Internacional

Anistia critica bombardeio em hospital

Thalif Deen, da IPS-

O Marrocos também participa da Operação Tempestade Decisiva no Iêmen, com pelo menos seis aviões de combate. Foto: ra.az/cc by 2.0
O Marrocos também participa da Operação Tempestade Decisiva no Iêmen, com pelo menos seis aviões de combate. Foto: ra.az/cc by 2.0

Nações Unidas, 30/10/2015 – O bombardeio contra um hospital no Iêmen, operado pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), equivale a uma “crime de guerra”, denunciou a Anistia Internacional, unindo-se a uma onda de protestos e duras condenações. “O ataque contra o hospital de Haydan parece ter sido um ataque ilegítimo, que causou danos a civis e a outros bens de caráter civil”, afirmou Philip Luther, diretor da organização para o Oriente Médio e a África do Norte.

Luther acrescentou que “os ataques aéreos consecutivos mostram que se visou deliberadamente o centro médico. Mais um dia triste para os civis”. A MSF acusa as forças da coalizão árabe, encabeçada pela Arábia Saudita, de lançarem seis ataques aéreos consecutivos, no dia 26, contra o hospital de Haydan, em Sada.

“Não foi o primeiro ataque contra um hospital de Sada desde o começo, em março, da intervenção da coalizão árabe no Iêmen”, disse a Anistia, que tem sede em Paris. No mês passado, a coalizão saudita havia bombardeado um hospital em Al Shara, em Razih, oeste de Sada, que deixou seis pacientes mortos e outros seis feridos. O pessoal da MSF, que visitou as instalações médicas após o ataque, disse que não havia evidências de que o local fosse usado com fins militares.

No dia 3, um hospital da MSF, na cidade afegã de Kunduz, foi bombardeado por forças norte-americanas, causando a morte de pelo menos 22 pessoas. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se desculpou publicamente por esse fato, mas a MSF insiste na criação de uma comissão internacional que investigue o ataque aéreo contra alguns de seus hospitais no Afeganistão.

Porém, a coalizão liderada pela Arábia Saudita, que enfrenta a insurgência armada huti no Iêmen, negou ter bombardeado o hospital, segundo a rede de rádio e televisão britânica BBC. A agência de notícias Reuters citou a declaração do porta-voz da coalizão árabe, brigadeiro-general Ahmed Al Asiri, de que “não podemos afirmar sem uma investigação”.

Em setembro, também foi bombardeada uma suposta fábrica de bombas, matando 36 civis que trabalhavam, na verdade, em uma unidade engarrafadora de água no norte do Iêmen. Nesse mesmo mês foi lançado outro ataque aéreo contra um casamento, o que enfureceu o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, que condenou o fato, ocorrido no povoado de Wahijah, perto da cidade portuária de Mokha, no Mar Vermelho, que deixou 135 mortos.

O secretário-geral expressou suas mais sinceras condolências e simpatia às famílias das vítimas e desejou rápida recuperação dos feridos.

Ted Lieu, legislador do governante Partido Democrata pelo Estado da Califórnia, pediu urgência aos Estados Unidos para “deixar de colaborar com os ataques aéreos da coalizão árabe no Iêmen, até que esta demonstre que criará as salvaguardas adequadas para evitar mortes de civis”. Em entrevista ao jornal The New York Times, o legislador afirmou que não está claro se a coalizão “foi totalmente negligente ou se tinha intenção de apontar contra os civis. Claramente não existe nenhum valor militar em uma festa de casamento”, ressaltou.

A coalizão de árabe inclui Egito, Jordânia, Marrocos, Sudão, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar e Bahrein.

“Os hospitais e as unidades médicas devem ser respeitados e protegidos em todas as circunstâncias. Só perdem sua proteção frente aos ataques se são usados para fins militares, e a destruição deste centro representa a perda de um tratamento humanitário vital para a população civil de quatro distritos do norte do Iêmen”, advertiu a Anistia Internacional.

O pessoal da MSF confirmou o fato, dizendo que foram testemunhas de dois ataques consecutivos antes de fugirem das instalações do hospital. Depois, foram registrados três ou quatro ataques, com cinco minutos de diferença. Segundo Hassan Boucenine, diretor da missão da MSF no Iêmen, a coalizão árabe tem as coordenadas de todos os hospitais operados pela organização nesse país, incluído o de Haydan.

O diretor do hospital, Ali al Mughli, afirmou que o centro médico ficou totalmente destruído, com exceção dos depósitos. Inclusive, ressaltou que, embora o hospital receba combatentes feridos, carecia de atividade militar no momento do ataque. Envolverde/IPS