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Diplomatas iranianos pagam caro por suas opiniões

Diplomata iraniano Bagher Asadi: foto: Cortesia de Bagher Asadi/Facebook

Nova York, Estados Unidos, 7/5/2013 – Finalmente, passadas sete semanas da detenção do conhecido diplomata iraniano Bagher Asadi, o fato foi confirmado por um funcionário do governo de Teerã, mas sem dar maiores detalhes. “Até onde sei, a pessoa detida é um diplomata de carreira na chancelaria e seu último cargo foi o de diretor do grupo D8”, disse no dia 2 o ex-chanceler Manouchehr Mottaki à agência de notícias semioficial iraniana Isna. “Porém, não estou informado dos detalhes do fato”, acrescentou.

O D8, do qual Asadi era diretor de uma das secretarias, denomina um grupo de nações em desenvolvimento com população de maioria muçulmana aliadas para promover o desenvolvimento econômico. É integrado por Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Malásia, Nigéria, Paquistão e Turquia. Uma fonte próxima à família de Asadi disse à IPS que, desde sua detenção, seus integrantes estão sob pressão das forças de segurança para não comentarem o assunto em público. “Estão preocupados com o fato de falar com a imprensa não ajudar sua situação”, explicou a fonte, que pediu para não ser identificada.

Outra fonte também vinculada à família afirmou à IPS: “Estamos surpresos com o modo como as autoridades iranianas podem deter uma pessoa sem nem mesmo avisar e enquanto estava em sua casa”. A fonte disse que durante a prisão, no dia 12 de março, a casa da Asadi foi invadida e seu computador pessoal e outros artigos pessoais confiscados. “As autoridades prometeram à família libertá-lo dias depois, mas continua na prisão. Passados alguns dias de sua detenção, Bagher telefonou para sua casa e disse que estava bem. Contudo, desde então não há notícias suas, nem sobre as razões da prisão. É preocupante que esteja pressionado e que pretendam dobrá-lo”, pontuou a fonte.

Parece haver confusão oficial sobre o status de Asadi. Ahmad Bakhshayesh, membro da Comissão de Segurança Nacional do parlamento iraniano, informou ao jornal Bahar no dia da prisão: “Em geral, a detenção de um diplomata tem a ver com uma falta que possa ter cometido em seu país de destino ou um assunto político, por exemplo, sobre a questão dos reformistas” (no regime de Teerã).

Especulando sobre o caso e dizendo não ter conhecimento pessoal do assunto, Bakhshayesh acrescentou: “Creio que esta notícia deve estar errada, e a Reuters se equivocou ao publicá-la”. A agência de notícias Reuters publicou, no dia 30 de abril, uma informação sobre a detenção de Asadi, embora o jornalista não tenha confirmado com fontes independentes as denúncias anônimas.

Mohammad Reza Heydari, ex-diplomata iraniano, que passou para a oposição depois da violenta repressão dos protestos pós-eleições de 2009, disse à IPS que fontes da chancelaria lhe confiaram que Asadi teria criticado o presidente Mahmoud Ahmadinejad em reuniões privadas. O vazamento desses comentários pode estar por trás de sua prisão.

“Considerando sua forma de pensar e suas críticas, creio que estão fabricando um caso contra ele. É uma prática comum no regime da República Islâmica”, afirmou Heydari. “O regime iraniano fez o povo de refém. Ele falou sobre os direitos da população e sobre temas da atualidade, o que foi informado a Teerã por pessoas relacionadas com ele. Isso levou ao confisco de seu passaporte e à sua detenção ao chegar” do exterior, acrescentou. Entre seus companheiros de chancelaria Asadi é conhecido como um dos diplomatas iranianos de mais alto nível profissional e foi embaixador junto à Organização das Nações Unidas (ONU).

Em uma profética coluna publicada pelo jornal The New York Times, em janeiro de 2004, Asadi alerta para o grupo conservador que poderia vir após o governo reformista do presidente Mohammad Khatami (1997-2005). “O evidente desprezo pelos direitos humanos dos conservadores e os aspectos republicanos da governança, entre outras coisas, serão um convite, inevitavelmente, à censura externa e complicará mais essa relação já delicada”, escreveu na época.

A missão iraniana junto às Nações Unidas não retornou os reiterados telefonemas da IPS para confirmar a informação sobre a prisão e obter mais detalhes a respeito. Há especulações vinculando a detenção com as próximas eleições gerais de junho, mas Heydari afirmou que a prisão de Asadi é uma prática habitual. “Esta detenção faz parte do tratamento que a República Islâmica dispensa aos seus diplomatas quando externam seus pontos de vista nos países onde estão em missão. Serve de lição para que outros colegas saibam que, caso expressem uma opinião contrária ao sistema governante, deverão assumir sua gravidade”, acrescentou.

A detenção de Asadi se junta à prisão de reformistas e críticos ao longo das últimas semanas, na medida em que se aproximam as eleições de 14 de junho. Funcionários de alto escalão alertaram contra as candidaturas dos ex-presidentes Khatami e Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, acusados de participar da violência que se seguiu às controvertidas eleições de 2009.

Segundo Heydari, o Escritório de Inspeção do Ministério das Relações Exteriores costuma dizer aos seus diplomatas, antes de enviá-los a missões no exterior, que devem se abster de expressar suas opiniões na presença de potenciais inimigos do Estado, já que elas poderiam ser usadas contra o mesmo. “Deveria haver liberdade para falar. Afinal, nas diferentes reuniões as pessoas costumam expressar suas opiniões. Controlar as pessoas em todas as partes e depois questioná-las não é um método sustentável”, ressaltou. Envolverde/IPS