqueiros irresponsáveis devem ser afastados de sua profissão por vários anos ou por toda a vida, como ocorre com os médicos em casos de má atuação.

4) Os proprietários de casas que assinaram uma hipoteca que ia além de seu razoável potencial para sua amortização devem ser objeto de resgate, se for necessário, e não os bancos irresponsáveis. Isso implicaria o cancelamento de numerosas execuções hipotecárias.

5) O foco deveria ser nos setores menos protegidos da sociedade: minorias, idosos, mulheres, doentes. Aliviar a miséria é a principal prioridade, o crescimento econômico é a segunda.

6) Melhorar a qualidade de vida dos que estão abaixo, fazendo com que sejam satisfeitas suas necessidades básicas. Elevar o nível das comunidades, não dos indivíduos, por meio da cooperação privada, pública, da sociedade civil e do setor técnico. Conceder generosos créditos a microempresas no campo das necessidades básicas e para dar emprego aos mais necessitados. Na medida em que estes subirem de vida, poderão devolver os créditos obtidos, aumentar seu poder aquisitivo e estimular a economia em geral. Aprendamos com o capi-comunismo chinês.

7) Proibir a venda e a compra a descoberto, práticas desestabilizadoras e tóxicas para a economia.

E, no longo prazo, virada completa da economia, do crescimento material para a saúde, a educação e as necessidades básicas. A intenção não é aumentar a produção e os ganhos, mas enriquecer as vidas humanas. E deixar de colocar as pessoas de mais idade em guetos para aposentá-los e de se queixar do envelhecimento da população, eliminando a possibilidade de os idosos oferecerem sua sabedoria e experiência.

Em síntese, elevar os de baixo por meio de estímulos, salvar os mais afetados, deixar que as instituições incompetentes afundem. Atualmente, a incompetência e a cobiça não só são recompensadas com resgates, como são estimuladas, deixando, assim, que os de baixo sofram e afundem posteriormente. Isto é insustentável. Envolverde/IPS

* Johan Galtung é reitor da Universidade de Estudos Sobre a Paz Transcend e autor de “The Fall of the US Empire-and Then What?” (www.transcend.org).