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Oportunidades de meganegócios seduzem empresários do Brics

Funcionários brasileiros durante uma reunião informativa prévia à Sexta Cúpula do Brics. Foto: Agência Brasil/EBC
Funcionários brasileiros durante uma reunião informativa prévia à Sexta Cúpula do Brics. Foto: Agência Brasil/EBC

 

Fortaleza, Brasil, 16/7/2014 – A crescente vitalidade do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics), que começa a se institucionalizar partindo de realidades muito distantes, parece ter um dos motivos de sua ligação na aproximação de suas empresas. A forte complementaridade de suas economias foi destacada no Encontro Empresarial dos Brics, realizado no dia 14 como parte das reuniões prévias à Sexta Cúpula anual dos cinco mandatários, aberta ontem em Fortaleza e que se encerrará hoje em Brasília.

Mais de 700 empresários participaram dos debates e da mesa de negócios, destinada a impulsionar US$ 3,9 bilhões em contratos nos setores de agricultura, infraestrutura, logística, tecnologia de informação, saúde e energia. O fórum empresarial do grupo das potências emergentes começou a funcionar há cinco anos. Os integrantes do Brics apresentam “uma complementaridade imensa” e seu aproveitamento adequado pode beneficiar muito a todos seus países, disse Marcos Jank, diretor de assuntos corporativos da BRF, uma transnacional brasileira líder em exportações de carnes.

“A China tem um mercado gigantesco e o Brasil uma grande reserva de recursos naturais”, com muita terra produtiva, para abastecer grandes populações”, apontou Jank. É uma forma de ver o que muitos criticam como desequilíbrio comercial, no qual as exportações brasileiras se concentram quase exclusivamente em produtos básicos, especialmente soja e minério de ferro, e importa principalmente manufaturas da China.

Mas a integração de cadeias produtivas e o maior valor agregado na exportação pode se constituir inclusive dentro do negócio agropecuário, observou Jank. Em lugar de soja para alimentar sua produção de carnes, a China poderia importar essas carnes do Brasil, afirmou. Um grande obstáculo para o crescimento do intercâmbio da integração produtiva entre os países do Brics são as barreiras de todo tipo – alfandegárias, para-alfandegárias e técnicas, subsídios e outros mecanismos de proteção que afetam o comércio, principalmente de produtos agrícolas, lamentou.

Jank também lamentou que a Índia mantém tarifas alfandegárias proibitivas, que alcançavam 100% sobre o frango brasileiro, enquanto a África do Sul “está fechada” e a Rússia é um mercado “volátil”, que abre e fecha frequentemente, para as carnes brasileiras. Ainda assim, o comércio entre os cinco países aumentou dez vezes entre 2002 e 2012, alcançando US$ 276 bilhões, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). A participação dos Brics no comércio global dobrou percentualmente, passando de 8% para 16% entre 2001 e 2011.

Dois novos instrumentos que nasceram formalmente na Cúpula contradizem análises que viam o grupo sem possibilidades de integração, por suas diferenças políticas, históricas, níveis de desenvolvimento e inclusive em suas estratégias comerciais. Trata-se do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e do Acordo de Reservas de Contingência (CRA), um fundo conjunto de reservas para enfrentar crises financeiras.

O avanço em poucos anos, a partir de uma sigla surgida em uma análise sobre as economias emergentes, feita por um economista de um banco norte-americano, contrasta com a paralisação de outras coalizões, como  o Fórum Ibas, que reúne Índia, Brasil e África do Sul, e que interrompeu suas cúpulas em 2011.

“O que unifica as potências emergentes do Brics é o poder”, segundo Narinder Wadhwa, diretor-executivo do SKI Capital Services, da Índia. Em conjunto, o Brics tem 46% da população mundial em 26% da terra firme e um produto total que supera o dos Estados Unidos e da União Europeia, em poder de compra, “por isso é natural a cobrança por maior participação nas instâncias decisivas”, acrescentou à IPS. Esse parece ser o combustível para o grupo ter avançado tanto desde sua primeira cúpula em 2009.

Outro fator que dinamiza sua integração são as potencialidades do intercâmbio em matéria de comércio e investimentos nesses países de grandes dimensões e, em conjunto, com quase três bilhões de pessoas, onde as camadas médias consumidoras cresceram aceleradamente nas ultimas décadas. Por isso, Wadhwa se declarou “otimista” em relação ao futuro do que muitos já chamam “bloco”, embora não tenham assinado acordos que justifiquem essa denominação e seus governos sejam reticentes a serem considerados dessa forma.

Mas concretizar essas potencialidades exige pragmatismo, destacaram Sergey Katyrin, presidente do Conselho de Negócios do Brics, e, do mesmo organismo no Brasil, Rubens de La Rosa, que também é diretor-executivo da Marco Polo, uma transnacional produtora de grandes veículos, especialmente ônibus. Cada capítulo nacional do Conselho reúne 25 empresários, que constituem cinco grupos de trabalho, para estudarem as potencialidades de negócios conjuntos em infraestrutura, serviços financeiros, manufaturas, energia e desenvolvimento de capacidades.

Ainda há muito para avançar na aproximação econômica entre os países do Brics, que praticamente se desconheciam mutuamente, segundo estes e outros dirigentes empresariais disseram à IPS. De La Rosa pontuou que, entre as propostas levadas aos governantes em Fortaleza, estava impulsionar o intercâmbio em moedas nacionais, porque isso “baratearia os custos de transação” e poderia servir para o comércio e os investimentos.

Facilitar vistos para visitas de empresários, harmonizar normas técnicas, intensificar a comunicação entre as empresas dos diferentes países e superar barreiras, inclusive as burocráticas, eram outras recomendações de Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), organizadora do Fórum no Brasil.

A principal preocupação dos empresários brasileiros do setor industrial é o desequilíbrio no comércio do país com seus sócios, que chegou a US$ 101 bilhões em 2013, o que representa 21% do fluxo comercial do Brasil. Porém, mais de 70% das exportações brasileiras para China, Índia, Rússia e África do Sul se limitam a soja, minério de ferro e petróleo, enquanto no sentido contrário 95% do que o Brasil importa desses países são produtos manufaturados, segundo a CNI. Envolverde/IPS