Obama, Israel e Palestina

Obama em visita a Israel.Foto: Pablo Martinez Monsivais / Associated Press

 

Bogotá, Colômbia, abril/2013 – O que tanto o mundo esperava da primeira visita de Barack Obama a Israel e Palestina? Não muito.

As negociações de paz estão paralisadas e a situação do povo palestino, sob ocupação israelense, piora na medida em que a colonização judia em seus territórios avança inexorável, sem que os Estados Unidos consigam detê-la.

Shlomo Ben Ami, ex-chanceler israelense e supostamente especialista na resolução de conflitos, entrevistado pelo jornal El Espectador, da Colômbia, comentou a visita, negando que os assentamentos judeus sejam um obstáculo para a paz.

O “centro” da visita do mandatário norte-americano ao seu país foi uma “ofensiva de carinho e empatia” com os israelenses, para tentar “apagar” a “equivocada imagem que existia em Israel sobre sua pessoa”, e sua atitude em relação à “narrativa do povo judeu”, acrescentou.

Ben Ami qualificou de “equívoco” a demanda apresentada por Obama ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de “suspender” seu programa de construção de novos assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém oriental, para permitir o reinício dos diálogos de paz.

Netanyahu, sionista de ultradireita, ignorou tal demanda, e Obama engoliu a ofensa.

A comunidade internacional condena cada vez mais essa política de ocupação e anexação ilegal que viola o direito internacional, das convenções de Genebra e de numerosas resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Tal política de colonização foi empreendida por Israel a partir de seu “triunfo” na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Contudo, poucos mencionam que essa foi uma guerra “preventiva”, que não obedeceu a nenhum enfrentamento com os países árabes

Israel ignora, por mais de 60 anos, os mandatos da ONU e, segundo a Carta das Nações Unidas, isto seria motivo para sua expulsão. Mas Washington a vetaria.

Obama reiterou os “laços inquebrantáveis” de seu país com Israel, apoiou sua aspiração a um “Estado judeu” (20% de sua população é árabe-israelense), criticou os assentamentos chamando-os de “obstáculo” para a paz, mas vetou as resoluções do Conselho de Segurança que os condenavam.

Em Ramalá reiterou seu compromisso com a solução de dois Estados e a criação de um Estado palestino “independente e soberano, vivendo em paz com Israel”. Porém, as condições impostas por Netanyahu ao eventual Estado palestino, que Obama não questiona, o tornam inviável.

A Cisjordânia está invadida por assentamentos judeus, com mais de 200 mil colonos, postos militares e estradas que unem as colônias, proibidas ao trânsito de palestinos.

Além disso, Israel construiu o muro de separação em território da Cisjordânia e anexou 20% mais de suas terras. O Tribunal Internacional de Justiça o condenou e exigiu sua demolição. Mas nada aconteceu e sua construção continua.

Netanyahu impede que a Palestina possa ser um Estado independente e soberano, como quer Obama.

Em seu magistral discurso no Cairo, em junho de 2009, Obama deu um giro substancial no tradicional enfoque de Washington sobre o conflito Israel-Palestina.

Pronunciou palavras nunca ouvidas da boca de um mandatário norte-americano. Mencionou o “inegável sofrimento” e as “humilhações” que sofre o povo palestino sob a ocupação, as qualificou de “intoleráveis” e se referiu aos “deslocamentos” (foram expulsões) e às “deportações” de sua gente, “como consequência da criação do Estado de Israel”.

Mas continuou vetando as resoluções do Conselho de Segurança que os condenam. Também se opôs à aspiração Palestina ao reconhecimento como Estado observador não membro da ONU e puniu a Unesco com o corte de suas contribuições quando sua Conferência Geral, de forma esmagadora, acolheu a Palestina como membro.

Em represália a tais decisões da ONU e da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o primeiro-ministro israelense anunciou a construção de novos assentamentos.

Obama serviu de mediador no conflito entre Turquia e Israel. O primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, havia cortado relações depois dos ataques israelenses à Flotilha da Liberdade, condenados pela comunidade internacional, que tentou aliviar o brutal bloqueio contra a empobrecida população de Gaza. Morreram nove ativistas e 30 pessoas ficaram feridas.

Obama insiste em relançar as negociações de paz em conversações diretas entre as partes, mas não oferece soluções viáveis.

A Autoridade Nacional Palestina se nega a reiniciá-las enquanto continuar a expansão dos assentamentos. Centenas de manifestantes palestinos rechaçaram em Ramalá sua visita e o receberam com gritos de protesto: “Pare de apoiar os crimes de guerra israelenses”, “Estados Unidos, Israel e Grã-Bretanha são o triângulo do terror”.

As promessas feitas no Cairo ficaram para a história.

Obama ofereceu solucionar esse conflito e teria conseguido impor sua vontade, obter a criação do Estado palestino livre de assentamentos, o regresso às fronteiras existentes em 1967 e o restabelecimento dos direitos desse povo. Entretanto, inclinou-se diante da vontade férrea de Netanyahu, recentemente reeleito.

A suposta segurança de Israel continua sendo a bússola da política de Washington no Oriente Médio. Com Síria e Irã, considerados países inimigos, está disposto a usar a força.

Em uma guerra desigual, perdoou os ataques militares israelenses contra Gaza, que causaram enorme destruição e milhares de mortos civis, como retaliação aos foguetes lançados pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamás) contra Israel. Este país “tem direito de se defender”, afirmaram Obama e seus altos funcionários.

Com essa política de Washington de apoio irrestrito a Israel, condenada pelo mundo muçulmano, e com a oposição de Netanyahu a fazer concessões, é difícil uma solução justa, que reconheça os direitos e interesses palestinos, o desmonte dos assentamentos, o regresso de seus refugiados e das fronteiras de 1967, como exigem a ONU e a Liga Árabe.

Esse é o desafio que Obama terá que enfrentar daqui em diante. Envolverde/IPS

* Clara Nieto é escritora e diplomata, ex-embaixadora da Colômbia na ONU e autora do livro Obama e a nova esquerda latino-americana.