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Abrindo caminho para o comércio justo

Cidade da Guatemala, Guatemala, 12/7/2011 – “Começamos com dez organizações e agora temos 22 cooperativas com mais de 19 mil integrantes que cultivam e exportam com um enfoque ambiental, social e econômico”, disse, entusiasmado, Marvin López, da Coordenadoria Guatemalteca de Pequenos Produtores de Comércio Justo. Na América Central, milhares de cooperativistas optaram pelo esquema de comércio justo, cujos princípios defendem a proteção ambiental, igualdade de gênero, respeito aos direitos humanos e pagamento de preços que permitam um modo de vida digno para os produtores, entre outros benefícios.

A Coordenadoria Guatemalteca produz por ano 289.460 quintais (1 quintal = 46 kg) de café e 830 toneladas de açúcar, que são exportados principalmente para Estados Unidos e Europa, cuja renda representa uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida de mais de cem mil pessoas. “Buscamos uma oportunidade para as organizações de pequenos produtores na geração de renda com o acesso ao mercado especial diferenciado que tem um enfoque social e econômico”, disse à IPS López, produtor de café do norte do país.

O caminho percorrido não foi fácil. A falta de financiamento, acesso a tecnologia, infraestrutura para a produção e conhecimentos de mercado são parte de uma longa lista de limitações que os impedem de crescer diante do monstro do comércio global. “Temos de ser competitivos e trabalhar bastante nestes aspectos para garantir uma boa produção e um abastecimento com os clientes”, acrescentou López. Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e Belize reúnem 43 milhões de habitantes, dos quais 40% vivem na pobreza.

“O comércio justo vem favorecer os pequenos produtores porque garante um preço mínimo do produto e proporciona um pequeno incentivo”, disse à IPS Nelson Guerra, da Coordenadoria Hondurenha de Pequenos Produtores de Comércio Justo. O cooperativista recordou que, em 2000, durante a crise do café, os preços do quintal do grão caíram até US$ 43 na bolsa de valores de Nova York. No entanto, as cooperativas certificadas de comércio justo o vendiam a US$ 135. “O comércio justo é, para os pequenos agricultores, um seguro da venda de sua produção que sempre está acima de seus custos e que gerará lucro para manter sua família o resto do ano”, explicou Guerra.

A isto se deve o empurrão que teve nesse país o comércio justo, a ponto de, enquanto em 2002 eram produzidos cerca de cinco mil quintais sob este esquema, atualmente são 200 mil, de acordo com o pequeno empresário. Contudo, este ramo do comércio ainda é ínfimo se comparado com o comércio global na região. Segundo Guerra, dos mais de cinco milhões de quintais de café produzidos em Honduras por ano, apenas 5% são comercializados sob este esquema, enquanto o restante se dá pelo modo tradicional, uma situação semelhante à de seus vizinhos.

“Isto decorre, basicamente, de duas coisas: 80% da cafeicultura em Honduras está nas mãos de pequenos produtores e é difícil organizar-se. Dos 105 mil cafeicultores, apenas dez mil estão organizados em cooperativas”, disse Guerra. Por outro lado, “falta acesso a financiamento porque a produção agrícola no mundo necessita de recursos, mas em Honduras, país com vocação agrícola, apenas um banco privado financia 80% da produção de café”, acrescentou.

A Costa Rica compartilha os mesmos desafios. “Em relação ao comércio global do país, ocupa uma porcentagem muito pequena nas exportações, mas aos poucos aumentam suas vendas externas e o número de mercados para onde enviam seus produtos”, disse à IPS Sonia Murillo, da Coordenadoria Nacional de Comércio Justo da Costa Rica. Alguns cooperativistas estimam que a produção destinada ao comércio justo nesse país, principalmente café, cana-de-açúcar, frutas frescas, cacau e banana não chega a 1%. Entretanto, “reúne muitos pequenos produtores organizados em cooperativas e associações que melhoraram sua condição e as de suas comunidades”, segundo Murillo.

Fatores como mudança climática, comércio global e falta de políticas públicas impedem o progresso das pequenas empresas, que veem no comércio justo “uma tábua de salvação”, porque oferece um tratamento diferenciado, disse Murillo. Segundo economistas, há um aspecto muito importante para que o comércio justo possa se expandir, que é o subsídio que deve ser eliminado por parte das grandes economias mundiais.

“Os grandes exportadores de alimentos do mundo, como Estados Unidos e União Europeia, pagam subsídios à sua produção agrícola e isso não nos permite competir nesses mercados”, disse à IPS Pablo Urrutia, da não governamental Associação de Pesquisa e Estudos Sociais. O especialista também defende a intermediação comercial, reduzida ao mínimo no comércio justo. “Há muitas pessoas que não têm acesso a mercados porque não possuem intermediários, quando estes são mecanismos que facilitam o comércio”, afirmou. Urrutia também considera importante outros fatores, como competitividade, melhoria das aduanas e fortalecimento dos tratados de livre comércio, porque “o comércio justo tem aqui imensas possibilidades”. Envolverde/IPS