A expansão monetária do G4 impacta os países emergentes

Nova Délhi, Índia, junho/2013 – A economia mundial transborda de liquidez após as sucessivas manobras de expansão monetária adotadas nos últimos anos pelas quatro economias mais avançadas – Estados Unidos, União Europeia, Japão e Grã-Bretanha –, o Grupo dos Quatro (G4).

Quando a política de taxas de juros em nível zero não basta para estimular suas economias, os bancos centrais destes países compram ativos em grande escala, como títulos de dívida ou obrigações hipotecárias garantidas, a fim de injetar liquidez no sistema bancário.

O objetivo é estender créditos para empresas e indústrias, e incentivar o consumo.

Imediatamente depois da crise financeira e econômica mundial de 2008, diante do risco de colapso financeiro, tanto as economias avançadas como as emergentes adotaram políticas de estímulo para reavivar a demanda, sustentar o intercâmbio comercial e combater a paralisia.

Durante a fase recessiva de 2008-2009, a expansão monetária desempenhou um papel importante no manejo da crise, ajudando economias avançadas e emergentes por igual.

Entretanto, embora as economias emergentes tenham contornado a crise e retomado o crescimento, o G4 continua paralisado, com seus mercados deprimidos e elevado desemprego. Esta situação os levou a persistir com doses ainda maiores de expansão monetária, com o objetivo de reanimar a circulação do crédito e incentivar a demanda.

Antes da crise, os bônus do Tesouro dos Estados Unidos somava entre US$ 700 bilhões e US$ 800 bilhões. Atualmente chegam a mais de US$ 2 trilhões. Mediante a terceira rodada de expansão monetária, iniciada em setembro de 2012, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos se comprometeu a adquirir US$ 40 bilhões mensais de obrigações hipotecárias garantidas, enquanto o desemprego se mantiver acima de 6,5%.

O Banco Central Europeu injetou US$ 637 bilhões para dar liquidez à zona do euro, e a expansão monetária na Grã-Bretanha é calculada em US$ 572 bilhões.

Recentemente, o Banco do Japão iniciou uma manobra expansiva de US$ 1,4 trilhão ao longo de dois anos, para superar a depressiva deflação atual e alcançar a meta de 2% de inflação.

Nestes anos, o balanço dos bancos centrais do G4 aumentaram, de 11% a 12% do produto interno bruto desses países para o atual nível sem precedentes de 23%. Em valores monetários, passou-se de US$ 3,5 trilhões, em 2007, para US$ 9 trilhões atuais.

Como a taxa de juros no G4 está em nível zero e, não obstante, suas economias permanecerem paralisadas, é inevitável que ingentes capitais fluam do grupo para economias emergentes ou em desenvolvimento, em busca de retornos mais altos. Estima-se que cerca de 40% do aumento da base monetária dos Estados Unidos na primeira fase de expansão monetária seguiram esse caminho, enquanto na segunda fase o fluxo é estimado em aproximadamente um terço.

Estes ingentes deslocamentos de capitais têm um impacto importante sobre as economias emergentes e em desenvolvimento. As corporações que têm acesso a crédito de baixo custo estão contraindo elevado endividamento e aumentando sua exposição em moedas estrangeiras. Desta forma, resultam cada vez mais vulneráveis diante de futuros aumentos das taxas de juros e das paridades cambiais nos países desenvolvidos.

Por outro lado, a forte entrada de capitais especulativos nos países emergentes valoriza suas divisas, expande o crédito e causa pressões inflacionárias.

Estes capitais são em grande parte propensos a movimentos repentinos em busca de maiores rendimentos, e sua volatilidade implica um alto risco para as economias receptoras.

A política monetária não convencional do G4 é criticada pelas nações emergentes, incluído o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

A magnitude da expansão monetária do G4 tem consequências sobre a economia global, já que suas moedas – que não são totalmente conversíveis – constituem os pilares do sistema financeiro mundial.

O dólar norte-americano é a principal moeda de reserva mundial e, junto com o euro, a libra britânica e o iene japonês, integra a cesta de divisas que o Fundo Monetário Internacional (FMI) utiliza para a cotação de sua própria “moeda sintética”, os Direitos Especiais de Giro.

Isto explica o papel determinante das moedas do G4 no mercado financeiro mundial e o impacto das expansões monetárias sobre as economias de nosso mundo globalizado e interconectado.

Portanto, é necessário que o G4 atue com grande responsabilidade e trabalhe em conjunto com as economias emergentes para minimizar os efeitos adversos de suas políticas de expansão.

Seria particularmente importante forjar um consenso sobre a prevenção da potencial crise financeira e as alterações que pode infligir às economias em desenvolvimento uma vez que cessem as expansões monetárias e aumentem as taxas de juros no G4.

A retirada repentina de maciços fluxos de capitais é um cenário previsível que é preciso antecipar e controlar.

A crise financeira asiática de 1997-1998 foi disparada, em parte, por uma precedente versão de expansão monetária empreendida pelo Japão após o estouro da bolha imobiliária e da bolsa de valores no começo da década de 1990. Também nessa ocasião, a enorme injeção de empréstimos a juros baixos provocou uma bolha financeira, pressões inflacionárias e instabilidade monetária nas economias asiáticas.

Uma crise maior e mais profunda pode afetar as economias emergentes e em desenvolvimento se os sintomas de risco, que já são evidentes, não forem enfrentados com políticas coordenadas.

O Grupo dos 20 deve considerar esta problemática como uma prioridade de sua agenda.

* Shyam Saran, ex-secretário de Relações Exteriores da Índia, é presidente do Research and Information Systems for Developing Countries (RIS) e membro do Centre for Policy Research em Nova Délhi.