Arquivo

Bloqueio contra a Otan afeta os afegãos

Militantes do PTI param caminhões na fronteira. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS
Militantes do PTI param caminhões na fronteira. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 2/12/2013 – O bloqueio no Paquistão dos suprimentos destinados às forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em território afegão, impulsionado pelo jogador de críquete Imran Jan, líder do Pakistan Tehreek Insaf (PTI), está afetando duramente o comércio fronteiriço, alertam empresários e caminhoneiros. Eles afirmam que essa mobilização prejudica particularmente os cidadãos comuns afegãos, já que paralisa também a entrada de alimentos e outros insumos básicos através da província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa.

“Na realidade, o protesto do PTI não afetou as forças da Otan, mas os comerciantes locais e os cidadãos comuns no Afeganistão, que sofrem as consequências”, disse à IPS o presidente da Associação de Todos os Caminhões e Reboques do Paquistão, Naseem Shinwari. No dia 23 de novembro, Imran Jan anunciou um bloqueio contra os suprimentos enviados para as forças da Otan através da província de Jyber Pajtunjwa, onde seu partido lidera a coalizão do governo, em protesto pelos ataques dos Estados Unidos com aviões não tripulados – drones – contra combatentes islâmicos, que muitas vezes matam civis inocentes.

Essa província é uma das duas rotas terrestres paquistanesas (a outra é o Balochistão) usada para o transporte de suprimentos para os cem mil soldados da Otan no Afeganistão. Entretanto, o comércio regular fronteiriço é que se vê afetado. Shinwari disse que o número de caminhões da Otan que entram diretamente no Afeganistão, vindos de território paquistanês, é de apenas 500, dos quais 400 passam pelo Balochistão. “Mensalmente, entre dez mil e 12 mil caminhões passam por Jyber Pajtunjwa e pela Agência Jyber rumo ao Afeganistão, levando produtos aos mercados comerciais. Isso também inclui suprimentos permitidos pelo Acordo Afegão de Trânsito Comercial (ATTA)”, detalhou.

Os protestos não causaram apenas uma escassez de bens e alimentos no Afeganistão, país assolado pela guerra, mas também colocaram em risco os empregos de aproximadamente 50 mil caminhoneiros, ajudantes e carregadores que dependem desses transportes. Muhammad Rafi, caminhoneiro local, denunciou que foi maltratado por militantes do PTI em Peshawar, no dia 24 de novembro, segundo dia dos protestos contra os drones, apesar de ter documentação certificando que sua carga não era destinada às forças da Otan. “Recebo US$ 200 por mês para dirigir ida e volta ao Afeganistão, mas este mês o patrão só me pagará 20 dias, porque meu trabalho diminuiu”, contou.

Militantes do PTI inspecionam cada veículo que passa por cinco pontos de trânsito (Peshawar, Nowshera, Jairabad, Swabi e Dera Ismail Jan), obrigando a parada dos caminhões com mercadorias, pontuou Rafi. O ATTA habilita o transporte de mais de 20 artigos para o Afeganistão desde o Paquistão. As mercadorias chegam a dois portos marítimos de Karachi, de onde são enviadas em caminhões para diferentes cidades afegãs, explicaram os comerciantes.

Jamal Khan Afridi, agente de aduanas para os caminhões da Otan, alertou que a situação pode se transformar em bola de neve, pois o bloqueio causou atraso de mais de 20 mil caminhões no porto de Karachi. “Cerca de cinco mil caminhões da Otan foram incendiados pelo movimento radical islâmico Talibã nos últimos cinco anos, e agora os militantes do PTI nos bloqueiam”, disse à IPS.

Shamsur Rehman, proprietário de cinco caminhões que transportam suprimentos para a Otan, tirou de circulação seus veículos. “Os militantes do PTI estão detendo à força os caminhões. Instalaram arame farpado. Houve confrontos entre motoristas e manifestantes”, disse à IPS. Porém, o líder do PTI em Peshawar, Younas Zaheer Mohamand, afirmou que só são parados os caminhões da aliança ocidental, e permitida a passagem dos que transportam produtos comerciais.

“Em quatro dias detivemos cerca de duas dúzias de caminhões com suprimentos para a Otan, enquanto foi permitida a passagem diária por nossa fronteira de aproximadamente 200 veículos comerciais. Não estamos detendo o fornecimento de mercadorias, porque são legalmente enviadas aos nossos irmãos afegãos”, detalhou Mohamand. Porém, os comerciantes denunciam uma situação diferente. “Mais de três mil contêineres estão esperando para cruzar a fronteira para Cabul via Peshawar, mas os manifestantes impedem. Também estão enfrentando os motoristas”, disse à IPS o presidente da Câmara de Comércio e Indústrias de Jyber Pajtunjwa, Zahidullah Shinwari.

O empresário disse que, pelo ATTA, o Paquistão está obrigado a facilitar a passagem de caminhões para o mercado do Afeganistão, que não tem saída para o mar e depende dos portos paquistaneses. Alertou também que os mercados afegãos poderão ficar sem produtos alimentícios e eletrônicos se o protesto continuar. E não parece haver solução imediata. Ishtiaq Urmer, porta-voz do PTI em Jyber Pajtunjwa, disse que o protesto continuará enquanto os Estados Unidos seguirem usando os drones. “Estamos permitindo todas as atividades legais porque não queremos dar nenhum passo inconstitucional. Mas Washington não tem nenhum direito de matar inocentes. Queremos dizer à comunidade internacional que os ataques com drones são uma violação do direito internacional”, destacou. Envolverde/IPS