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HIV chega a perigoso limite no Sri Lanka

A falta de informação sobre HIV entre os jovens é um dos fatores da propagação da doença no Sri Lanka. Foto: Amantha Perera/IPS
A falta de informação sobre HIV entre os jovens é um dos fatores da propagação da doença no Sri Lanka. Foto: Amantha Perera/IPS

 

Colombo, Sri Lanka, 5/2/21014 – Quatro mil infecções de HIV em uma população de 20 milhões de habitantes não deveria ser algo difícil de manejar. Mas especialistas no Sri Lanka alertam que os costumes sociais e as rígidas leis impedem que se faça campanhas adequadas de prevenção e conscientização entre os grupos de alto risco.

Apesar das impressionantes baixas taxas nacionais de contágio, há sinais de uma propagação do HIV (vírus causador da aids) nesses setores vulneráveis e em grande parte marginalizados. Esse pequeno país insular do Oceano Índico tem uma baixa prevalência do vírus, segundo estatísticas oficiais. Segundo a última informação do Programa Nacional de Prevenção da Aids, no país há mais de 1.800 infectados, dos quais a esmagadora maioria é de homens (1.080).

Mesmo incluindo os casos não registrados, os infectados chegariam a cerca de quatro mil, disse à IPS o diretor do Programa, Susantha Liyanage. Porém, acrescentou que esses números baixos podem estar ocultando uma situação muito mais explosiva e complexa. “Existe uma verdadeira possibilidade de haver taxas mais elevadas de infecção entre os grupos de alto risco. Já estamos vivendo uma tendência nesse sentido”, acrescentou.

Advertência semelhante consta do Plano Nacional Estratégico Contra o HIV no Sri Lanka 2013-2017, lançado no ano passado. “Certos fatores socioeconômicos e de comportamento detectados no país poderiam desatar uma epidemia no futuro”, alertou. Entre os grupos de risco identificados no Plano estão os homens que fazem sexo com outros homens, os jovens entre 15 e 25 anos, os viciados em drogas injetáveis e os filhos de pessoas HIV positivas.

Especialistas afirmam que, apesar do aumento da conscientização no país nos últimos tempos, a luta contra a aids nos grupos de risco enfrenta o obstáculo das estruturas sociais e legais. “Segundo a lei local, a homossexualidade e o consumo de drogas são crimes, o que torna extremamente difícil trabalhar abertamente com esses grupos”, afirmou à IPS o diretor do Conselho Nacional de Serviços Juvenis, Milinda Rajapaksha.

Por sua vez, Lyanage apontou que a situação é semelhante para as trabalhadoras e os trabalhadores sexuais, identificados como outro grupo de alto risco. “Com todos esses setores temos que ser discretos e utilizar organizações mediadoras para realizar programas de conscientização e prevenção”, ressaltou.

Dos contágios registrados, 80% ocorreram por atividade sexual sem proteção e 4,4% pela transmissão de mãe para filho. Liyanage disse que apesar da existência de serviços pré-natais em toda a ilha a cargo do Ministério da Saúde, o acompanhamento dos casos de mulheres grávidas HIV positivas é muito fraco. O Plano Nacional Estratégico apontou em 2011 que apenas 3% de todas as grávidas haviam feito exame de HIV, ainda que mais de 95% destas tivessem acesso a cuidado pré-natal.

Outro detalhe que chama a atenção é o de que 20% das infecções conhecidas ocorreram na faixa etária entre 15 e 25 anos. Há cinco anos, este grupo respondia por menos de 6% dos contágios. Liyanage explicou que esses dados causam preocupação. “Indicam que os programas de conscientização não são efetivos entre os jovens”, afirmou.

Em novembro de 2013, o governo criou um comitê interministerial, presidido por Liyanage, para redigir novas recomendações destinadas a frear a propagação da doença entre a juventude. O programa oficial de ensino do Sri Lanka não inclui a educação sexual. Rajapaksha afirmou que a falta de informação é um sério problema, pois cada vez mais jovens se tornam ativos sexualmente em idades precoces.

O funcionário também explicou que a política de saúde do país ainda não reconhece a população jovem como uma categoria especial, o que dificulta criar estratégias específicas para o setor. Uma nova Política Nacional de Juventude, que será lançada este mês, recomenda corrigir essa situação.

Rajapaksha ressaltou que os homens homossexuais estão particularmente em risco, já que as convenções sociais os estigmatizam severamente. Nas áreas urbanas, sobretudo na Província Ocidental, organizações da sociedade civil e ativistas ajudam grupos de gays, mas essa tarefa é particularmente difícil em áreas rurais. “Assim, há pouca possibilidade de se realizar campanhas de conscientização em grande escala para esses grupos. A reação negativa do público seria muito grande”, ressaltou.

O ativista gay Asela reconheceu que só pode trabalhar com grupos muito reduzidos de homossexuais, e que quase não existem programas públicos de apoio. “Se você está na rede, a ajuda está rapidamente disponível. Mas não há programas destinados ao público em geral, por meio dos quais possamos alcançar homens ou mulheres homossexuais que não conhecemos”, afirmou.

Segundo pesquisadores há entre 30 mil e 40 mil homens homossexuais no Sri Lanka. As infecções de HIV dentro desse grupo mostraram um firme aumento nos últimos cinco anos. Em 2009, quando o grupo começou a ser estudado, a taxa de contágios era de 0,48%, passando para 0,9% em 2011 e chegando a 12,3% atualmente. Os estudos mostram que os membros deste grupo tinham um grande número de parceiros sexuais, e ao menos um quarto mantinha relações também com mulheres.

Para os grupos vulneráveis do Sri Lanka, o tempo vai acabando. Envolverde/IPS