Colômbia, Venezuela e seus conflitos

Clara Nieto. Foto: Margarita Carrillo/IPS

Bogotá, Colômbia, maio/2013 – A crise da Venezuela, causada pela violenta oposição dos seguidores de Henrique Capriles, que acusa Nicolás Maduro de fraude, e as negociações de paz entre o governo colombiano e o movimento guerrilheiro Farc em Havana ocupam a atenção dos meios de comunicação nacionais e estrangeiros.

Cuba e Venezuela, com Chile e Noruega, são países fiadores destas negociações, e comentaristas e analistas de diferentes tendências perguntam qual é o papel da Venezuela e Hugo Chávez (morto no dia 5 de março) e de Cuba e os irmãos Castro neste processo, cujo objetivo é dar fim a 50 anos de sangrento conflito armado, sem que tenha significado um perigo para nenhum de seus governos.

Este é um assunto prioritário para o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.

Bogotá e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) escolheram Havana para realizarem as negociações de paz. Cuba é um país amigo e de confiança e segurança do grupo guerrilheiro, embora, segundo José Arbesú, funcionário de alto escalão no Partido Comunista cubano, não tenha fornecido armas nem financiamento às guerrilhas colombianas, como fizera antes com as da América Central, envolvidas décadas atrás em guerras civis contra brutais e corruptas ditaduras.

Santos buscou uma aproximação com Cuba, falou em convidá-la como observadora da V Cúpula das Américas, projeto dos Estados Unidos que excluía esse país, e buscou o apoio de Fidel Castro e do presidente Raúl Castro para realizar na ilha as conversações exploratórias secretas com as Farc. Destes encontros saiu uma agenda de dez pontos, base das atuais negociações.

Venezuela e Chávez apoiaram a Colômbia. Santos restabeleceu as boas relações bilaterais (rompidas durante o mandato de Álvaro Uribe) e criou um ambiente de paz e de colaboração. Recentemente afirmou que tal apoio foi crucial para conseguir acordos fundamentais em Havana.

Chávez, amigo das Farc, considerava que o conflito colombiano afetava a segurança de seu país. Solucioná-lo era necessário para tirar dos Estados Unidos o pretexto de intervir em seus países, afirmava o ex-presidente. A Venezuela está rodeada por bases militares norte-americanas no Caribe, e, na Colômbia, pelas sete que o ex-presidente Uribe cedeu a Washington.

A paz na Colômbia é um assunto de segurança para a Venezuela, e também para o Equador. Por suas porosas fronteiras entram e saem guerrilheiros e paramilitares e entram ilegalmente milhares de refugiados colombianos, que fogem do conflito e das fumigações contra a coca (ordenadas pelos Estados Unidos), que envenenam suas famílias e seus animais, prejudicam a terra e destroem seus cultivos de subsistência.

Chávez foi o principal adversário de Washington, e foi artífice, junto com o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da integração regional que o exclui.

Chávez e o chavismo são algo mais que uma pedra no sapato do Tio Sam, e o interesse deste é liquidá-los. Um perigo maior para o atual presidente Nicolás Maduro. Contra ele já está em marcha a ultradireita venezuelana, com Capriles na cabeça, apoiado pela ultradireita internacional, supostamente “em defesa” da democracia venezuelana, segundo eles violentada e abusada por Chávez, o ditador.

Para os planos de paz da Colômbia, o momento é extremamente propício. Os líderes de esquerda de maior peso político continental, Chávez e Fidel Castro, consideravam que o tempo da luta armada já acabou. Chávez pediu às Farc que libertassem sem condições os sequestrados e pusessem fim à sua luta. Não retiraram seu apoio, mas lhes davam conselhos.

Santos, por sua vez, tirou dos guerrilheiros várias de suas bandeiras, como entrega de terras aos despossuídos e aos que tiveram as suas arrebatadas por paramilitares e guerrilha, e oferece compensação às vítimas.

De fato, os tempos mudaram.

O governo de Uribe, do qual Santos foi ministro da Defesa, golpeou as Farc e abateu vários de seus principais líderes. Não foram derrotadas, mas estão reduzidas. As negociações acontecem em meio ao conflito, e a paz as favorece. Entretanto, exigem mudanças estruturais que garantam um país igualitário – a Colômbia é o mais desigual da América Latina – com oportunidades para todos, terras, saúde e educação.

Contra o processo de paz também se move a ultradireita colombiana, com Uribe à frente, que também incentiva o descontentamento militar contra o governo.

E, se não Barack Obama, também está ativo o Comando Sul dos Estados Unidos. O general John Kelly, seu atual comandante, se deteve, em uma apresentação no Congresso, em explicações sobre a periculosidade regional das Farc, afirmando que adquiriram mísseis ar-terra e têm submarinos que chegam até Flórida, Texas e Califórnia em dez ou 12 dias, podendo chegar até à África.

Essas afirmações podem influenciar o estamento militar colombiano, desafeto à negociação com a guerrilha, e minar o processo de paz. Kelly mencionou as operações conjuntas que desenvolve com o exército da Colômbia contra as Farc, com as quais intervém em assuntos internos, de ordem pública, e propicia a continuação da ação militar contra a guerrilha.

Os meios de comunicação têm na mira os dois conflitos. Na Colômbia, a maioria apoia o processo de paz. Na Venezuela não se sabe se o chavismo, sem Chávez, responderá a Maduro, que tem uma situação difícil e adversa. Muitos pretendem não deixá-lo governar. A Colômbia necessita da paz em seu importante vizinho e deve contar com seu apoio. Maduro prometeu mantê-lo. Envolverde/IPS

* Clara Nieto é escritora e diplomata, ex-embaixadora da Colômbia junto à ONU e autora do livro Obama e a nova esquerda latino-americana.